Ao ver a delicadeza de Jacqueline Sato é impossível imaginar que ela seja capaz de manipular uma furadeira, uma serra e até um torno. A habilidade nos instrumentos de reforma foi recém-descoberta. Na semana passada, quando gravou as primeiras cenas na pele de Yumi Tanaka, sua personagem na novela Sol Nascente, substituta de Êta Mundo Bom!, ela precisou colocar a mão na massa. Ou melhor, nas ferramentas.
“Todos falaram que fui bem, que parecia que eu fazia isso há anos. Espero que passe essa mesma impressão quando a novela for ao ar”, disse a atriz ao E+, em entrevista realizada por e-mail. Além de aprender a usar os instrumentos, ela ainda fez aulas de surfe e stand-up paddle.
Yumi terá grande destaque na trama. Será prima-irmã e melhor amiga de Alice (Giovanna Antonelli), protagonista da história, e servirá de conselheira amorosa, mesmo não tendo grandes esclarecimentos sobre suas próprias emoções. É uma artista plástica, que tem como hobby alguns esportes aquáticos, e se envolverá em um triângulo amoroso com os personagens dos atores Márcio Kielling e Marcello Melo Jr.
“Com quem ela fica, e se ela fica com um dos dois nem eu sei ainda. Tudo depende de como a trama vai se desenrolar. Mas o drama da Yumi é sua vida amorosa mal resolvida”, explica.
Quem é Yumi Tanaka?
A Yumi é uma pessoa solar, alto astral, maleável, que carrega consigo muito da filosofia japonesa. Nascida no Japão, trouxe na bagagem muitos costumes de sua terra natal, como o budismo, que pratica e norteia muitos traços da sua personalidade. Chegou no Brasil ainda criança e adquiriu hábitos bem brasileiros, inclusive o jeito de ser mais caloroso. Pratica surfe e stand-up paddle nas suas horas vagas. E trabalha como artista plástica, sendo o bambu a matéria-prima principal de suas obras. Logo que perdeu o pai, Yumi, os irmãos Hideo (Paulo Chun), Hiro (Carol Nakamura), e a mãe, Mieko (Miwa Yanagizawa), migraram do Japão para o Brasil e passaram a viver com o tio Tanaka (Luis Melo) e Alice (Giovanna Antonelli). Entre os irmãos, é a mais madura e equilibrada. Alice e Yumi são primas-irmãs e possuem uma cumplicidade enorme, se conhecem tanto que, às vezes, não é nem necessário falar, basta um olhar para que a outra leia exatamente o que está se passando. Ela é centrada e ótima conselheira da vida afetiva dos outros, mas quando se trata dela mesma se confunde toda.
Qual será o drama de Yumi em Sol Nascente?
A Yumi, diferente da Alice, não acredita na amizade entre homem e mulher. Como ela mesma diz, pelo menos não com ela, pois ela “sempre acaba metendo os pés pelas mãos”. Isso de confundir uma possível amizade com romance irá se repetir na vida de Yumi. Em um dado momento sua arte será descoberta por um marchand, o Bernardo (Marcio Kieling), e ela irá se encantar por ele. Ao mesmo tempo, ela conhece o pescador Tiago (Marcello Melo Jr.) e, tanto ela quanto ele, percebem que há algo especial ali. Com quem ela fica, e se ela fica com um dos dois nem eu sei ainda. Tudo depende de como a trama vai se desenrolar. Mas o drama da Yumi é sua vida amorosa mal resolvida.
Como foi sua entrada na novela?
Há um ano fui consultada pelo Walter Negrão para a novela. Fiquei muito feliz por ele ter lembrado de mim. É uma honra poder dar vida a uma obra dele. Tenho um carinho especial por algumas de suas obras como, por exemplo, A Casa das Sete Mulheres, que assisti inteirinha. É muito gostoso saber que hoje estou fazendo uma novela dele. Ao se aproximar da pré-produção da novela passei por dois testes. Um deles já com um texto da Yumi. No dia seguinte deste segundo teste, ligaram pra minha agente dizendo que eu teria que fazer uma leitura. Fui no horário marcado crendo que seria mais uma etapa, chegando lá estavam todos reunidos: Frida Ritcher, Walter Negrão, Suzana Pires, Julio Fisher, Léo Nogueira e Marcelo Travesso, para me darem a boa notícia. Foi uma surpresa maravilhosa!
