O cenário econômico brasileiro atual é desanimador. Há uma deterioração generalizada dos indicadores e a perspectiva para o futuro próximo é sombria.
Vamos a alguns números: no primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) – que é a soma de todas as riquezas produzidas no País – ficou 0,2% menor na comparação com o mesmo período do ano passado. O desemprego em maio registrou o quinto aumento seguido, subindo para 6,7% (estava em 6,4% em abril e em 4,9% em maio de 2014). A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) cresceu 0,82% em junho, acumulando alta de 6,42% no ano e 9,15% em 12 meses. Em maio, segundo o IBGE, a renda real (já descontada a inflação) dos trabalhadores recuou 1,8% sobre abril e 5,8% no confronto com maio de 2014.
Em outras palavras, há mais gente sem emprego, os ocupados estão com menos dinheiro no bolso e os preços não param de subir e corroer o poder de compra dos cidadãos. Com menos para gastar – ou medo de ir às compras porque o que vem pela frente é incerto – o consumidor se retrai; toda a cadeia é afetada, pois comércio, serviços e indústria perdem faturamento. O cliente some, as empresas cortam postos de trabalho, recessão instalada e o Brasil em estado crítico.
Tal conjuntura é resultado da adoção nos últimos anos de uma política econômica que mostrou-se insustentável. O modelo se esgotou e o governo foi obrigado a aplicar medidas restritivas para tentar reorganizar a casa. Este ano (e talvez boa parte de 2016) será apenas para estancar o sangramento.
Uma das atitudes tomadas pelo Palácio do Planalto é elevar os juros a fim de conter o consumo e aliviar a pressão sobre a inflação. Porém, essa mecânica tem seu lado perverso ao ser responsável por dificultar o acesso ao crédito, inibir investimentos e, consequentemente, eliminar empregos. Nesse momento, quem não consegue se recolocar, ou só encontra oferta de salários muito inferiores ao que recebia, acaba optando, em muitos casos, por abrir um negócio próprio.
Épocas de crise tendem a jogar muita gente no empreendedorismo pelo desespero. É o empreendedorismo da necessidade, que nasce sem planejamento e visto como última saída para obter o ganha pão. Diferente do empreendedorismo por oportunidade, quando há a identificação de algo a ser explorado e a pessoa se prepara.
Pesquisa do Sebrae-SP revela que as principais causas do fechamento de micro e pequenas empresas nos primeiros cinco anos de vida são falta de planejamento, comportamento inadequado do proprietário e falhas na gestão. Nada que não possa ser corrigido se as devidas providências forem tomadas a tempo. Claro que a conjuntura atual é um complicador. De janeiro a abril deste ano, as micro e pequenas empresas amargaram queda de 13% na receita real ante o mesmo período de 2014.
Mas abrir um negócio próprio por necessidade não significa fracasso, mesmo em tempos difíceis. Correções na rota fazem parte do dia a dia de qualquer empresa e a crise por si só não é impedimento para ninguém empreender.
Os maus momentos também servem para se descobrir novas possibilidades. A empresa que tiver um diferencial será mais competitiva. Querer destacar-se apenas pelo preço ficou para trás. Oferecer algo que falta na concorrência, ter qualidade, atendimento e pós-venda impecáveis são alguns aspectos fundamentais.
Além disso, nas fases ruins, quando é mais difícil aumentar a receita, saber diminuir custos é uma boa saída para sobreviver. Outra forma de superar os obstáculos é encontrar maneiras de fazer as coisas melhor, mais rápido, isto é, inovar nos processos. Não é reinventar a roda, mas ser mais eficiente.
Os pequenos negócios são 99% de todas as empresas existentes no Brasil e respondem por 27% do PIB e 52% dos empregos formais. A retomada do crescimento do País passa obrigatoriamente pelo fortalecimento deles. Infelizmente, em vez de avanços, teremos um ano perdido. Mas, após tantas crises, o brasileiro desenvolveu um grau de resiliência capaz de superar mais esta fase turbulenta.
Bruno Caetano é diretor superintendente do Sebrae-SP