Testes semanais e simulados desde o ensino fundamental se tornaram estratégias de escolas particulares de São Paulo na preparação para o vestibular. Segundo os colégios, a ideia é acostumar os alunos ao formato das provas e melhorar o acompanhamento da aprendizagem. Mas o cuidado, para especialistas, é não incentivar um ambiente de nervosismo e disputa entre os estudantes.
O Colégio Visconde de Porto Seguro, no Morumbi, zona sul, adotou neste ano provas semanais, de duas ou três disciplinas por vez, no ensino médio. Para o professor, serve como diagnóstico constante do aprendizado. “O aluno tem feedback logo depois de ter estudado”, explica Carlson Toledo, diretor de ensino médio da escola.
Para o aluno, o objetivo é manter a disciplina de estudos fora da classe. Lucas Salgueiro, de 17 anos, do 3º ano do ensino médio, aprovou a novidade. “Por mais que se faça exercício em casa, a gente não sabe como vai ser na hora do teste, com a ansiedade.” Neste ano, houve ainda aumento da carga horária de aulas no colégio. Os ajustes levaram em consideração o perfil dos principais processos seletivos do País e exterior.
Desde cedo
No Colégio Pio XII, no Morumbi, zona sul, a maratona de simulados já começa no 6º ano do fundamental. Os alunos fazem provas a cada dois meses, em salas diferentes das que têm aulas, com carteiras etiquetadas e colegas de outras turmas. O ambiente é semelhante ao de um vestibular. No 6º e 7º ano, são 60 questões de múltipla escolha. No 8º e 9º, são 80 e, no ensino médio, 90 itens compõem o teste, como na primeira fase da Fuvest, exame de ingresso na USP.
Joana DArc dos Santos, de 13 anos, diz que melhorou seu desempenho. “No início, era mais difícil. Agora, demoro menos tempo para responder às questões.” Os testes tratam de todas as disciplinas. A meta é que, quando chegarem ao ensino médio, os alunos solucionem cada pergunta em pouco mais de três minutos, tempo médio estimado nos vestibulares tradicionais.
“Vai diminuindo o medo da prova”, diz Joana, que está no 9º ano do fundamental. Além de testar conteúdo, os simulados são um treino psicológico, explica a diretora do colégio, Fátima Miranda. “O vestibular também é uma prova de resistência emocional.”
Apesar da frequência dos simulados, as duas escolas afirmam que se preocupam em manter o equilíbrio entre os exames e outros momentos de formação dos alunos, como atividades culturais e esportivas.
Sem estresse
Em algumas escolas, o treino rígido para o vestibular pode se tornar exagero. Isadora Ambrósio, de 18 anos, estudava em um colégio que priorizava o ingresso na universidade. Ela saiu para fugir da pressão. “Era um ambiente opressor, bastante competitivo. Eles colocavam nossas notas em um mural”, conta a jovem, hoje no 3.º ano do ensino médio. Com médias ruins na época, ela teve até de tomar remédios contra ansiedade.
No meio de 2014, ela mudou para o Colégio Oswald de Andrade, na Vila Madalena, zona oeste. “Aqui se pensa em vestibular de um jeito mais tranquilo, o que não significa que estejamos menos preparados.” Segundo Isadora, diferentemente do colégio antigo, há mais espaço para outras atividades.
Eduardo Campos, diretor pedagógico do Oswald, afirma que a agenda de provas é menos pesada, mas há atenção para o vestibular. “É importante preparar para passar essa etapa”, diz. “Mas estamos muito interessados em como o aluno vai desenvolver a vida dele na faculdade e no trabalho.” É comum o colégio atrair estudantes com o perfil de Isadora, menos concentrados na lógica de exames. “Isso está tanto no nosso discurso quanto no dos pais.”
No Colégio Vértice, no Campo Belo, zona sul, há verificações de aprendizado surpresa, semanais ou quinzenais, com exames, exercícios ou avaliação de caderno, desde o fundamental. Adilson Garcia, diretor da escola, reconhece que essa rotina não funciona para todos.
“É importante que as famílias ouçam a proposta pedagógica da escola para ver se há alinhamento no que buscam, no que conhecem dos filhos, e o que oferecemos”, diz Garcia. Segundo ele, a cobrança nunca fica acima das possibilidades da turma e do estudante. “Se o professor coloca a avaliação em um nível muito alto, o aluno não consegue fazer e fica desmotivado.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.