Deflagrada em 17 de março pela Polícia Federal, a Operação Lava Jato revelou um grande esquema de corrupção envolvendo a principal estatal brasileira, a Petrobras, colocou na berlinda, em pleno período eleitoral, os principais partidos da base governista – PT, PMDB e PP -, respingou na oposição, também suspeita de receber dinheiro desviado, e bateu à porta do Palácio do Planalto nos dias que antecederam a votação deste 2º turno da disputa presidencial.
A terceira etapa das investigações, que começa agora a ser colocada em prática após as delações premiadas do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, terá como alvo o centro do poder da República, com estragos políticos ainda imprevisíveis. O primeiro escalão das gestões petistas (2003 a 2014), parlamentares de situação e oposição e ministérios estratégicos, como Minas e Energia, Saúde e Transportes, serão foco da devassa.
A narrativa do escândalo, construída a partir dos depoimentos dos dois principais alvos da operação – Costa e Youssef, que querem reduzir suas penas ao colaborar com a Justiça por meio de delação -, traz ao público um esquema que teria sido criado a partir de 2004 e reforçado no ano seguinte, já sob influência das denúncias do mensalão.
Com a operação do empresário Marcos Valério exposta pelas acusações do ex-presidente do PTB Roberto Jefferson, os parlamentares da base aliada do governo Luiz Inácio Lula da Silva passaram, segundo os delatores, a mirar os contratos da Petrobrás.
A partilha, segundo os depoimentos do ex-diretor e do doleiro, envolvia propinas para PT, PMDB e PP de até 3% dos grandes contratos fechados pelas empreiteiras com a estatal petrolífera, boa parte deles ligada à construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco.
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi apontado como o responsável por operar parte do esquema de arrecadação, que era intermediado com as empreiteiras por Costa, cujo nome foi imposto pelo PP ao governo Lula. Ele ficou na diretoria de Abastecimento de 2004 a 2012.
O dinheiro desviado, contaram os delatores, também foi parar nas contas do PSDB, partido de oposição, e do PSB, que já foi governista e hoje é adversário do PT. Segundo os relatos feitos na delação premiada, os tucanos cobraram R$ 10 milhões, entre 2009 e 2010, para abafar a CPI da Petrobras, aberta no Senado para investigar, entre outras coisas, a obra de Abreu e Lima. A comissão no Congresso, que tinha ampla maioria do governo, acabou sem conclusões.
No caso do PSB, o senador eleito Fernando Bezerra Coelho é acusado de ter pedido e recebido R$ 20 milhões em 2010 para a campanha de reeleição do então governador de Pernambuco, Eduardo Campos – morto em um acidente aéreo em agosto, quando era candidato ao Palácio do Planalto. Bezerra é ex-ministro de Integração Nacional do governo Dilma Rousseff, cargo que ocupou de 2011 – quando foi indicado por Campos – a 2013.
A Polícia Federal começou a ter as primeiras pistas de que algo errado ocorria nos grandes contratos da Petrobras em meados do ano passado. Passou a investigar o caso. Foi só a partir da deflagração de prisões de alguns dos envolvidos, neste ano, no entanto, que os policiais federais se deram conta de que estavam diante de algo muito maior.
Agora, os nomes de Lula e Dilma também estão no caso, a partir de revelação feita na sexta-feira, 24, pela revista Veja. Segundo a publicação, Youssef afirmou na delação premiada que a presidente e o ex-presidente sabiam do esquema na Petrobrás. Dilma vê nas denúncias uma forma de “golpismo” e “terrorismo eleitoral”. Todos os outros políticos e dirigentes partidários citados pelo doleiro e pelo ex-diretor negam enfaticamente relação com o esquema apontado pelos delatores. Após a votação deste domingo, 26, em um ambiente descontaminado pela disputa eleitoral, a Polícia Federal espera separar o que é fato e o que é só versão.
Gestão
A ironia no caso Petrobras – apontada tanto por aliados do Palácio do Planalto quanto por detratores – é que foi Dilma quem ajudou a levar a estatal para o centro do ringue político em ano eleitoral. No mesmo dia em que a Polícia Federal deflagrava a Operação Lava Jato, em 17 de março, a presidente se debruçava sobre uma questão: como responder ao fato de ter aprovado a malfadada compra da refinaria Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006, quando era ministra da Casa Civil de Lula e comandava o Conselho de Administração da estatal. O questionamento havia sido feito pelo jornal O Estado de S. Paulo naquele dia a partir de informações de que Dilma em nenhum momento se opusera ao negócio em sua primeira fase, quando 50% da unidade foi adquirida.
Tratava-se de uma compra polêmica pelo fato de a Astra Oil, antiga proprietária, ter pago valor muito inferior ao que fora desembolsado pela estatal para obter 50% da unidade. A suspeita é de que a Petrobrás havia feito, no mínimo, uma barbeiragem administrativa sob consentimento da então ministra Dilma.
Na resposta enviada ao jornal, a presidente acabou deflagrando uma crise interna na companhia. Afirmou que só apoiara a compra da refinaria porque havia se baseado em um parecer técnico “falho”, sem todas as informações necessárias para a concretização da transação. O Tribunal de Contas de União (TCU) apontou prejuízo de US$ 792 milhões na compra da refinaria e responsabilizou a diretoria pelo rombo, isentando o Conselho de Administração. As investigações das autoridades, porém, permanecem em curso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.