Sem os patrocínios milionários de carnavais anteriores, os desfiles das escolas de samba do Rio se anunciavam menos opulentos do que os de anos passados, mas a crise financeira não passou na Sapucaí. Com boas ideias, bons sambas e o engajamento dos componentes, cinco escolas se destacaram, qualificando-se para o Desfile das Campeãs, no próximo sábado: Salgueiro, Portela, Unidos da Tijuca, Beija-Flor e Mangueira.
A Beija-Flor e a Unidos da Tijuca saíram no domingo e levaram carros alegóricos e fantasias bem elaborados. Nesta quarta-feira, 9, Portela e Salgueiro concluíram a passagem pela Sapucaí aos gritos de “é campeã” do público. A Azul-e-Branca desenvolveu um enredo interessante sobre viagens, do carnavalesco Paulo Barros. Ele costuma deixar a Sapucaí boquiaberta com suas ideias originais, e dessa vez, com uma longa viagem da Antiguidade às jornadas interplanetárias, não foi diferente.
O carro que representava as viagens de Gulliver, personagem criado pelo autor irlandês Jonathan Swift, impressionava pela escultura de 18 metros de altura, escalada por alpinistas, os liliputianos da história de Swift. O público também ficou surpreso com o disco voador do carro dedicado à série Perdidos no Espaço, um drone que sobrevoava a Sapucaí.
Com uma ode ao malandro, o Salgueiro tinha o melhor dos 12 enredos do Grupo Especial, e também o melhor samba, de refrão contagiante e sabor africano. A escola, mordida por dois segundos lugares seguidos, em 2014 e em 2015, retratou o malandro das ruas, dos becos, do boteco, do carteado.
Bethânia e sertanejos
A Mangueira já foi campeã com enredos de louvação a Braguinha, Chico Buarque, Dorival Caymmi e Carlos Drummond de Andrade e, acertadamente, apostou nessa sua tradição. O público foi muito caloroso e cantou o samba, de refrão que mencionava sucessos de Maria Bethânia – “Quem me chamou… Mangueira/ chegou a hora, não dá mais pra segurar” – da entrada da escola até depois do encerramento do desfile.
A religiosidade da cantora baiana, que passa tanto pelos santos católicos quanto pelos orixás dos cultos africanos, foi o caminho que o carnavalesco estreante Leandro Vieira usou para falar da protagonista do desfile, a “menina dos olhos de Oyá (Iansã)”.
A trajetória artística de 50 anos da intérprete foi lembrada por meio de músicas como Carcará e Mel. O irmão, Caetano Veloso, e um grupo grande de artistas, entre eles, Ana Carolina, Martinho da Vila e Martnália a celebraram.
Bethânia desfilou no último carro, que representava o circo, uma paixão sua da infância. Muito comovida, reverenciou o público o tempo todo, agradecida. “Sou filha de Oyá, então é tudo pra ela”, declarou.
Ela já havia sido o enredo em 1994, com os Doces Bárbaros (Caetano, Gilberto Gil e Gal Costa), quando o resultado foi sofrível, consequência de problemas logísticos: a agremiação ficou em penúltimo lugar.
Brasil sertanejo.
Antes da Mangueira, a Imperatriz fez seu tributo a Zezé Di Camargo e Luciano, que não empolgou o público, apesar da grande popularidade da dupla sertaneja e do ótimo samba, que citava o verso “É o amor”, da mais famosa canção dos dois.
O carnavalesco Cahê Rodrigues lembrou a história dos irmãos que começaram pobres, no interior de Goiás, e seguiu o que já havia mostrado o filme Dois Filhos de Francisco (2005), de Breno Silveira. Também tratou de expressões da cultura goiana, como o Auto do Divino Espírito Santo, os festejos, e a festa sertaneja.
Outras
Os desfiles da Vila Isabel, que homenageou o centenário do governador Miguel Arraes (1916-2005), e da São Clemente, com Mais de mil palhaços no salão, trouxeram à avenida questões político-sociais: a primeira trouxe a pobreza e a seca no Nordeste; a segunda encenou até um panelaço ao fim. A apuração das escolas do Grupo Especial ocorre nesta quarta-feira, 10, a partir das 15h45, no sambódromo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.