O estilista Reinaldo Lourenço abriu o quarto dia de desfiles da São Paulo Fashion Week com uma coleção diferente. Número 1: ele deixou de lado as criações minimalistas das últimas temporadas para investir exatamente no oposto: o decorativismo. O preto, por exemplo, pontuou apenas alguns looks, perdendo espaço para as cores e as estampas geométricas que reinaram na passarela. Número 2: suas peças vieram mais leves, femininas e enfeitadas, com bordados requintados e brincos grandes, que desde já são candidatos a hit da temporada.
“A inspiração surgiu no ápice de uma viagem a Portugal. Estava em um barco de uma amiga, com o pôr do sol maravilhoso tingindo o céu azul e o mar de vermelho, roxo, laranja. Então, ela colocou a música Mar de Deus”, conta ele. “Pronto: saí dali até com a trilha do desfile na cabeça.” A coleção representou uma guinada criativa.
“O Reinaldo não queria ficar preso ao clima de crise fazendo roupa simples. Ele preferiu trazer uma coleção vibrante e otimista para espantar o mood de recessão”, diz a editora de moda Flavia Lafer, que assina o styling do desfile. As estampas inspiradas na azulejaria portuguesa deram charme às saias mídi com camisas de seda e um ar dos anos 1970. Os vestidos (tanto os de festa quanto os casuais) com patchworks de listras também se destacaram em um trabalho manual muito refinado.
Cores, brilhos, estampas e transparências, por sinal, tomaram as passarelas ontem. “Não adianta remar contra a maré, a brasileira é uma mulher que gosta de cores e gosta de estampas. Isso é uma questão cultural, não apenas comercial. E os estilistas hoje estão realmente em busca dessa sintonia”, diz Daniela Falcão, diretora de redação da revista Vogue Brasil.
O ponto de partida para a coleção da Coven, marca mineira que estreou na SPFW, foi uma sala de estar. Decorada com móveis dos anos 1950 e 1960, todos de jacarandá, esculturas pinturas de Le Corbusier e tapeçarias do Genaro de Carvalho, esse ambiente virou mote para a criação. A marca, que é conhecida pelo seu tricô, criou estampas lindas que reproduziam veios de madeira.
Outra marca mineira que brilhou foi a Apartamento 03. Com bordados sofisticados e manuais (alguns vestidos demoram 45 dias para ficar prontos), o estilista Luiz Cláudio teve o insight da coleção folheando a revista Vanity Fair, que trazia na capa a transgênero Caitlyn Jenner. “Achei muito significativo o fato de ela estar sempre muito bem vestida nas fotos”, diz ele, que caprichou na alfaiataria, transformou ternos em vestidos e trouxe o personagem Orlando, de Virginia Woolf, para o centro de sua mesa de costura. “Gente, o mundo mudou!”, diz.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.