Variedades

Entrevista com Vital do Rêgo

O senador Vital do Rêgo, presidente da comissão que apura as relações obscuras de um contraventor com políticos e empresas, diz não temer pressão e que há uma rede criminosa atuando no Brasil

O senador Vital do Rêgo (PMDB/PB) tem uma missão árdua pela frente: esclarecer, pelo menos nos próximos 180 dias, as relações obscuras do contraventor Carlinhos Cachoeira com empresas e políticos brasileiros. Vital é o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito Mista – formada por 32 parlamentares da Câmara e do Senado – que investiga o esquema.

"Será um trabalho difícil e muito exaustivo, principalmente na fase de depoimentos, pois são 81 réus", disse à reportagem, às 22h de segunda-feira, dia 7, minutos depois de ter encerrado a última reunião do dia sobre o Caso Cachoeira.

O presidente confirmou que, até o momento, não há nenhuma denúncia de irregularidade envolvendo a construtora Delta, um dos principais alvos da CPI, no Estado de São Paulo. Para Vital, paraibano de Campina Grande e com 48 anos de idade, muita coisa ainda precisar ser esclarecida, mas de uma não há dúvidas: que existe uma rede criminosa atuando no Brasil.

– O senhor acredita que a CPI que investiga as relações do contraventor Carlinhos Cachoeira com políticos e empresas é mais complexa e a mais importante da história recente do Brasil?

VITAL – Com certeza. Não tenho dúvidas disso até pelo seu ineditismo. A CPI começa quando a Polícia Federal e o Ministério Público já têm em mãos a apuração de uma rede criminosa atuando no Brasil; essa apuração já foi feita em alguns setores e estamos pegando o "trem andando". Vai ser uma investigação difícil.

– Mas o fato de o senhor estar pegando o "trem andando", não facilita os trabalhos da CPI?

VITAL – Ajuda muito, mas por outro lado aumenta a nossa carga de responsabilidade e nos obriga a aprofundar as investigações em outros setores. A Polícia Federal e o Ministério Público investigaram o jogo e a relação do jogo com a corrupção. Agora chegou a hora de investigarmos o jogo com o Estado, leia-se Poder Judiciário, Ministério Público, empresas, governos, PAC etc. Temos muitos vetores para investigarmos em 180 dias.

– Então o senhor já vislumbra um pedido de prorrogação das investigações? Vai dar para concluir os trabalhos em 180 dias?

VITAL – Há espaço para a prorrogação, mas o que sei agora é que teremos um trabalho exaustivo pela frente.

– Já dá para imaginar qual vai ser a fase mais complicada da CPI?

VITAL – Quanto às informações, temos quase todas elas, então não vejo problemas no que diz respeito ao acesso às informações. Agora vamos começar a fase de depoimentos [marcada para esta segunda-feira, dia 14], e são 81 réus. Creio que esta fase vai ser a mais complicada, a mais cansativa dos trabalhos.

– A construtora Delta, um dos principais alvos da CPI, está em 23 dos 27 Estados da Federação. Já deu para avaliar a ação desta empresa em São Paulo? A CPI virá para a capital paulista?

VITAL – A CPI vai investigar todas as ações relacionadas a empresas. Nossas investigações partem do Centro-Oeste. Agora, diante de possíveis denúncias sobre a malversação do dinheiro público, em qualquer parte do território nacional, nós vamos atrás. Até o momento, não chegou em minhas mãos nada que envolva o Estado de São Paulo.

– Não há desconforto de sua parte o fato de um número significativo de integrantes da CPI [são 32 membros e 32 suplentes] ter a "ficha suja", como é o caso do ex-presidente Fernando Collor, o ex-governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, e o senador Romero Jucá?

VITAL – (Silêncio) É o tipo de convivência que tem que existir, a convivência com os pares. É verdade que alguns respondem ações na Justiça, mas a grande maioria não. Vamos continuar trabalhando.

– Todos os dias, a imprensa divulga trechos de escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal no Caso Cachoeira. A CPI já tem em seu poder todas as gravações?

VITAL – Quase todas. Temos gravações da operação Vegas e parte da operação Monte Carlo. Faltam chegar trechos de mais uma operação da Polícia Federal. Estamos aguardando.

– O senhor não teme que as divulgações dos diálogos pela imprensa, depois que a CPI foi instaurada, não possa prejudicar as investigações?

VITAL – Não prejudica. A imprensa está no seu papel e ela vai ser respeitada.

– O depoimento de Carlinhos Cachoeira está marcado para o próximo dia 15. O senhor solicitou algum esquema especial de segurança para este dia?

VITAL – Não. O esquema de segurança está por conta da Polícia do Senado. Não solicitamos nenhum reforço.

– O senhor não teme sofrer algum tipo de pressão durante sua presidência na CPI?

VITAL – Não tenho sofrido nenhum tipo de pressão e, se porventura, surgir algum tipo de pressão, vou trabalhar achando que ela inexiste. Nenhum tipo de pressão irá me afastar de um trabalho sério e transparente.

Posso ajudar?