A entrada de recursos estrangeiros na Bolsa paulista somou R$ 11,7 bilhões apenas entre segunda e quarta-feira desta semana. No mês, o fluxo de capital estrangeiro chega a R$ 15 bilhões. Se novembro tivesse terminado na quarta-feira, o recorde histórico para aportes internacionais na B3 já teria sido batido, considerada a série histórica nominal (sem correção pela inflação) iniciada em 1995.
O movimento, dizem especialistas, foi uma reação à fala de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, o banco central americano, de agosto. Há três meses, ele sinalizou que o BC mais poderoso do mundo estaria disposto a tolerar alguma inflação para reativar a atividade econômica dos EUA.
A relativa estabilidade trazida pela definição da eleição americana no fim de semana – com vitória do democrata Joe Biden – e a eficácia da vacina da Pfizer contra a covid-19 em testes foram os gatilhos que faltavam para completar a enxurrada de recursos para o Brasil.
Quem acompanha o comportamento da B3 afirma que a maior parte do recurso foi de dinheiro novo, que não estava no Brasil. "Esse dinheiro entrou e foi direto para a Bolsa, tanto que teve impacto no câmbio", diz Cesar Mikail, gestor de portfólio da Western Asset. "Pelo que mapeamos, parte veio de fundos dedicados a emergentes, e parte, de fundos globais."
Embora o fluxo tenha sido destinado a emergentes como um todo, sem distinções, o Brasil ficou alguns passos à frente porque é um dos mercados de maior liquidez deste grupo, ao lado do México e da Ásia.
Por aqui, a participação de 25% dos bancos e da Petrobrás no índice foi um fator positivo. No caso dos bancos, era consenso de que os preços de ações do setor estavam baixos em todo o mundo. A vitória de Biden veio par mudar esse ângulo, pela perspectiva de recuperação econômica que trouxe. Já a Petrobrás ganhou mais com os comentários sobre a vacina. Sem as restrições de mobilidade impostas para impedir a disseminação do coronavírus, a demanda por petróleo tende a subir.
Segundo Fernando Siqueira, gestor de portfólio da Infinity Asset, os preços dos papéis brasileiros, de uma maneira geral, também estão baratos – justificando o apetite nesse momento. "O Brasil também ficou barato durante a crise. Historicamente, negociamos a preços próximos aos dos demais emergentes, mas estávamos 20% mais baratos agora."
Mas a manutenção ou não desses investimentos vai depender da lição de casa interna do Brasil. "Os estrangeiros vão olhar para o que o governo fará em termos de reforma, privatização e ajuste fiscal, porque é isso que as agências de classificação de risco observarão", diz Alvaro Bandeira, estrategista-chefe e sócio do banco Modalmais. "A volta foi com um porcentual pequeno, porque chegamos a perder R$ 90 bilhões e agora entraram R$ 15 bilhões." (Colaborou e Altamiro Silva Júnior)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>