A mais vital relação bilateral do mundo passará por seu primeiro grande teste nesta quinta-feira, quando o americano, Donald Trump, receber o líder chinês, Xi Jinping, em seu clube de luxo Mar-a-Lago, na Flórida. Ao lado do México, a China foi o principal alvo da campanha do republicano, que chegou a acusar o país asiático de “estuprar” os EUA com o “roubo” de empregos e indústrias.
Coreia do Norte e comércio estarão no topo da agenda dos dois presidentes, que nunca se encontraram. O principal objetivo da visita será estabelecer um formato de comunicação e cooperação futuras e testar a “química” entre Trump e Xi. Os países sob o comando de ambos respondem por 37% da economia global e sua interação na área de segurança é crucial para a estabilidade da região Ásia-Pacífico e do mundo.
Trump adotou uma retórica inflamada contra a China durante a campanha e ameaçou impor tarifas de até 45% sobre produtos importados do país para forçar a redução do déficit de US$ 350 bilhões registrados pelos EUA na balança comercial bilateral. A China argumenta que 40% desse desequilíbrio é provocado por exportações de empresas americanas instaladas no país.
Mas o tópico mais “urgente” da agenda para a Casa Branca é o programa nuclear da Coreia do Norte. Na terça-feira, um integrante da equipe de Trump afirmou que a disposição da China em pressionar Pyongyang será vista por Washington como um “teste” da relação.
Especialista em Ásia da consultoria Albright Stonebridge, Eric Altbach diz que há grande incerteza sobre o futuro do relacionamento entre os EUA e a China no governo Trump. Entre os riscos, ele aponta uma possível guerra comercial, caso o presidente cumpra a promessa de impor tarifas e a China responda, além de uma falta de acordo em questões de segurança, especialmente sobre a Coreia do Norte.
Em sua opinião, o desafio é aprofundado pelo fato de os dois líderes terem perfil nacionalista e falarem para suas respectivas audiências domésticas. “Ambos são bastante motivados em mostrar que estão adotando ações para fortalecer a posição relativa de seus países no sistema internacional”, observou Altbach.
Para ele, as aspirações declaradas pelos dois presidentes podem ser vistas como “imagens refletidas”. Enquanto Trump promete tornar a América grande de novo, Xi diz que realizará o “sonho chinês” de prosperidade doméstica e poderio internacional. “Eles têm objetivos ambiciosos para suas administrações e estão dispostos a adotar ações vigorosas e, em alguns casos, agressivas, para alcançá-los”, disse Altbach, ressaltando que esse cenário eleva o risco de potenciais conflitos.
Integrantes do governo Trump disseram que o objetivo do encontro de Mar-a-Lago não é produzir decisões concretas, mas aproximar os dois presidentes. “O espírito da cúpula é que os dois desenvolvam um relacionamento, que realmente estabeleçam um relacionamento”, disse Matt Pottinger, diretor para Ásia no Conselho de Segurança Nacional.
Segundo ele, o encontro também servirá para que ambos apresentem suas “preocupações” e definam um formato de diálogos para administrá-las. A Casa Branca disse que o ambiente de Mar-a-Lago permite uma interação mais pessoal e informal entre os dois presidentes. Xi chegará a Washington nesta quinta-feira e voará para a Flórida com Trump à tarde, acompanhado da primeira-dama chinesa, Peng Liyuan.