Empresas aumentaram receita e caixa, mas alta do dólar reduziu lucro em 2020

Boa parte das empresas de capital aberto conseguiu fechar 2020 com resultados surpreendentes para um ano de pandemia, isolamento social e PIB negativo. Com uma gestão conservadora, focada nas condições básicas para atravessar a crise de forma menos traumática, as companhias conseguiram aumentar as receitas, fortalecer o caixa disponível e só não terminaram o ano com lucros maiores porque a alta do dólar diminuiu os ganhos.

Levantamento feito pela consultoria de informações financeiras Economática, com 232 empresas negociadas na Bolsa de Valores (sem Vale e PetrobrAs), mostra que nos 12 meses de 2020, a receita líquida cresceu 11%, e o caixa, quase 50%. O lucro antes de juros e impostos (Ebit) subiu 15%. "No consolidado, o resultado das empresas só não foi melhor porque alguns setores, como papel e celulose e transportes, tiveram desempenho muito ruim", explica Einar Rivero, gerente de Relação Institucional e Comercial da Economática.

"Azul e Suzano, por exemplo, tiveram os maiores prejuízos do ano, cerca de R$ 10 bilhões cada uma", disse Rivero. Além dessas duas, Oi (R$ 10 bilhões), Braskem (R$ 6,7 bilhões) e Gol (R$ 5,9 bilhões) puxaram para baixo o resultado consolidado das companhias. Entre as que mais lucraram, sem considerar Vale e Petrobras, estão Ambev (R$ 11,4 bilhões), Eletrobrás (R$ 6,3 bilhões), Telefônica Brasil (R$ 4,7 bilhões), JBS (R$ 4,5 bilhões) e CSN (R$ 4,03 bilhões).

O que pesou contra o resultado das companhias foi a alta de 30% do dólar no ano. A escalada na cotação – de R$ 4 para R$ 5,18 – elevou as despesas financeiras das empresas com dívida em moeda estrangeira e reduziu em 25% o lucro líquido. "Apesar disso, os resultados surpreenderam positivamente pelo tamanho da crise. A expectativa era que o resultado fosse muito pior", diz o professor do Insper, Michael Viriato.

<b>Realidade diferente</b>

Pelos dados da Economática, no conjunto das empresas, o lucro líquido caiu de R$ 105 bilhões para R$ 79 bilhões. Mesmo assim, o quadro é muito diferente da realidade dos pequenos negócios que sucumbiram à crise e fecharam as portas ao longo de 2020. A fatia de mercado das empresas menores foi abocanhado pelas maiores, o que também ajudou a elevar as receitas. Para Viriato, as grandes companhias tiveram capacidade de se reinventar durante a pandemia e investir em logística e tecnologia para chegar até seus clientes.

Além disso, completa ele, as empresas aprenderam a trabalhar com um estoque menor. No primeiro semestre, com o isolamento social imposto em boa parte das cidades brasileiras, elas reduziram a produção. "Aí veio o auxílio emergencial e um aquecimento da demanda no segundo semestre que não era esperado. Isso fez as empresas queimarem estoques", diz o professor do Insper, que considera essa uma lição que fica da crise.

<b>Promoções</b>

Muitas empresas também adotaram a estratégia de fazer mais promoções para garantir o volume de receitas. Para vender mais, as companhias optaram por reduzir o preço. Isso aumentou receita, mas reduziu a margem de lucros, diz o economista Vandyck Silveira, da Trevisan Escola de Negócios. Segundo os dados da Economática, a margem líquida caiu de 6,08%, em 2019, para 4,11%, no ano passado. "O mais importante num momento como o que estamos vivendo é continuar vivo", diz Silveira.

Segundo ele, a gestão das grandes empresas na crise foi muito boa, sobretudo porque a economia enfrenta uma grave crise desde 2015. O crescimento acumulado de 2017, 2018 e 2019, diz o economista, não recuperou nem o nível pré-crise e já veio a pandemia. "Nessa situação, o empresário precisa tomar decisões mais táticas do que estratégicas para sobreviver. E foi isso que fizeram."

Um exemplo disso pode ser verificado no aumento do caixa, em R$ 160 bilhões, segundo a Economática. Hoje, o conjunto das 232 empresas que já apresentaram balanço contam com R$ 485 bilhões disponíveis para enfrentar os próximos meses de crise. Pode não ser suficiente, mas dá uma certa segurança para as companhias.

No ano passado, diz Viriato, as companhias tomaram todo o crédito que podiam com medo do que viria pela frente, mesmo sem precisar. E fizeram certo, segundo o professor. "Quem deixou para fazer isso agora está tendo de pagar mais caro, pois a taxa de juros subiu." A dívida bruta das empresas saltou de R$ 922 bilhões para R$ 1,1 trilhão, segundo a Economática.

<b>Setores</b>

De acordo com o levantamento da Economática, o setor de energia elétrica – com balanço de 29 empresas – foi o que teve o maior lucro em 2020. As empresas conseguiram elevar em quase R$ 6 bilhões os ganhos em relação a 2019 – de R$ 36,12 bilhões para R$ 42 bilhões. Em segundo lugar aparece o segmento de alimentos e bebidas, cujo lucro subiu de R$ 18 bilhões para R$ 22 bilhões. Os dois setores que mais perderam foram papel e celulose, com prejuízo de R$ 13 bilhões, e transportes, com perdas de R$ 16 bilhões.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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