A decisão da Força Aérea Brasileira (FAB) de reduzir o contrato de compra dos cargueiros militares KC-390 Millennium, produzidos pela Embraer, é mais um balde de água fria para a empresa brasileira, que vinha se recuperando de um revés sofrido no ano passado. As ações da Embraer recuaram 4,44% ontem.
A empresa afirmou, em nota, que buscará "medidas legais relativas ao reequilíbrio econômico e financeiro dos contratos, bem como avaliará os efeitos da redução dos contratos" em seus negócios e resultados. De acordo com o comunicado, as medidas deverão ser tomadas após a empresa ser notificada pela União.
A Embraer ainda se recuperava do susto em abril de 2020, quando a Boeing anunciou que havia encerrado as negociações para comprar a divisão de aviação comercial da empresa, um acordo de US$ 4,2 bilhões. Com a crise da covid e o fim do acordo com a Boeing, as ações da fabricante brasileira de aviões derreteram 55% em 2020.
Cortes nos gastos, o que incluiu a demissão de 2,5 mil funcionários, e notícias de avanço no programa do "carro voador" (tecnicamente chamado de eVTOL, sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem vertical), no entanto, fizeram as ações da Embraer disparar 175% na Bolsa no acumulado deste ano até quinta-feira, quando veio a confirmação de que a FAB, sua parceira histórica, reduziria suas compras.
CONTRATO. O contrato fechado entre a Embraer e a FAB em 2014 previa a compra de 28 cargueiros em dez anos, por R$ 11 bilhões em valores atualizados. De acordo com o documento, havia a possibilidade de o governo reduzir a encomenda em 25%, ou seja, para 21 unidades. Em abril deste ano, no entanto, alegando restrições orçamentárias, a Aeronáutica divulgou a intenção de ficar com apenas 15 unidades.
CONVERSAS. A negociação entre governo e empresa se arrastou por sete meses até que, na quinta-feira, o comandante da FAB, tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, informou ao Estadão que não houve consenso. Apesar de a negociação ser conhecida desde o começo, o fim das conversas mexeu no mercado, derrubando o preço dos papéis da Embraer.
Um analista, no entanto, destacou que a queda nas ações pode significar uma oportunidade para se investir na empresa. Segundo ele, a área de defesa da Embraer, que foi responsável por 18,3% das receitas no terceiro trimestre, não é vista como tendo um grande potencial de crescimento.
"Claro que essa notícia (da redução) não é positiva, mas ela acaba sendo marginal. O que sustenta o preço da ação da Embraer, onde achamos que está o crescimento futuro da empresa, é o eVTOL", disse. "Vemos hoje que já está ótimo se a área de defesa parar de consumir caixa", acrescentou. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>