Por Gil Campos
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Fotos: Divulgação
No teatro com "Vermelho" na TV, em "Gabriela", o ator Antonio Fagundes nega ser um ator completo, fala da experiência de contracenar com o filho e lamenta que o Brasil não formou um público de cinema
O ator Antonio Fagundes está, atualmente, no teatro com o espetáculo "Vermelho", que vem à Guarulhos dia 24, no Adamastor Centro, e na TV, e no próximo mês começa a filmar "Quando eu era vivo", do diretor Marco Dutra; longa que terá a participação da atriz e cantora Sandy. Mesmo atuando no cinema, teatro e televisão, Fagundes não se considera um artista completo. "Ninguém nunca é completo. Até o último momento se está aprendendo algo", disse numa entrevista bem-humorada à Revista Free São Paulo. Com 46 anos dedicados ao teatro, Fagundes está em cartaz com a peça "Vermelho", escrita por John Logan. O ator vive o artista plástico russo Mark Rothko (1903-1970) e divide o palco com o próprio filho, Bruno, 22, que encarna o jovem assistente Ken, um aspirante a pintor com os ideais típicos da juventude. Na televisão, é o coronel Ramiro Bastos, na remontagem de "Gabriela", obra de Jorge Amado em exibição na Globo. Fagundes revelou que nunca pensou em parar de trabalhar – "até porque, sempre haverá o papel de um velhinho para se fazer", brincou. Nesta entrevista, ele lamentou que o Brasil não investiu na formação do público de cinema e se mostrou que, mesmo aos 63 anos de idade, é um jovem apaixonado pela profissão.
– O que há de especial na peça Vermelho diante das inúmeras outras que você já encenou?
FAGUNDES – O texto extraordinário de John Logan. Ele construiu um texto muito bonito, muito humano, que se passa no ateliê de um pintor que recebe, em um determinado dia, um assistente bem mais jovem pedindo emprego. A peça fala da vida, da relação pai e filho, do aprender a ouvir, a se modificar.
– O que mais chamou atenção no texto logo na sua primeira leitura?
FAGUNDES – O que me chamou atenção foi ele [John Logan] ter conseguido falar de tudo isso por meio das artes plásticas. É algo fantástico.
– A peça se passa em Nova Iorque, no fim da década de 1950. Em que aspecto há um diálogo atual com
o Brasil?
FAGUNDES – Falar da vida, falar com o mundo, falar com os seres humanos é algo atemporal.
Portanto, a peça é atemporal. Ela foi montada em diversos países e todas as plateias se identificam.
– E como está Bruno Fagundes no palco? Ele vem surpreendendo cada vez mais?
FAGUNDES – Ele está maravilhoso. Aliás, a estreia da peça foi algo extraordinário para ele. Fico muito
feliz por ver que Bruno está cada vez mais apaixonado pelo que está fazendo, pelo teatro.
– Mas dá para separar a figura do pai e do colega de cena?
FAGUNDES – Tem que separar sempre. Quando abrem-se as cortinas, tenho ali um colega a defender o mesmo espetáculo.
– Mas, você que sempre acompanhou o crescimento e desenvolvimento de Bruno, sabia que contracenar com ele era apenas uma questão de tempo?
FAGUNDES – Sim, era questão de tempo. Desde que ele decidiu fazer teatro, esperávamos por isso. Demorou para acharmos um texto ideal, mas estamos aí, juntos no palco, felizes.
– Você vê em Bruno o Antonio Fagundes no início da carreira?
FAGUNDES – Não existe nenhuma possibilidade de compararmos um ator com o outro, mesmo sendo pai e filho. Cada uma tem a sua personalidade. Bruno é único, eu também.
– São 46 anos de teatro. Já pensou em parar?
FAGUNDES – Nunca pensei em parar. Esta é a vantagem da profissão. Sempre haverá o papel de um velhinho para se fazer (risos).
– Mas você se considera um artista completo – teatro, cinema e televisão?
FAGUNDES – Não, isso não existe. Ninguém nunca é completo. Até o último momento se está aprendendo algo. Acho que se alguém chegar a ser completo é o fim.
– Na década de 1970, você participou de alguns filmes que eram chamados de comédias eróticas ou mesmo
pornochanchadas. Como foi essa experiência?
FAGUNDES – Aquilo era uma bobagem. Não tinha nada de erótico, de pornô. Era uma comédia, com uma pureza incrível. Não chocava ninguém. Foi uma experiência muito boa. O interessante é que tínhamos um público autêntico.
– Hoje não existe mais este público autêntico?
FAGUNDES – Não. Deixamos de investir na formação deste público de cinema.
– Quer dizer que não existe mais fidelidade?
FAGUNDES – Não tem nada haver com fidelidade; fidelidade é algo cego. Falo da falta de frequência.
Não formamos esse público. O único que se formou e, vez por outra, ainda dá problemas, é o público de
televisão.
– Por falar em televisão, você hoje está na nova montagem de Gabriela, que muita gente insiste se tratar de um remake. No mundo de Jorge Amado, você vive o coronel Ramiro Bastos. Existe algo em comum entre o personagem e o ator?
FAGUNDES – (Risos) Na verdade, não se trata mesmo de um remake, mas sim uma nova montagem.
Agora, não tenho nada a ver com o coronel Ramiro, e nem ele tem a ver com o personagem da peça
Vermelho. Essa questão de brincar com personalidades é algo mágico em nossa profissão.