Após a queda de 1,01% na segunda-feira, o dólar apresentou comportamento volátil nesta terça-feira, 17, com trocas de sinal ao longo do dia, em meio à divulgação de indicadores fortes da economia norte-americana e dúvidas sobre os desdobramentos geopolíticos da guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas. Com mínima a R$ 5,0105 e máxima a R$ 5,0658, ambas registradas pela manhã, a moeda encerrou a sessão desta terça-feira cotada a R$ 5,0353, em queda de 0,04%.
Após a onda de apetite ao risco na segunda-feira, o ambiente externo se mostrou nesta terça mais conturbado. Houve nova rodada de estresse das taxas dos Treasuries. A taxa da T-note de 10 anos voltou a superar o nível de 4,80%, com máxima em 4,86%. A alta das taxas teve início pela manhã com a leva de dados dos EUA e se acentuou à tarde diante de impasse político no Congresso norte-americano. As vendas no varejo americano subiram 0,7% em setembro, bem acima das expectativas (0,3%). Já a produção industrial avançou 0,3% em setembro, enquanto a previsão era de queda de 0,1%.
Nos EUA, o deputado republicano Jim Jordan, aliado do ex-presidente Donald Trump, não conseguiu obter votos suficientes para ser eleito presidente da Câmara dos Representantes dos EUA – o que eleva as incertezas em relação a um acordo sobre o Orçamento para evitar o risco de paralisação do governo (shutdown) em novembro. Isso em um momento no qual o Tesouro americano aumenta a emissão de títulos e tem que rolar a dívida pagando juros mais elevados.
O head de gestão da Nova Futura Asset, Christian Lupinacci, observa que o real se comportou melhor que outros ativos locais, uma vez que o Ibovespa recuou e as taxas de juros futuros apresentaram alta firme. Ele ressalta que os fundos multimercados nacionais ainda carregam posições expressivas "vendidas" em dólar no segmento futuro (que ganham com a baixa da moeda americana), o que dá certo suporte ao real.
"Houve um estresse pela manhã com as vendas no varejo nos EUA e no meio da tarde com Treasuries, mas o dólar voltou a cair. Temos pontos favoráveis ao real, como balança comercial muito forte e a percepção de que o Banco Central brasileiro não vai acelerar o ritmo de cortes da Selic", afirma Lupinacci, acrescentando que a preservação de taxa real doméstica elevada, dado o arrefecimento da inflação, tende a atrair fluxo estrangeiro."Fazer grandes previsões de tendência com juro longo americano em alta e a guerra é dar um tiro no escuro. As alocações têm que ser mais de curto prazo".
Nos EUA, houve ligeiro recuo das chances de manutenção da taxa básica americana na reunião de política monetária do Banco Central em novembro, da casa de 93% para pouco menos de 90%. O presidente do Fed de Richmond, Tom Barkin, disse que vê "progresso" na luta contra a inflação e uma economia "bem mais avançada no processo de normalização da demanda do que muitos indicadores diriam".
Além das apostas em torno do aperto monetário e do risco de um shutdown nos EUA , pesa sobre os mercados a incerteza geopolítica. Notícias de bombardeio a hospital na Faixa de Gaza com morte de civis acirraram os ânimos. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, cancelou sua participação na reunião com o presidente americano, Joe Biden, e com outros líderes do Oriente Médio.
"O dia foi de volatilidade elevada, com pressão pela manhã com dados americanos. Em seguida o dólar chegou a se aproximar da marca psicológica de R$ 5,00 na mínima, mas logo retomou o movimento de alta e chegou a superar R$ 5,05", afirma o operador Thiago Lourenço, operador da Manchester, que vê possibilidade de uma pressão maior vendedora caso o PIB chinês do terceiro trimestre, que será divulgado nesta terça à noite, surpreenda para cima.