Estadão

Empresário cria centro de exportação de funk

Que o funk atravessou as fronteiras das periferias não é novidade: o gênero se faz presente não só nos paredões das vielas do baile da DZ7, em Paraisópolis, como também em festas universitárias em São Paulo e até fora do País, dos EUA à Ucrânia.

O Club da DZ7, que inaugurou sua sede oficial em Santo Amaro, no dia 17, se consolida como a primeira produtora e gravadora que nasceu a partir de um baile e, segundo Raul Nunes, seu criador, também será uma escola de funk. Mas, antes de ser esse polo cultural, o Club era uma barbearia.

"Montamos o selo musical em 2021 e começamos a fazer a distribuição digital. Passamos a entregar originalidade no funk que, por muito tempo, foi discriminado", descreveu Raul que, em 2015, enxergou nos bailes uma potência para empreender.

"Sou empreendedor desde os 7 anos, porque, só pelo fato de estarmos na favela, temos de nos virar nos 30. Eu sempre tinha de buscar oportunidades, se tinha uma latinha jogada no chão, eu via dinheiro. Quando as pessoas estacionavam os carros, eu vigiava e tirava um dinheiro a partir disso. No baile, eu percebia que ninguém olhava para os talentos dos moleques nas favelas", explicou.

Raul começou a trabalhar no fornecimento de bebidas para o baile da DZ7, após vender travesseiros, panelas e até trabalhar com importação de perfume. Então, quando um de seus clientes de bebida decidiu fechar um dos bares, ele resolveu comprar e transformar em uma barbearia.

"Antes, rolava um pagode e, depois, o funk. Tinha um rapaz que vendia caipirinha e o nome dele tinha a palavra dezessete e, com o crescimento do funk, virou o baile da DZ7. Eu abri a barbearia em 2017 e, à noite, era tabacaria. Eu decidi criar um clube, porque o baile também não tinha mais um ponto de referência", afirmou.

<b>PAREDÕES</b>

Com o passar do tempo, o empreendimento se tornou apenas bar e tabacaria. Como Nunes era o responsável por organizar os paredões (grandes caixas de som) dos bailes, alguns jovens passaram a procurá-lo para que suas músicas tocassem nos eventos e foi aí que ele percebeu uma nova oportunidade. O Baile da DZ7 reúne milhares de jovens da zona sul e outras regiões de São Paulo todo fim de semana.

"Vi a falta de pessoas que dessem atenção para a arte nas comunidades e passei a estudar o mercado. Acho que é predestinação mesmo, porque o funk é uma luz no fim do túnel para todos nós. Foi desafiador esse aprendizado, mas dali eu tirava meu ganha-pão e mudava a vida de muitos jovens da comunidade que me abraçou", disse.

A partir disso, o Club da DZ7 se expandiu e, hoje, trabalha com artistas como DJ Noguera, MC Delux, DJ Gabiru, entre outros. A sede conta com seis estúdios de gravação, ilhas de edição de vídeo e salas de reunião. Embora o prédio não esteja situado na favela de Paraisópolis, sua localização é um trunfo: o Club também fica próximo de Heliópolis, favela cujo baile vem estreitando laços com a produtora.

Para além da expansão de seu negócio para outras comunidades, Raul revelou também que, neste mês, pretende investir em capacitação para mais talentos da periferia. A escola de funk terá aulas de canto, produção musical, edição de clipes e foi apoiada por Preto Zezé, presidente da Cufa (Central Única das Favelas), na Expo Favela 2023.

O sucesso do funk no Brasil e no mundo é um incentivo para investir na produção. "O baile de favela está presente em muitos lugares, mas a gente não estava representada. Esse é o início de um direcionamento que está se materializando", acrescentou Raul.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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