Yumi será artista plástica e praticante de esportes aquáticos. Você sabia pintar um quadro, surfar ou fazer stand-up paddle? Como foi aprender estas atividades?
Já havia praticado o stand-up algumas vezes e adoro. O surfe está sendo algo novo e estou me dedicando bastante para aprender. Tenho feito aulas semanalmente. Brinco que uni o útil ao agradável, pois sempre quis aprender a surfar, e agora chegou a hora. Nessa parte das artes plásticas e design não tinha tido grandes experiências. Meu ápice foi na aula de artes na escola (risos). Estou aprendendo tudo do zero. Gravamos na semana passada as primeiras cenas da Yumi em seu ateliê. Foi muito legal. Usei serra, torno e furadeira pela primeira vez na vida (risos). Mas todos falaram que fui bem, que parecia que eu fazia isso há anos. Espero que passe essa mesma impressão quando a novela for ao ar. É uma delicia poder desenvolver a cada personagem, habilidades novas. São diferentes universos que vamos descobrindo, adentrando e nos apropriando. Para mim, esse aprender e se apropriar é um dos maiores prazeres em ser atriz.
Tem alguma história curiosa ou engraçada destes treinos?
Ah, muitos caldos que renderiam muitas vídeo-cassetadas durante as aulas de surfe… E eu “me sentindo”, usando o torno e a furadeira. São ferramentas que eu nunca tinha usado antes, então me empolguei. Fiquei treinando sem parar, mesmo entre takes.
Uma das tramas da novela é sobre a cultura nipônica no Brasil. Como descendente de japonês, acredito que conheça bem a cultura de seus antepassados. Neste processo de gravações, existe algo sobre os orientais que vc não sabia e tomou conhecimento por causa da novela?
Ainda não. Mas tenho certeza que mais pra frente aparecerá algo que não conheço. Estão fazendo uma bela pesquisa sobre as tradições japonesas.
Como você vê o mercado de trabalho para atores de traços orientais?
Acho que somos uma etnia que vem conquistando seu espaço dentro do audiovisual e do entretenimento em geral. A novela é mais um sinal disso. O ideal é que passe a ser mais frequente vermos um oriental interpretando um papel que poderia ser feito por alguém de qualquer outra etnia.
Nas raras vezes em que atores orientais são convocados para novelas, acabam ocupando papéis bastante específicos, na maioria das vezes. Isso lhe incomoda?
Acho que faz parte dar vida a estes personagens específicos. Só não acho que tenha que se reduzir a isto. Atores orientais também podem interpretar personagens que não tenham, necessariamente, que reforçar a cultura oriental. Afinal de contas, a imigração aconteceu ha mais de 100 anos, temos quartas, talvez até quintas gerações de descendentes nascidos aqui, muitos que nem sequer seguem grande parte dos costumes.
Vê algum tipo de preconceito neste sentido?
Creio que preconceito, seja ele do tipo que for, é algo que só tende a diminuir. Cada vez tem menos espaço para esse tipo de comportamento. Que cada vez tenhamos mais representantes de todas origens étnicas nas telas e nos palcos!
Além da novela, você está no filme Talvez Uma História de Amor e a reta final das gravações deste filme irão coincidir com a agenda da novela. Como fará para conciliar? Você também irá a Nova York gravar as cenas finais do filme?
Sim, estou no filme. E muito orgulhosa de fazer parte dele, ao lado de um casting maravilhoso, que conta com nomes como Mateus Solano, Gero Camilo, Marco Luque, Nathalia Dill, Totia Meirelles, Paulo Vilhena, Thaila Ayala, Bianca Comparato e vários outros. O filme conta com a direção sensível do Rodrigo Bernardo, de quem eu virei fã e também namorada. Pelo vídeo não oficial e alguns frames, é diferente de tudo que já vi dentro do cinema nacional. É um filme de personalidade, com uma linguagem única e marcante, que mostra nitidamente o cuidado que o diretor teve em cada cena. Estou com uma ansiedade boa para filmar novamente. Este é meu primeiro longa e eu não poderia começar melhor, sou muito grata por este trabalho, que é também a realização de um sonho, finalmente fazer cinema, que é de onde veio toda essa vontade de ser atriz. Não vou para Nova York filmar, infelizmente. Mas filmo em São Paulo no terraço do edifício Martinelli, em setembro. Será apenas uma noturna, na festa de aniversário da minha personagem, Carol.