Estadão

Era proposta para ficar rico, aceitei sem saber quem era para matar; leia a delação de Lessa

Os relatos do ex-PM Ronnie Lessa, que revelaram os supostos mandantes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, foram colhidos por investigadores da Polícia Federal em uma série de encontros na Superintendência da Polícia Federal em Mato Grosso. Os dois anexos da colaboração que versam sobre a morte de Marielle e Anderson revelam não só o planejamento do assassinato, mas os meandros e a lógica do crime no Rio de Janeiro, assim como a ligação com milicianos.

Os trechos da colaboração de Lessa sobre o assassinato em março de 2018 são resumidos em seis vídeos e cerca de 150 páginas de relatos. Como mostrou o <b>Estadão</b>, o ex-PM rascunhou sua delação em doze páginas de um caderno, com os primeiros parágrafos sobre o crime escritos a mão por Lessa. Neles, o ex-PM classificou seus delatados como "alvos". Revelou frases que teria ouvido dos irmãos Brazão, apontados como mandantes das execuções.

A íntegra da delação revela alguns pontos que ainda não tinham sido divulgados. Lessa disse que quando aceitou participar da empreitada, mal sabia quem seria o alvo do assassinato. Ele narrou que foi procurado pelo miliciano Macalé sobre uma "proposta muito boa, que era para ficar rico". Ele disse que "obviamente se interessou". "Uma proposta realmente indecente". Ouviu que teria que matar. "Não tem problema eu aceitei. De cara. Sem saber até quem é".

Segundo o relator, Macalé tinha relação estreita com os irmãos Brazão, os chamando inclusive de "padrinhos". Na versão de Lessa, o elo entre os quatro foi construído "em um ambiente de passarinho, cavalo e mata". "O Macalé, passarinheiro nato, eu me aventurava a ter um passarinho ou outro, mas meu negócio era mais beber cerveja e jogar sinuca e cerveja sempre gelada. Nesse ambiente eu conheci os Brazão", narrou, como mostrou o <b>Estadão</b>.

A íntegra da delação também mostra que Lessa só ficou sabendo que tinha matado o motorista Anderson Gomes na mesa de um bar, horas após o assassinato. Ele narrou que foi com Élcio Queiroz – outro acusado pela morte da vereadora e do motorista – a um bar chamado Resenha, onde viram um jogo de futebol e estavam bebendo. Na ocasião, o garçom mostrou as fotos do crime para a dupla e então eles descobriram que tinha mais uma pessoa morte.

"Vi nas fotos do Whatsapp que o motorista estava morto; não era a finalidade também; então ali nós ficamos sabendo que tinha duas pessoas mortas e a coisa ficou mais tensa ainda; começamos a beber mais um pouquinho, o jogo acabou e as pessoas se dispersaram", contou.

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