Detentoras da maior fatia de investimentos estrangeiros no Brasil, as empresas americanas esperam que o governo de Michel Temer traga estabilidade, promova reformas estruturais e apresente um caminho claro de médio e longo prazos para o País. Mas a ambição é acompanhada da percepção de que o Executivo enfrentará resistência no Congresso para implementar muitas das mudanças que consideram necessárias.
“Investidores estrangeiros anseiam por estabilidade”, disse ao Estado Thomas McLarty, presidente da seção americana do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, entidade que reúne as grandes companhias americanas com negócios no Brasil.
Segundo ele, o setor privado espera do novo governo um “certo nível de ambição” no enfrentamento da crise econômica, que só pode ser alcançado com a solução da crise política.
Diante da esperada dificuldade no Congresso, a gestão Temer deveria priorizar medidas essenciais, que indiquem a busca de equilíbrio fiscal, maior abertura comercial, aumento da competitividade, melhoria do ambiente de negócios e regras claras e estáveis para investimentos em infraestrutura, dizem representantes de empresas e analistas.
Prioridade
Entre as reformas estruturais, a da Previdência é vista como prioritária, em razão do potencial impacto positivo sobre as contas públicas.
A brasileira Cassia Carvalho, diretora executiva do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, observou que o início do novo governo será uma oportunidade para aprovação de reformas, mas reconheceu que uma agenda muito ampla enfrentará dificuldades no Congresso. Nesse cenário, a entidade propõe três medidas que teriam impacto no curto prazo: facilitação do comércio internacional, estabelecimento de regras claras para concessões na área de infraestrutura e melhoria do ambiente de negócios.
Ex-diretora do Departamento de Assuntos Fiscais do Fundo Monetário Internacional (FMI), Teresa Ter-Minassian defende que a gestão Temer dê menos ênfase a remendos e soluções fáceis e mantenha o foco em reformas estruturais e fiscais de longo prazo.
“O novo governo deve dar um claro sinal de que sabe que o fará, comunicar as decisões de maneira clara à população e buscar apoio político para implementá-las”, disse Ter-Minassian, que negociou o socorro do FMI ao Brasil nos anos 90. “Sem isso, a confiança não será restaurada.”
Reformas
Em sua opinião, o investimento doméstico e estrangeiro aumentará se houver a percepção de que existe um governo no comando capaz de aprovar reformas e recuperar o equilíbrio fiscal. “O Brasil está muito atraente em razão da taxa de câmbio”, observou a economista.
Consultora de empresas que têm negócios no Brasil ou pretendem se instalar no país, Kellie Meiman acredita que será importante o novo governo mostrar que tem “um rumo” e uma equipe capaz de gerenciar as dificuldades políticas e econômicas. “A situação no Congresso não será fácil. Por isso, o Executivo deveria eleger algumas prioridades que tenham impacto e provoquem um choque de confiança”, disse Meiman, que é diretora para o Brasil e Cone Sul da consultoria McLarty Associates.
Entre as medidas, ela mencionou a busca do equilíbrio fiscal, a reforma da Previdência, o aumento da competitividade da economia, a maior abertura comercial e a simplificação tributária.
O brasilianista Matthew Taylor, professor da American University, avaliou que há expectativas pouco realistas em relação ao que pode ser feito pela gestão Temer. Em sua opinião, o presidente interino será bem-sucedido se atingir três objetivos: aprovar a reforma da Previdência, corrigir a trajetória fiscal e manter as investigações das operações Lava Jato e Zelotes. “Qualquer governo vai enfrentar pressões dos atores políticos no Congresso para intervir nas investigações.”