Economia

Entre os mais pobres, 27% não têm acesso a crédito no País

Todo mês, o casal de microempreendedores Cristiane dos Santos e Manoel Ricardo Tavares faz malabarismos para manter a produção de bijuterias. Por serem produtos de valor mais baixo, receber às vezes é um problema. Cristiane até tentou abrir uma poupança para facilitar a organização das contas, mas teve o cadastro recusado no banco, que alegou “não ter interesse comercial em seu perfil”.

Mesmo com a proliferação de iniciativas de oferta de crédito nos últimos anos, como os cartões sem anuidade, as contas digitais e os empréstimos que podem ser contratados pela internet, ainda existe uma parcela de “esquecidos” pelo sistema financeiro no Brasil.

Uma pesquisa feita com 1,5 mil pessoas das classes C, D e E revelou que 27% das pessoas dessa faixa de renda conseguem honrar pagamentos em dia e fazer aquisições de maior valor, como um veículo ou a casa própria.

No entanto, ainda encontram dificuldade em obter crédito por ganharem menos ou não terem rendimento fixo. “Muitas vezes, a instituição considera o local em que a pessoa mora e recusa conceder o crédito”, diz Maurício de Almeida Prado, diretor executivo da consultoria e responsável pela pesquisa.

O estudo foi elaborado pela consultoria Plano CDE, especializada nas classes C, D e E, em parceria com o Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira (GVcemif) da FGV e apoio do banco americano JP Morgan.

Por outro lado, o levantamento identificou uma parcela de 28% dessas pessoas que até têm acesso ao crédito, mas têm problemas crônicos de endividamento. Outros 33% “não pedem dinheiro emprestado nem ao vizinho”, como explica Prado. Os 12% restantes têm perfil misto.

O baixíssimo nível de poupança também é alarmante: 83% não consegue poupar sequer um mês de salário. Entre os 17% que têm ao menos um mês de renda, 39% guardam dinheiro em casa, literalmente debaixo do colchão. A maioria faz suas transações em casas lotéricas.

A maior dificuldade para incluir essas pessoas no sistema financeiro, além de aprofundar a análise desses perfis, é aproximá-los do sistema financeiro. Prado acredita que a educação financeira e ações que as conectem com instituições possam tirá-los desse limbo.

Uma das alternativas é a pontuação de crédito, o chamado score. “É um cálculo que indica a probabilidade de uma pessoa com determinada idade e faixa de renda não honrar seus pagamentos”, diz Carolina Aragão, gerente do birô de crédito Serasa Consumidor.

Cada instituição financeira tem critérios próprios para aceitar ou recusar clientes. Elas utilizam as pontuações dos birôs para complementar sua avaliação.

Quem mantém distância de instituições financeiras geralmente tem pontuação menor. Ter um crédito negado, porém, pode ter peso negativo. “Se uma pessoa é constantemente recusada, instituições entendem que ela tem algum problema”, afirma Pablo Nemirovsky, superintendente da Boa Vista SCPC.

Uma proposta que está em discussão no Congresso é tornar automático o cadastro positivo, que mantém um histórico de contas pagas em dia pelo consumidor. Por enquanto, a adesão continua sendo voluntária e pode ser feita gratuitamente pelo consumidor em cada birô de crédito. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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