Referência nacional e internacional do skate, o catarinense Pedro Barros assumiu de vez o papel de embaixador da modalidade no País. O dono de seis títulos mundiais quer usar o espaço e a relevância que ganhou, com a conquista da medalha de prata na Olimpíada de Tóquio, para divulgar o skate e sua mensagem de união e diversão para novos praticanteS.
"É como se a Olimpíada me desse uma chave maior", diz o skatista de 26 anos, referindo-se às novas portas que poderá abrir. "Sou 6 vezes campeão mundial e até a Olimpíada eu não tinha entrada para realizar alguns projetos. A Olimpíada me abriu muitas portas e meio que selou o negócio ao mostrar que vale a pena investir no skate, que temos impacto", afirma o atleta ao <b>Estadão</b>.
Barros faz uma comparação com outras modalidades. "Em qualquer outro esporte, se houvesse um brasileiro campeão mundial por seis vezes, esse seria um ídolo nacional. Teria um poder grande para ajudar com campeonatos, criação de conteúdo ou fortalecendo a juventude. Vemos isso com o Neymar, o Gabriel Medina e o Italo Ferreira. Essa notoriedade não é tão forte no skate."
Dois meses após os Jogos de Tóquio, o catarinense criou ele mesmo a oportunidade para dar maior notoriedade ao skate nacional. Ele é o principal mentor e um dos organizadores do Floripa Skate Sessions, evento de exibição que será realizado na capital catarinense neste domingo, a partir das 14 horas, e que contará com a presença de outros cinco atletas olímpicos: Pedro Quintas, Isadora Pacheco, Dora Varella, Luizinho, Yndiara Asp.
O evento vai reunir três das principais modalidades do skate, algo incomum nas competições. Haverá street, park e downhill, uma descida de 1,5 km no Morro da Lagoa, no qual os skatistas poderão chegar a 80 km/h. Não haverá troféus ou medalhas. "A ideia é trazermos um pouco da essência que o skate carrega desde o início, com uma mensagem de união e diversão. Vamos deixar de lado a questão da competição e buscar o lado mais raiz do que representa o skate", explica Barros.
Por causa da pandemia, o evento não terá presença de público. Os fãs e novos praticantes de skate poderão acompanhar a exibição de forma online no site floripaskatesessions.com.br. barros não descarta realizar o mesmo evento em outras cidades no futuro. "Com certeza tem grande potencial para estar em outros locais e ganhar ainda mais força."
Neste domingo, as "disputas" de street e park serão realizadas na Hi Adventure, misto de escola e pousada, berço do skate em Florianópolis. Não por acaso foi o local onde Pedro Barros começou a se desenvolver, pouco antes de Yndiara Asp e Isadora Pacheco, outras finalistas olímpicas.
Se a capital catarinense e a Hi Adventure já eram referências nacionais no skate, a Olimpíada sobrecarregou a escola. "Estamos lotados, no nosso limite. Toda semana temos que dizer não para novos alunos. Temos que indicar outros professores para formar turmas de novos alunos em outros locais", diz Rafael Bandarra, dono da pousada.
Um dos responsáveis pelo sucesso do skate na cidade, Bandarra testemunha diariamente o "efeito Olimpíada" na modalidade. "O interesse das crianças teve um boom muito grande. Dobrou", afirma, antes de fazer uma observação sobre as mudanças que afetaram o status do skate nos últimos anos. "Agora os pais incentivam a prática. Antes era o oposto. Os pais repreendiam os filhos que se interessavam por skate. A procura agora é muito maior que antes."
A nova demanda pelo skate não passou despercebido pela prefeitura de Florianópolis. A cidade, que tem seis pistas públicas, terá mais dez até o fim de 2022, segundo estima Ed Pereira, secretário municipal de esportes. Todas já estavam planejadas desde o ano passado, mas devem ser "aceleradas". Entraram na frente até mesmo do futebol entre as prioridades da secretaria.
"Não íamos fazer tudo ao mesmo tempo, ia ser aos poucos. A prioridade era construir campos sintéticos. Mas a Olímpiada mudou isso", disse Pereira, ao <b>Estadão</b>. "A ideia é quadruplicar o número de praticamente de skate na cidade. Queremos ter mais apaixonados e seguidores da modalidade."
<b>3 Perguntas para Pedro Barros:</b>
<b>Como é ser a grande referência do skate park no Brasil?</b>
Eu não acredito muito em ser algo. Eu acredito em fazer. E foi sempre o meu destino. Fazer algo para que possamos crescer como conjunto. Eu viajava para os EUA, via pistas incríveis e sonhava poder ter isso, não para ter um negócio, mas para poder usufruir destes espaços. Trabalhamos muito para isso. Sempre tentamos trazer uma crescente para o skate como um todo. E hoje é uma felicidade muito grande em ver como o skate se expandiu graças ao trabalho de todos.
<b>A medalha fez de você celebridade em Florianópolis?</b>
Eu estou conversando com você (por telefone), do centro de Floripa. Estou em pé na calçada. E está de boa. Aqui temos uma cena forte do skate. O pessoal está acostumado. Mas, ao mesmo tempo, percebemos um carinho das pessoas, que é muito legal. Já fui reconhecido hoje algumas vezes aqui no centro, pediram para tirar foto. É muito legal ver que o skate tocou realmente o coração das pessoas. Vemos isso através deste reconhecimento. É muito lindo saber que podemos atingir um sorriso no rosto de uma pessoa através da nossa arte, que é o skate.
<b>O pódio olímpico mudou alguma coisa na sua carreira?</b>
Sou profissional há mais de dez anos. Já fui campeão mundial seis vezes. Tenho uma história que não é de agora. Mas a Olimpíada foi uma forma de conseguir completar um ciclo de profissionalismo. Mostramos que, mesmo numa competição do mais alto nível, conseguimos chegar lá e trazer uma medalha de prata. Trouxe uma notoriedade. E fico feliz com isso.