A celebrada agilidade da indústria chinesa em projetos de construção civil não vale para a floresta amazônica. A entrega da linha de transmissão da hidrelétrica de Belo Monte, maior projeto do setor no País, com 2,1 mil quilômetros de extensão e custo de R$ 4,5 bilhões, está com seu cronograma totalmente comprometido, por causa de atrasos sucessivos nas obras da gigante chinesa Sepco, empreiteira que assumiu a responsabilidade de construir um trecho de 780 quilômetros do empreendimento.
O atraso das obras já levou a Sepco a ser multada pelos donos do projeto, a concessionária Belo Monte Transmissora de Energia (BMTE), formada pela também chinesa State Grid (51%) e pela Eletrobras (49%). Segundo apurou o jornal “O Estado de S. Paulo”, essas punições já chegam a R$ 8 milhões. Preocupada em cumprir os prazos de seu contrato de concessão, a BMTE também exigiu que a Sepco subcontrate outras empreiteiras para executar aquilo que ela ainda não fez.
O tempo é curto. Por contrato, a linha de transmissão, que parte do Rio Xingu, no Pará, e avança até a região Sudeste do País, tem de estar energizada daqui a um ano, mais precisamente no dia 12 de fevereiro de 2018. Dividida em oito lotes de 260 km cada, a malha da BMTE tem cinco lotes com o cronograma em dia. O problema está nos três lotes da Sepco. Das 1.508 torres que a empresa precisar erguer, apenas 515 foram instaladas até agora. Por isso, não houve nenhum lançamento dos cabos de alta tensão.
Desde o ano passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) alerta a empresa para o atraso. No fim de outubro, depois de visitar trechos do projeto, técnicos da agência concluíram pela necessidade de “atuação imediata da BMTE para que a entrada em operação do empreendimento não seja comprometida”.
As causas do atraso, segundo a Aneel, estão atreladas ao baixo rendimento da empreiteira chinesa nos trechos em que atua, falta de material para construção e, principalmente, dificuldades de acesso e de condições de trabalho por uma razão simples: os chineses não incluíram em seus roteiros o período chuvoso na região amazônica, entre novembro do ano passado e abril deste ano.
Para a agência, a conclusão é simples. “Diante dos fatos apresentados, a fiscalização entende que há riscos no cronograma de execução da obra, que poderão comprometer a data 12/02/2018, estabelecida no contrato de concessão”, declarou em seu parecer.
Questionado sobre a situação do projeto, o diretor técnico da BMTE, Armando Araújo, confirmou que tem pressionado a Sepco por uma solução no atraso. Apesar do descumprimento do cronograma, o executivo diz que a linha estará pronta dentro do prazo. “Estamos com 5,6 mil empregados trabalhando em toda a obra. Até o fim de março essa situação com a Sepco deve estar resolvida. Vamos cumprir o cronograma, sem nenhuma dificuldade”, defende.
Para Araújo, as causas do fraco desempenho dos chineses estão atreladas a questões administrativas. “Não é restrição de pessoal. Até porque, só no primeiro trecho, eles têm 1,1 mil pessoas trabalhando. Então o caso é de ineficiência mesmo. Há problema gerencial”, disse.
A Sepco não comentou o assunto. Por meio de nota, declarou apenas que seu presidente “está na obra” e que “está muito ocupado”. Por isso, não daria entrevista.
O eventual atraso na linha de transmissão impacta, diretamente, o consumidor de energia de todo o País em sua conta de luz, já que a energia gerada pela hidrelétrica de Belo Monte já foi contratada pelas distribuidoras. Com ou sem linha de transmissão, a usina tem que ser remunerada porque cumpriu sua parte no acordo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.