O vaivém da percepção de risco no exterior ao longo do dia, em meio aos desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia e ao anúncio de sanções econômicas, fez com que o dólar à vista tivesse um pregão instável nesta terça-feira, 8, com várias trocas de sinais. A margem de oscilação, contudo, foi modesta, com o dólar correndo apenas cerca de seis centavos entre a mínima (R$ 5,0452) e a máxima (R$ 5,1005).
No fim da sessão, o dólar à vista fechou a R$ 5,0532, em queda de 0,52% – o que levou a desvalorização acumulada em fevereiro a 1,99%. O dólar futuro para abril, que havia subido com força no fim da sessão da B3 ontem, quando o mercado à vista já havia fechado, operou em queda firme ao longo do dia, com giro forte, acima de US$ 17 bilhões.
Segundo operadores, o pregão foi marcado por muita cautela, dado o grau de incerteza em relação à duração do conflito militar e à magnitude dos impactos das sanções à Rússia sobre a economia mundial. O petróleo subiu mais uma vez, com o contrato tipo Brent para maio fechando a US$ 127,98 (+3,87), depois de tocado US$ 133,15 na máxima.
Como esperado, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou no início da tarde a proibição de importação de petróleo e gás da Rússia. Biden disse que a decisão foi tomada em conjunto com aliados, mas admitiu que países europeus, mas dependentes das fontes energéticas russas, não podem ir pelo mesmo caminho. O Reino Unido disse que pretende acabar com a dependência do petróleo da Rússia "ao longo de 2022".
Analistas dizem que a taxa de câmbio estaria sob forças opostas. Temores de desaceleração da atividade econômica global com inflação elevada, que resultariam na temida estagflação, e aversão ao risco externa tendem a pressionar o dólar. De outro lado, a alta das commodities, que favorece exportações brasileiras, e os juros reais elevados estimulam a entrada de moeda estrangeira.
Segundo a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, as restrições ao petróleo russo pelo Estados Unidos tendem a adicionar ainda mais pressão sobre a inflação global. Por aqui, o BC precisará "ajustar ainda mais para cima" os juros para conter a escalada dos preços. "Isso pode acabar trazendo mais fluxo para o país, porque o diferencial de juros aumenta, beneficiando o real", diz Quartaroli, ressaltando que as incertezas relacionadas à guerra mantêm a volatilidade elevada.
Casas como XP, Bradesco, BNP Paribas e Bank of America revisaram para cima projeções para o IPCA neste ano. No caso do Bradesco, por exemplo, a expectativa para o índice oficial de inflação em 2022 subiu de 5,4% para 6%, ao passo que a projeção para a taxa Selic, hoje em 10,75% ao ano, passou de 11,75% para 12,75%.
Nas mesas de operação, há também quem já aponte para eventual reação da taxa de câmbio ao aumento da percepção de nova guinada populista do governo Jair Bolsonaro, em meio a iniciativas do governo para tentar impedir que a alta do petróleo no mercado internacional se traduza em aumento dos preços dos combustíveis no mercado interno. Fontes disseram ao Broadcast que a reunião de ministros no Palácio do Planalto para tratar do tema terminou sem resolução.
Na avaliação do time de macroeconomia e estratégia do BTG Pactual, o aperto das condições monetárias nos países desenvolvidos e ações do governo que podem ter impacto fiscal "tendem a limitar a entrada de dólares para a busca de ativos de valor no mercado de ações e para a realização de trades de carrego". Além disso, a corrida eleitoral doméstica e possível crescimento da incerteza a partir de conflito na Europa sugerem que o real perca força nos próximos meses.
"O piso de R$ 5,00 do câmbio, impulsionado pelo forte fluxo financeiro estrangeiro, nos parece ter ficado no passado, mas isto não significa que o real ainda não encontrará patamares favoráveis neste ano", afirma, em relatório, a equipe BTG. "Esperamos que a moeda siga com uma cotação média próxima de R$ 5,20 até o final do segundo trimestre, quando o fortalecimento do dólar e o quadro eleitoral devem conduzir a moeda para R$ 5,40".
Do lado técnico, o head de câmbio da HCI Invest, Anilson Moretti, trabalha com um suporte forte do dólar entre R$ 4,99 e R$ 5,00 – patamares que, se rompidos, abriram espaço para taxa de câmbio operar de forma sustentada abaixo de R$ 5,00 e descer até perto de R$ 4,80. "A resistência está entre R$ 5,20 e R$ 5,25", afirma Moretti.