O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou como "persona non grata" dez embaixadores de países como EUA, Alemanha e França, que na semana passada defenderam a libertação imediata de um ativista de oposição. Na prática, eles serão convidados a deixar o país.
"Dei a ordem necessária para nosso ministro das Relações Exteriores sobre o que deve ser feito. Esses dez embaixadores devem ser declarados "persona non grata" de uma só vez. Vocês verão isso imediatamente", afirmou Erdogan, em discurso na cidade de Eskisehir. "Eles vão conhecer e entender a Turquia."
O caso gira em torno da prisão, em 2017, do ativista político e filantropo Osman Kavala. Ele é acusado pela Justiça de financiar os protestos iniciados em maio de 2013, que varreram a Turquia com palavras contra o presidente Erdogan, e deixaram mais de vinte mortos pelo país, além de quase cinco mil presos.
No ano passado, a prisão dele foi suspensa, mas ele acabou novamente detido dias depois, agora também por acusações relacionadas à suposta participação na tentativa de golpe ocorrida em 2016. Sua defesa nega as acusações e ativistas apontam que o caso demonstra o escopo da política de repressão do governo Erdogan contra seus rivais.
Na sexta-feira, Kavala declarou, em comunicado, que não comparecerá a uma audiência marcada para o dia 26 de novembro por acreditar que "não faria sentido" participar de um processo que, na visão dele, não seria imparcial.
Como forma de pressionar por uma resolução, os embaixadores de Canadá, Dinamarca, França, Alemanha, Noruega, Suécia, Finlândia, Nova Zelândia e Estados Unidos emitiram um comunicado conjunto, no dia 18 de outubro, defendendo sua libertação imediata. O texto ainda lembrou que uma resolução do Tribunal Europeu de Direitos Humanos exigindo uma resolução rápida para o caso, mas para Erdogan se tratou de uma intervenção indevida em assuntos internos turcos, algo visto como "irresponsável".
"Eu disse ao meu chanceler: nós não podemos nos dar ao luxo de acolher esses tipos em nosso país. Cabe a vocês dar uma lição à Turquia? Quem vocês pensam que são?", disse Erdogan esta semana. Ele afirmou ainda que os países envolvidos "não libertariam bandidos, assassinos e terroristas" em seus próprios territórios.
Depois do anúncio, o Ministério das Relações Exteriores da Noruega apontou, em e-mail enviado à Reuters, não ter recebido qualquer comunicação oficial por parte de Ancara.
"Nosso embaixador não fez nada para merecer uma expulsão", disse o chefe de comunicação da chancelaria, Trude Maaseide. "Vamos continuar a pedir que a Turquia siga dentro dos padrões democráticos e do Estado de direito, algo que o país se comprometeu na Convenção Europeia dos Direitos Humanos."
O chanceler da Dinamarca, Jeppe Kofod, também declarou não ter sido comunicado oficialmente, mas está em contato com seus aliados. "Continuaremos a defender nossos valores comuns e princípios, como dito na declaração conjunta", escreveu em comunicado.
Já o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, disse que a decisão era mais um sinal da "guinada autoritária" do governo turco. "Não seremos intimidados. Liberdade para Osman Kavala", escreveu Sassoli, no Twitter. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>