Após o veto ao projeto de lei que visava acabar com a meia-entrada de eventos culturais e esportivos no Estado de São Paulo feito por Carlos Pignatari (PSDB), governador em exercício, entidades estudantis se manifestaram sobre o tema neste sábado, 30.
Nas redes sociais, a União Nacional dos Estudantes (UNE) chamou o veto de "vitória" e afirmou que a entidade "segue na luta" para que ele "seja mantido". Já a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) destacou: "Nossa formação não é só dentro da sala de aula! Nossa formação também se constrói com acesso a cultura, esporte e lazer", fazendo também provocações ao deputado estadual Arthur do Val (Patriota), autor do projeto, que defendia que não houvesse diferenciação na venda de ingressos para todas categorias com direito ao benefício, como estudantes ou idosos.
Em entrevista ao <b>Estadão </b> na última quinta-feira, 28, o deputado justificou sua intenção: "É uma ingenuidade gigante achar que o empresário vai baixar o seu lucro por altruísmo. Eu faturo aqui X para fazer tal evento cultural. Ah, agora tem a lei da meia-entrada para estudante? Eu vou perder um pouquinho do meu lucro aqui? Então eu aceito perder um pouquinho aqui. Claro que não. O que ele faz? Ele aumenta o valor dos ingressos e aqueles que forem vendidos de forma inteira, que na verdade vai ser o dobro, é lucro. Na prática é isso que acontece, todo mundo sabe que, na prática, não existe a lei da meia-entrada. No mais, se a lei de meia-entrada é garantia de abaixar os preços, então o meu PL é bom porque ele é a meia-entrada é para todos."
"É uma ingenuidade gigante achar que tabelar preço de uma forma ou de outra funciona. O tabelamento de preços em nenhum lugar do mundo, em momento algum da história, funcionou. Inclusive, no Brasil, na nossa história recente nós tivemos uma experiência com isso e ela não foi bem sucedida. Tabelamento de preço não funciona", continuou.
<b> Meia-entrada é instrumento elitista
</b>
Uma possível extinção da meia-entrada tem apoio por setores culturais, embora muitos empresários da noite evitem o assunto por saberem se tratar de algo polêmico e impopular entre os estudantes. Na última sexta-feira, André Sturm, cineasta e presidente do Belas Artes Grupo, que controla as salas de cinema Belas Artes, na Rua da Consolação, opinou ao Estadão: "A meia-entrada é um instrumento elitista, excludente, que faz o preço do ingresso ser muito mais alto do que deveria", comentou. "O que acontece em São Paulo, especificamente, é que 60% ou 70% dos ingressos são vendidos assim, aí os cinemas precisam multiplicar o preço final por dois. Por que o estudante paga meia-entrada e o motorista de Uber não?"
Christian Zucchi Tedesco, vice-presidente executivo do Grupo Tom Brasil, que controla a casa de espetáculos Tom Brasil, em São Paulo, declarou: "A meia-entrada é ótima na ideia, tem no mundo todo. Um projeto para dar acesso à cultura para pessoas necessitadas e à classe média também. Fantástico. Mas, ao mesmo tempo, se torna horrível na forma como é implementada no Brasil. Ela acaba fazendo com que o preço do ingresso seja muito mais caro do que já é e cria distorções."
Carlos Pignatari vetou integralmente o projeto de lei na sexta-feira, 29, alegando que a proposta "mostra-se incompatível com as normas gerais expedidas pela União". A decisão foi publicada no Diário Oficial do Estado deste sábado, 30.