Estadão

Em áudio, conselheiro diz que empresa da Ucrânia viu desinteresse de SP

Um áudio enviado por um conselheiro da empresa ucraniana Antonov ao consultor brasileiro que conversou com o secretário de Negócios Internacionais de São Paulo, Lucas Ferraz, indica que a fabricante de aeronaves avaliou que não havia interesse do Executivo paulista em celebrar parceria para investimentos no Estado.

Na gravação obtida pelo jornal <b>O Estado de S. Paulo</b>, Oleksandr Nykonenko, que foi embaixador da Ucrânia no Brasil, diz ser "inconcebível" e "incompreensível" que o governo de São Paulo tenha exigido que a Antonov formalizasse a aproximação com o Palácio dos Bandeirantes por meio de uma carta-convite.

Na semana passada, o caso gerou tensão entre a gestão de Tarcísio de Freitas e o governo Luiz Inácio Lula da Silva, após comunicado da Secretaria de Negócios Internacionais indicar que a negociação teria sido travada por declarações do petista sobre a guerra na Ucrânia.

"Segundo a lógica, é a parte brasileira que deveria estar interessada em atrair os investimentos. Para mim é inconcebível, incompreensível, porque nós temos que enviar uma nota solicitando audiência com o senhor governador", afirma Nykonenko no áudio. "Se o senhor tem acesso ao senhor governador, pode lhe explicar que eu, o primeiro embaixador da Ucrânia no Brasil, está disposto a falar com o governador por telefone e lhe explicar quais são as intenções da parte ucraniana para receber esse convite formal. Porque o convite mesmo não vale nada. O que vale é o interesse. Segundo as suas ações (do governo de São Paulo) eu vejo que não há interesse por parte do governo", continua. "Me parece que são pouco producentes essas manipulações."

<b>Reunião</b>

Pessoas ligadas ao governo que estavam na reunião, porém, afirmaram reservadamente que o Executivo paulista não exigiu convite oficial da Antonov, mas uma segunda reunião em vídeo.

O jornal <b>O Estado de S. Paulo</b> teve acesso à ata da reunião assinada pelos consultores que procuraram o Executivo estadual em nome da Antonov.

O texto mostra que o governo sugeriu uma conversa em vídeo com executivos da Antonov State Company para "alinhar expectativas".

A ata, feita após a reunião, foi pedida por Ferraz. O governo não chegou a formalizar o pedido por meio de uma carta.

Técnicos da secretaria teriam entendido que o primeiro encontro havia sido uma conversa inicial e o secretário solicitou uma reunião virtual com os diretores da companhia para seguir com as tratativas.

A ata com a solicitação foi oficializada por um dos consultores e encaminhada por e-mail para técnicos da secretaria e executivos da Antonov.

A reportagem teve acesso aos e-mails encaminhados pelos executivos. Neles, os consultores apresentaram valores de investimento para fabricação de aviões no Brasil na casa dos R$ 50 bilhões.

Na ata, os advogados Eduardo Kuntz e o consultor Alexandre Maia destacam o interesse do governo nas "tratativas bilaterais de cooperação" e afirmam à empresa que eles serão bem-vindos para consolidação das negociações iniciais.

"De forma a registrar a formalização de que as negociações são frutíferas e seguir na agenda estratégica oficial, ficamos alinhados em fornecer tais respostas, juntamente com outras que julgarem pertinentes, por meio de videoconferência organizada entre nós, executivos do board da Antonov e membros do governo do Estado de São Paulo", diz o documento.

O novo encontro, no entanto, foi travado após e-mail enviado por Maia afirmar que a empresa suspenderia as tratativas por causa de declarações de Lula sobre a invasão da Ucrânia. O presidente havia dito que "a decisão da guerra foi tomada por dois países" e acusou os EUA de incentivar o conflito. O petista mudou o posicionamento.

Como mostrou o jornal <b>O Estado de S. Paulo</b>, a negociação causou atritos entre Tarcísio e Lula, que se falaram duas vezes por telefone para tratar do assunto. A estatal ucraniana primeiro disse que "informações incorretas" estavam sendo espalhadas e que não tinha representante no Brasil.

Integrantes do governo federal acusaram o Executivo paulista de compartilhar notícias falsas. Depois, em nota à <i>CNN Brasil</i>, a Antonov recuou e disse haver "conversas preliminares" no Brasil.

O jornal <b>O Estado de S. Paulo</b> entrou em contato com a empresa, mas não houve resposta. Maia também não respondeu, assim como as secretarias de Comunicação e Negócios Internacionais.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

Posso ajudar?