Em pregão marcado por instabilidade e troca de sinais, sobretudo ao longo da tarde, o dólar à vista fechou cotado a R$ 4,9814, em baixa de 0,10%. As oscilações foram contidas, de pouco menos de quatro centavos entre a mínima (R$ 4,9598) e a máxima (R$ 4,9959), ambas registradas pela manhã. Na semana, a moeda acumula valorização de 1,58%, o que leva os ganhos no mês a 5,33%.
Como nas sessões anteriores, o comportamento da moeda americana no exterior teve papel preponderante na formação da taxa de câmbio. Na primeira etapa de negócios, o sinal predominante foi de baixa, com realização de lucros e retomada do preços de commodities. Após três dias de queda, o petróleo fechou em alta, com o tipo Brent com valorização de 0,80%, a US$ 84,12 o barril. O governo chinês interveio por meio de bancos para sustentar o yuan, prometeu medidas para amparar o setor imobiliário e reiterou o compromisso com crescimento econômico.
Já havia pela manhã, contudo, um ambiente de mau humor nas bolsas globais, em meio à nova rodada de alta das taxas dos Treasuries longos, que se acentuou à tarde. A T-note de 10 anos superou os 4,30% e atingiu o maior nível desde novembro de 2007. Divulgada ontem, a ata do encontro de política monetária do Federal Reserve de julho reforçou a perspectiva de juros em níveis restritivos por mais tempo nos EUA.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – operava praticamente estável no fim da tarde, após tocar máxima aos 103,498 pontos. No mês, sobe, mais de 1,5%. A moeda americana avançou em relação a divisas de países exportadores de commodities desenvolvidos, como o dólar australiano, e apresentou leve recuo na comparação com a maioria das divisas emergentes.
Segundo operadores, após a forte rodada de depreciação das moeda latino-americanas, incluindo o real, houve hoje uma pausa para ajuste de posições com retomada das commodities. Por aqui, o dólar respeitou mais uma vez o nível psicológico de R$ 5,00, visto pela última vez no fechamento em 1º de junho deste ano. Apesar do avanço em agosto, a moeda americana ainda recua 5,66% na comparação com o real em 2023.
"O mercado local está nos últimos dias em clara sintonia com o ambiente externo, com aversão ao risco e busca por dólar nos últimos dias. As taxas dos Treasuries sobem e existe muita descrença com a capacidade do governo chinês de evitar uma desaceleração da economia", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, acrescentando que, após a rodada recente de depreciação do real, o mercado tenta buscar um novo ponto de equilíbrio.
O Banco do Povo da China (PBoC) prometeu apoio financeiro para governos locais endividados e moradia popular, em meio a sinais crescentes de estresse no setor imobiliário, que pode respingar no sistema financeiro. A Zhongzhi Enterprise, conglomerado financeiro que administra mais de 1 trilhão de yuans (US$ 138 bilhões) e tem grande exposição ao segmento imobiliário, afirmou a investidores que enfrenta problemas de liquidez e que vai realizar uma reestruturação de sua dívida. Fontes afiram que uma das empresas controladas pela Zhongzhi deixou de fazer pagamento de dezenas de produtos de investimento desde o fim de julho.
O economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, observa que nos últimos 30 anos a moeda americana se valorizou praticamente em relação a todas as divisas, sejam de mercados emergentes ou desenvolvidos. "É normal que, em momentos de aumento de incerteza, o mercado busque a segurança do dólar, mesmo após o recente downgrade da nota de crédito da dívida americana e aumento do déficit fiscal do país", afirma Oliveira. "Mantenho o cenário de que as economias latinas, e o Brasil em especial, estão muito bem posicionadas. Após os ruídos atuais, o real e outras moedas da região devem voltar à tendência de apreciação".