Ator de formação, Oscar Filho saiu de Atibaia, interior de São Paulo, pensando em fazer teatro e novela, mas – de um dia para o outro – sua vida deu uma reviravolta: virou repórter e apresentador do CQC (Band) e… humorista. Ano passado, seu "Putz Grill…" foi premiado como o melhor show de stand-up comedy do País. "Não sei como explicar esse sucesso", desabafou.
Do início ao fim do espetáculo – que está em cartaz todos os sábados, pontualmente às 23h59, no Teatro Gazeta, em São Paulo -, o público não para de rir com piadas inteligentes e que abordam o dia-a-dia de um cidadão comum.
Oscar Filho conversou com a Free São Paulo na madrugada do domingo, dia 19, logo após sua apresentação no teatro. Mesmo bem-humorado, falou com seriedade do atual momento de sua carreira, do futuro, do humor politicamente correto e da televisão. Com 1m68 de altura, o que lhe rendeu do companheiro do CQC, Marcelo Tás, o apelido de "pequeno pônei", Oscar se mostrou um gigante do humor.
"Às vezes eu me pergunto se o espetáculo é realmente bom ou se as pessoas estão vindo para ver o cara da televisão"
– O "Putz Grill…" ganhou o "10º Prêmio Jovem Brasileiro" como melhor stand-up comedy em 2011. Como explicar o sucesso deste show?
OSCAR – Creio que as pessoas perderam a noção, não estão bem da cabeça (risos). Mas, falando sério, não sei explicar. Já batemos a marca de 500 mil pessoas que assistiram. Eu fico feliz, mas não entendo muito.
– Então, você não esperava esse sucesso, essa marca de público?
OSCAR – Quando sai de minha cidade, esperava um dia fazer sucesso, mas não sabia que seria tão rápido. Às vezes me pergunto se o espetáculo é realmente bom ou se as pessoas estão vindo para ver o cara da televisão.
– Dá para escolher entre o glamour da TV ou a liberdade do palco?
OSCAR – A liberdade do palco, total. Mas são duas coisas muito diferentes. No palco, a minha comunicação é direta, existe só o espaço entre eu e o público, é o que acontece na hora, não tem nada maquiando. Na TV, tem a matéria que faço, depois tem o produtor, aí tem o corte, a sonorização, a apresentação da bancada, aí vem a matéria. O produto, do começo ao final, percorre um espaço muito longo. A televisão traz esse negócio do glamour, mas acho que às vezes é até prejudicial, as pessoas acabam achando que você é só aquilo.
– Você não almeja a TV até o seu último suspiro?
OSCAR – Eu queria fazer coisas que eu gostasse na televisão, não gostaria de fazer qualquer coisa. Tenho vontade de fazer um Sitcom [seriados humorísticos, geralmente de meia hora]. Não sei se gostaria de fazer carreira na televisão. Não foi isso que planejei. Aconteceu e está sendo muito bom. Estou gostando do que estou fazendo. Mas não sei como vai ser daqui pra frente. Quando saí de minha cidade como ator, imaginava que ia fazer novela. Como te disse, foi tudo muito rápido. A televisão é muito sedutora, mas como é muito rápido, a toque de caixa, é algo muito industrial. A possibilidade de cair a qualidade também é muito rápida. Por isso não gostaria de levar qualquer coisa para o público.
– Oscar Filho é ator, diretor de teatro, repórter, humorista, cronista?
OSCAR – Cara, eu sou muito curioso. Me formei como ator, e hoje estou sendo repórter e apresentador de um programa de humor. Quer dizer, não tem nada a ver com o que eu tinha planejado. Não sei se eu me defino como alguma coisa. Demorou até para eu me definir como humorista, foi difícil pra mim, pois eu queria ser ator. Mas ainda quero fazer coisas como ator; coisas engraçadas ou mais sérias.
– O contato com o jornalismo despertou algo em você?
OSCAR – Quando faço o "Proteste Já" [quadro de denúncias do programa CQC], eu gosto de esmiuçar, saber a verdade para fazer aquilo melhor possível. Eu vejo o quanto é bacana fazer jornalismo na televisão, aí cai naquela coisa do não-diploma, então fica um pouco conturbado, como se qualquer pessoa que estivesse na TV pudesse fazer o papel de jornalista. Eu tenho muito respeito pela profissão.
– Observo que está tudo muito confuso ainda em sua carreira.
OSCAR – Não, não está confuso. Eu estou gostando do que faço, mas eu gostaria de ir além e não sei em quê. Eu não sei o que pode acontecer comigo ainda na TV.
– No teatro, você chegou a fazer peças dramáticas, inclusive trabalhando textos de Nelson Rodrigues. Analisando hoje o nosso dia-a-dia, a vida é dramática ou humorística?
OSCAR – Os dois, pois a vida é tão paradoxal! O que me deixa triste é o humor ser uma ótima ferramenta para contar isso, mas parece que só fica aí. As pessoas estão um pouco letárgicas. O humor, na verdade, deveria despertar: ‘isso é engraçado mas é trágico ao mesmo tempo.
– A política é boa fonte de humor?
OSCAR – Depende. A política é um humor um pouco desgastado. Se você pensar em fazer algo político, deve cair de cabeça. Não fazer por fazer, não fazer apenas para jogar no ventilador, pois é um assunto sério. Ao mesmo tempo despertar consciência na população e vontade de se fazer alguma coisa.
– Você é considerado uma das estrelas da "nova geração do humor". Como é essa nova geração?
OSCAR – As pessoas começaram a fazer stand-up. Estávamos muito acostumados ao humor de personagens, de um bêbado, da loira burra, do português, algo sempre que atinge o outro. Agora, o stand-up zoa com você mesmo, eu falo dos meus defeitos primeiro que todo mundo. Então, isso me deixa à vontade para criticar outras coisas. Primeiro eu me atinjo para, depois, atingir os outros.
– O stand-up está entrando na fase de seleção natural, mesmo surgindo, a cada dia, humoristas neste estilo?
OSCAR – Sim, como tudo. O boom do stand-up já aconteceu. Mas as pessoas bacanas estão indo para a televisão.
– Humor politicamente correto irrita?
OSCAR – (Careta) É porque ele te restringe. O humor sempre tem um alvo. Todo mundo tem alguma coisa engraçada para falar. Se eu não puder falar de baixinhos, ou de gordos ou de qualquer outra coisa, o que fazer?
– Então, se trata de uma censura?
OSCAR – Não sei se chega a ser censura, do não poder fazer. O humor politicamente correto é aquele que não pode falar porque as pessoas não gostam. Você nem sabe se não gostam ou se algumas é que não gostam. Quando eu faço uma piada que não pode no twitter muita gente gosta.
– Muita coisa do seu dia-a-dia, da sua infância em Atibaia, você trouxe para o "Putz Grill…". O cotidiano inspira para o stand-up?
OSCAR – Isso inclusive tem a ver com a resposta anterior. A piada precisa ter uma fonte sincera. Se uma coisa me incomoda, eu devo esplanar sobre isso. O Marie Bruce, um humorista que não era tão bom, começou a fazer algumas piadas que para ele significava, mas a sociedade começou a cair em cima dele. E ele resolveu devolver isso em forma de stand-up. Tem gente que pode aceitar ou não, mas aquilo bateu como verdade e ele precisava colocar pra fora. Agora quando você faz isso só porque acha que vai dar polêmica, não sei se vale muito.