A crise econômica no Brasil e uma recuperação mundial que ainda patina levaram a uma mudança de padrão de uso de jatos executivos e têm obrigado a Embraer a modificar o foco de sua estratégia de vendas. Com incertezas políticas e econômicas, executivos têm revendido jatos comprados há poucos anos e, no caso do Brasil, a frota encolheu.
Os dados são da própria Embraer. Em seu auge, em 2015, existiam cerca de 820 jatos executivos no País em funcionamento. Hoje, esse número caiu para 750. Para completar, o mercado de jatos usados em plena expansão está pressionando para baixo o preço dos novos.
A alternativa encontrada pela Embraer tem sido a de buscar compradores entre as operadoras, e não compradores privados. A estratégia vale não apenas no Brasil, mas para todo o mundo. A constatação da empresa é que o mercado ainda não se recuperou da crise econômica de 2008. Naquele ano, 1,3 mil jatos haviam sido vendidos por todo o setor. Em 2016, não foram mais de 680.
Uber
O que a Embraer percebeu foi uma mudança no comportamento dos executivos. No lugar de ser proprietário de um avião, esse grupo está optando por serviços de táxi aéreo executivo e de empresas responsáveis por uma espécie de “uberização” da avião executiva. O empresário não deixou de usar o jato. Mas não quer mais os custos de sua manutenção.
Para a Embraer, esse pode ser um novo modelo de utilização de jatos de negócios, o que representa também uma oportunidade. Na esperança de recuperar vendas, a aposta é na nova geração de jatos leves e médios e em compradores como os operadores Flexjet ou Netjets.
Um exemplo dessa aposta será confirmado nesta segunda-feira, quando a empresa brasileira deve anunciar negócios de US$ 77,7 milhões com a operadora alemã Air Hamburg. A companhia vai comprar mais três jatos Legacy 650E. A Air Hamburg, que oferece serviços de transporte para executivos, conta hoje com 11 jatos da Embraer e já se posiciona como uma das maiores do segmento na Europa.
Expansão
Apesar dos desafios e mudança de perfil dos clientes, Michael Amalfitano, CEO de Jatos Executivos da Embraer, aponta que a fabricante brasileira já demonstrou sua competitividade nesse setor. Em 2005, ela representava 3,6% do mercado mundial. Hoje, detém quase 20%.
Segundo o executivo, o problema é que o mercado não cresce. “Isso tem ocorrido por cinco anos e deve ocorrer também em 2017”, disse. Sua avaliação é de que a confiança está sendo desafiada e empresas e executivos têm hesitado em investir.
A meta da empresa é manter a fatia de cerca de 20% do mercado, com a entrega de 105 a 125 aviões em 2017. Isso geraria uma receita de até US$ 1,75 bilhão, o equivalente a 28% da receita prevista pela Embraer.
Numa competição acirrada com Gulfstream, Cessna, Bombardier e Dassault, a Embraer estima que vai disputar um mercado que deve demandar 8,4 mil novos aviões em uma década, o que geraria uma cifra na ordem de US$ 259 bilhões. Mas essa concorrência deve ficar ainda mais dura, com a entrada no mercado da Pilatus, da Suíça, e a japonesa HondaJet. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.