Pela segunda vez no ano, o Brasil participa de uma cúpula convocada por Joe Biden. Hoje, no entanto, o presidente Jair Bolsonaro não espera estar no foco das críticas – diferentemente do que aconteceu em abril, no encontro sobre o clima. A mudança é reflexo da deterioração da democracia nos EUA e da lista de convidados para o evento.
Ao lado de 110 líderes, Biden tenta se mostrar protagonista na defesa da democracia, dos direitos humanos e no combate à corrupção. Mas o americano tem sido alvo de críticas por preferir seguir interesses estratégicos a valores democráticos ao convidar governos de viés autoritários, como Polônia, Iraque e Paquistão – além de excluir os rivais Rússia e China.
O auge da deterioração da democracia americana ocorreu no dia 6 de janeiro, quando extremistas atacaram o Capitólio para tentar impedir a certificação da eleição presidencial de 2020. O constrangimento reduz a pressão sobre Bolsonaro, visto como um líder de aspirações autoritárias, em razão da defesa da ditadura, dos ataques ao Congresso, ao Supremo Tribunal Federal, ao sistema eleitoral e à mídia.
Em dois momentos na última semana, autoridades do governo Biden foram questionadas sobre a situação do Brasil. Em todas as ocasiões, as respostas foram diplomáticas, evitando atrito com Brasília. O diretor do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Juan Gonzalez, afirmou que os americanos têm plena confiança na capacidade do Brasil de conduzir eleições democráticas em 2022, devido à robustez das instituições brasileiras. No Itamaraty, o convite foi comemorado como um alívio e apontado como um sinal de que, independentemente do presidente, o Brasil ainda é visto como uma democracia sólida na região.
<b>Sem novidades</b>
A lista de compromissos a serem assumidos pelo Brasil na cúpula, segundo fontes, não trará medidas inéditas. A ideia é reafirmar princípios já estabelecidos na Constituição, como o compromisso de realizar eleições livres, além de destacar temas caros ao presidente, como a defesa da liberdade de expressão. Bolsonaro também falará do Plano Nacional Anticorrupção.
A defesa da liberdade de expressão, segundo assessores do presidente, é um dos principais pontos mencionados por Bolsonaro no vídeo de três minutos gravado para a cúpula. Apesar de a liberdade ser defendida por qualquer presidente democraticamente eleito, a ideia de Bolsonaro é oposta à que tem sido discutida nos EUA.
O presidente brasileiro costuma alegar que há censura no caso de remoção de conteúdo comprovadamente falso das redes sociais ou de perfis que incitam a violência. Já a Casa Branca de Joe Biden defende a discussão sobre formas de controlar a desinformação online.
<b>Influência</b>
A cúpula acontece virtualmente – nesta quinta, 9, e sexta, 10. Após a abertura, feita por Biden, os líderes terão duas horas de reunião fechada, sem transmissão. Segundo assessores do presidente, Bolsonaro deve participar da primeira hora apenas e não há previsão de que discurse. Bolsonaro já enviou uma carta a Biden agradecendo o convite.
Os vídeos dos líderes internacionais serão exibidos ao longo dos dois dias. O nome de Bolsonaro não está na lista divulgada pelo Departamento de Estado dos que serão apresentados hoje, na abertura da cúpula, e deve ser transmitido apenas amanhã.
"Biden espera reconquistar a credibilidade dos EUA como campeão da liberdade global. Mas será difícil para os EUA desempenhar esse papel se não consegue promovê-la na América Latina, a região onde os EUA historicamente gozaram de maior influência", afirma Benjamin Gedan, ex-diretor para América do Sul do Conselho de Segurança Nacional dos EUA. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>