O embaixador britânico nos Estados Unidos, Kim Darroch, apresentou nesta quarta-feira, 10, sua renúncia por conta da polêmica suscitada pelo vazamento de documentos nos quais qualificava o governo de Donald Trump como “disfuncional” e “inepto”.
Em comunicado, Darroch afirmou que decidiu apresentar a renúncia para pôr fim às conjeturas sobre sua posição à frente da embaixada do Reino Unido em Washington, algo que torna “impossível” a realização de seu trabalho diplomático.
“A situação atual me impede de cumprir minha função como desejaria”, afirmou Darroch em uma carta enviada a Simon McDonald, chefe do serviço diplomático britânico. “Nestas circunstâncias, o caminho responsável a seguir é permitir a nomeação de um novo embaixador”, completou.
Nos telegramas diplomáticos enviados para Londres de Washington, alguns dos quais remontavam a 2017, Darroch descrevia o presidente americano como “instável” e “incompetente”. Esse veterano diplomata de 65 anos também se mostrava muito crítico em relação a seu governo.
A publicação no domingo (7) por parte do jornal britânico The Mail dessas mensagens deflagrou a ira de Trump no Twitter esta semana. “Não trataremos mais com ele”, tuitou o presidente sem deixar claro se o embaixador poderia continuar desempenhando suas funções.
Em uma escalada verbal, na terça-feira, 9, Trump chamou o embaixador britânico de “estúpido” e “imbecil pretensioso”. Um dos candidatos ao cargo de primeiro-ministro, o ministro britânico das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, criticou as palavras de Trump como “desrespeitosas e falsas”.
A decisão do embaixador foi interpretada por muitos em Londres como uma rendição humilhante à pressão de Trump e com graves consequências para a diplomacia britânica.
“Se o Reino Unido não consegue proteger as comunicações diplomáticas e isso custa a carreira das pessoas, quando a única coisa que fazem é levar adiante os desejos do governo, vamos ver a qualidade dos nossos emissários se degradar e sua influência diminuir, o que vai enfraquecer nosso país”, considerou o presidente da Comissão Parlamentar de Relações Exteriores, Tom Tugendhat.
Depois de servir em Bruxelas de 2007 a 2011, Darroch chegou aos Estados Unidos em janeiro de 2016, antes da vitória de Trump nas eleições presidenciais daquele ano.
A primeira-ministra Theresa May lamentou a decisão de deixar o cargo. “É muito lamentável que tenha considerado necessário abandonar seu posto de embaixador em Washington”, afirmou a premiê na sessão semanal de perguntas no Parlamento.
Na opinião da líder conservadora, “um bom governo depende da capacidade de seus funcionários de dar conselhos sinceros e completos. Quero que todos os nossos funcionários tenham a confiança necessária para fazer isso”, insistiu.
O líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, disse “lamentar a demissão de Kim Darroch” e chamou o Parlamento para lhe dar todo seu apoio por seus “serviços honoráveis e de qualidade”.
Já o ex-ministro das Relações Exteriores e grande favorito para suceder a May na liderança do Partido Conservador e do Executivo, Boris Johnson, evitou apoiar o diplomata na terça à noite durante um debate com Hunt pela televisão. O governo britânico abriu uma investigação para encontrar o responsável pelo vazamento. (Com agências internacionais).