As emissões de gases de efeito estufa no Brasil subiram 8,9% no ano passado – impulsionadas pelo aumento do desmatamento -, e chegaram ao seu maior nível desde 2008, mesmo em meio à crise econômica, que, via de regra, costuma implicar em queda de emissões. É também a maior elevação de um ano para o outro desde 2004.
Foram lançadas na atmosfera 2,278 bilhões de toneladas brutas de gás carbônico equivalente (CO2e), contra 2,091 bilhões em 2015. Os dados foram revelados pela 5ª edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), do Observatório Clima, que foi lançada nesta quarta-feira, 25.
O aumento é o segundo consecutivo. Em 2015 as emissões já tinham sido 3,4% superiores às de 2014. Isso tudo em meio à recessão econômica. Em 2015 e 2016, a elevação acumulada das emissões foi de 12,3%, contra uma queda acumulada de 7,4 pontos no PIB. Segundo os organizadores do levantamento, o “Brasil é a única grande economia do mundo a aumentar a poluição sem gerar riqueza para sua sociedade”.
Mais uma vez, o corte de vegetação foi o principal responsável pela alta. O setor de mudança do uso da terra – que inclui desmatamento – respondeu por 51% do total das emissões nacionais e, sozinho, teve um aumento de 23%. Isso reflete a alta da perda da floresta amazônica, que tinha sido de 27% no período de agosto de 2015 a julho de 2016, na comparação com o ano anterior.
Se não fosse essa alta, as emissões brasileiras teriam caído. Quando esse setor é excluído da conta, as emissões dos outros setores (agropecuária, energia, processos industriais e resíduos) apresentaram uma queda de 2,8% no ano passado, em um sinal direto da crise econômica.
Esse impacto é mais facilmente observado no setor de energia, que teve um recuo de 7,3%, e no setor de processos químicos industriais, que apresentou uma redução de 5,9%. Boa parte disso é por causa de diminuição da atividade da indústria e nas emissões de transporte. O ano passado, que teve uma situação melhor dos reservatórios das hidrelétricas, acabou não necessitando de termelétricas, que emitem CO2. Outra vantagem foi o aumento de 55% no uso de eólicas, em especial no Nordeste.
“Em 2009, o Brasil lançou uma meta para reduzir suas emissões para 2020, mas desde então temos patinado nas emissões. A evolução estava meio estável, se caia no desmatamento, subia na energia, por exemplo. Agora, porém, estamos com tendência de alta”, afirma Tasso Azevedo, coordenador técnico do Seeg.
Agropecuária
Em termos de atividade econômica, a agropecuária respondeu sozinha por 74% das emissões do País no ano passado. A conta aqui considera suas emissões diretas (por exemplo o metano da digestão do gado e o óxido nitroso proveniente de fertilizantes) e as indiretas, por promover a mudança do uso do solo.
Se fosse um país, lembra os organizadores, o agronegócio brasileiro seria o oitavo maior poluidor do planeta, com emissões brutas de 1,6 bilhão de toneladas. É maior que o Japão inteiro.
Pensando somente nas emissões diretas do setor, também houve aumento. O setor emitiu 1,7% a mais que em 2015, principalmente por causa de aumento do rebanho.
“A pecuária de corte, que representa 65% das emissões do setor, cresceu 2,2% no ano, porque o rebanho chegou a quase 200 milhões de cabeças, o maior que o País já teve”, afirma Ciniro Costa Júnior, do Imaflora. Isso também tem um pouco a ver com a crise, já que o ano teve redução do número de abates, deixando mais animais no campo.
“A única boa notícia é o aumento de eólicas e biomassa no setor de energia. Porque o resto da queda nos outros setores veio da crise econômica e não porque estamos fazendo a lição de casa”, analisou Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima.