Estadão

Empresas já reduzem a importação

Três anos após abrir uma unidade de usinagem de peças na Flórida (EUA), a fabricante de válvulas Thermoval decidiu, em março, fechar a filial, trazer os equipamentos para o Brasil e dar continuidade à operação na fábrica do grupo em Cravinhos (SP).

Quando instalou a célula produtiva nos EUA, o custo de produção era 30% inferior ao do Brasil. Hoje, está cerca de 40% acima, diz Rodolfo Garcia, diretor-geral da empresa. O cálculo leva em conta a alta do dólar e dos salários dos empregados locais, assim como os custos com transporte das peças para o Brasil.

"Vamos comprar mais equipamentos aqui, gerar empregos e ainda assim enfrentamos uma burocracia para trazer as máquinas para cá, que só vão chegar em outubro", diz o executivo.

No ano passado, quando respiradores estavam em falta no País logo após o início da pandemia, a Thermoval desenvolveu e produziu válvulas proporcionais (que aumentam ou diminuem a vazão de ar eletronicamente) para o equipamento produzido por outras empresas.

A Leroy Merlin, rede varejista de materiais de construção com 45 lojas no País, tem 15% de seu faturamento, previsto em R$ 8 bilhões este ano, com produtos importados diretamente de diversos países ou por meio de seus fornecedores. A ideia é que essa fatia caia para 5% a 7% em quatro anos, diz Ignacio Sánchez, presidente do grupo.

Além de ter de lidar menos com atrasos de navios e com a inflação de preços provocada pelo falta global de produtos e matérias-primas, a localização de itens vendidos pela rede traz tecnologia e gera empregos no País, afirma Sánchez.

"O Brasil deveria aproveitar este momento para simplificar os impostos, favorecer os investimentos e produzir tudo o que for possível, de produtos têxteis até móveis de banheiro, de jardins e pisos laminados", afirma o executivo. Ele defende incentivos para a nacionalização por meio de redução de impostos de máquinas e equipamentos para a produção.

Por acordos feitos com fornecedores que importam produtos revendidos à rede, alguns já começaram a produzir itens no País. Cerâmicas que vinham da Itália, Espanha, Turquia e China agora são 100% adquiridas localmente e a parcela de pisos laminados nacionais cresceu.

Há 29 anos operando apenas como importadora de óleos para motores e lubrificantes para veículos, a Motul, com escritório em São Paulo, passou a receber os produtos da matriz francesa com atrasos de 60 a 90 dias em razão da falta de insumos químicos para a produção e da indisponibilidade de contêineres e navios para o transporte.

O grupo decidiu então iniciar a fabricação de alguns itens, e começou com lubrificantes para motos de baixa cilindrada. Guillaume Pailleret, presidente da Motul Brasil, conta que nesta primeira etapa a opção foi por terceirizar a produção, mas a ideia é ter fábrica própria em dois anos e expandir a linha de produtos.

"Com a produção local economizamos apenas 10% em relação ao custo de importação, mas nosso objetivo era não ficar dependente do transporte internacional e poder atender nossos clientes", diz Pailleret.

A NGK, fabricante de velas de ignição, teve o processo de nacionalização de velas especiais antecipado pela pandemia, que dificultou as importações. A peça é feita com materiais nobres e vinha da matriz japonesa, que continuará fornecendo insumos para a produção local.

Segundo José Eduardo de Souza, chefe de assistência técnica no Brasil, uma das vantagens é reduzir a exposição do produto à volatilidade cambial.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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