Economia

Escolas abrem as portas para estágio durante o ensino médio

Em colégios particulares de São Paulo, estudantes têm dado uma pausa na sala de aula para encarar a rotina do escritório. Os alunos fazem estágios curtos em empresas durante o ensino médio, com supervisão dos professores. Os principais objetivos são conhecer um ambiente profissional e ajudar na escolha da carreira.

Apaixonado por publicidade e design, Gustavo Costa, de 16 anos, teve a chance de conhecer uma editora por dentro. “Acompanhamos como o pessoal trabalhava: na redação, na diagramação e no setor digital da revista”, conta o jovem aluno do 2.º ano do Colégio Humboldt, em Interlagos, na zona sul da capital. Ao longo de uma semana, ele também colocou a mão na massa e ajudou em pequenas tarefas.

O estágio foi feito no mês passado. Segundo Costa, a experiência reforçou a opção por Publicidade e Propaganda, curso que deve tentar no vestibular no próximo ano. “Isso me ajudou a entender as ramificações do setor”, diz o jovem, que faz pequenos trabalhos esporádicos de criação visual, fora da escola, há quase dois anos.

A diretoria do colégio negocia as vagas de estágio com empresas parceiras – de diferentes portes, algumas multinacionais – e de parentes dos alunos. A ideia é que todos consigam se encaixar em setores com os quais têm afinidade. Em alguns casos, como em hospitais, a entrada dos adolescentes é mais difícil.

O foco da atividade é a orientação profissional. Estagiar no 2.º ano dá tempo ao aluno para refletir sobre a experiência até a escolha no vestibular, na série seguinte. “Essa experiência é importante para que os estudantes tenham conhecimento empírico, real, sobre o ambiente de trabalho”, diz Erik Hörner, coordenador de Ensino Médio do Humboldt. “Não é apenas a dinâmica da empresa, mas também o aconselhamento com profissionais que já trabalham na área”, afirma. No período do estágio, eles ficam dispensados das aulas.

Áreas tradicionais, como administração e engenharia, costumam ser as favoritas. Segundo Hörner, recentemente têm ganhado força campos menos tradicionais, como produção cultural e gastronomia.

Além do estágio, os alunos do ensino médio participam de palestras, oficinas de elaboração de currículo e até entrevistas com gerentes de recursos humanos de empresas, que vão à escola para simular o processo seletivo para uma vaga.

Amadurecimento

No Colégio Santa Maria, no Jardim Marajoara, na zona sul de São Paulo, os alunos do 2.º ano do ensino médio também costumam fazer estágios. Com o contato com a profissão, vale a oportunidade de vivenciar logo cedo um ambiente de trabalho – diferente do clima descontraído da escola, desde as roupas até o comportamento.

“Fui até de saltinho”, conta Beatriz Braile, de 17 anos, que termina o ensino médio neste ano. “A empresa e a coordenadora da escola deram orientações sobre roupa, por exemplo”, conta a jovem, que passou uma semana no setor de recursos humanos de uma empresa internacional de tecnologia.

Outra novidade, segundo Beatriz, foi enfrentar um processo seletivo. “Fiquei com medo. No começo, eram dez alunos interessados na área e só duas empresas haviam oferecido vagas”, afirma ela, que fez o estágio no ano passado.

Na empresa, a jovem passou por alguns setores, participou de reuniões, conferências e análise de currículos. “Isso também me ajudou a ver a importância de estudar um idioma. Vi que se o inglês é básico ou intermediário, o currículo é dispensado.” Após a experiência, ela confirmou a escolha no vestibular: Administração.

Algumas das companhias parceiras do Santa Maria fazem exigências para receber os estagiários. Uma empresa de jornalismo, por exemplo, pode demandar somente estudantes que tirem nota máxima em Língua Portuguesa.

“E, depois da atividade, a troca de vivências entre os alunos é bem rica”, diz Maria Soledad Gandini, orientadora pedagógica da escola. “Alguns alunos gostam tanto que voltam ao local nas férias. Tivemos alguns que foram contratados como estagiários efetivos e outros que hoje atuam nas empresas pelas quais passaram no ensino médio.” A atividade é facultativa.

Mudança de rumo

Com o aluno Victor Noda, de 17 anos, também do Santa Maria, a experiência foi diferente. Cinéfilo, o jovem optou pelo estágio em um set de filmagens, onde era gravado um documentário. Ele gostou do ambiente, mas a conversa com profissionais da área fez com que desistisse de cursar Cinema na universidade. “O pessoal contou como os salários não são altos e o mercado é difícil”, diz Noda.

A experiência também transformou a visão que tinha sobre a produção audiovisual. “Geralmente, pensamos em filme de Hollywood, mas existem outros modos de fazer cinema”, diz Noda, hoje no 3.º ano do ensino médio. Ele, que fez o estágio em 2014, agora pretende cursar Relações Internacionais.

Para Maria Soledad, experiências desse tipo também fazem parte do processo. “Os alunos chegam nesta etapa ainda muito crus. Costumam fazer idealizações ou ter noções confusas sobre profissões parecidas.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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