Os partidos de extrema direita que negociavam a formação de um poderoso bloco eurocético no Parlamento Europeu para minar o projeto de integração sofreram um golpe ontem, quando os nacionalistas da Polônia e o Partido do Brexit, do Reino Unido, disseram que não se juntarão ao grupo.
A ultranacionalista Liga, da Itália, foi uma das maiores vencedoras das eleições europeias da semana passada. Seu líder, o vice-premiê Matteo Salvini, tentou convencer os partidos nacionalistas europeus a deixar de lado as diferenças para formar um bloco coeso no novo Parlamento.
A ideia era reunir o maior número possível de legendas na Aliança Europeia dos Povos e Nações. Dez partidos do grupo elegeram eurodeputados, dos quais os principais são Liga, da Itália, Reunião Nacional (RN), da francesa Marine Le Pen, e a Alternativa para a Alemanha (AfD).
Os eurocéticos de direita, ultradireitistas ou conservadores conseguiram eleger 173 eurodeputados – 23% do total. No Parlamento, essas forças estão divididas em três grupos, sendo dois ultradireitistas e um conservador críticos à UE.
A posição pró-Rússia de Salvini, da RN e da AfD levou Jaroslaw Kaczynski, líder do Partido Lei e Justiça (PiS), que governa a Polônia, a descartar a possibilidade de participar da coalizão. Além disso, o Partido do Brexit de Nigel Farage, que obteve 29 dos 72 assentos britânicos no Parlamento Europeu, também disse que não se juntará ao grupo – o Reino Unido deve deixar a UE em 31 de outubro, mas deputados tomarão posse em julho e permanecerão até o Brexit.
Expressando ceticismo, Kaczynski criticou o vice-premiê italiano. “Quando se trata de Salvini, temos um problema: ele quer criar um novo grupo com formações que não podemos aceitar. Temos propostas totalmente divergentes que não podemos aceitar.”
O partido de Marine Le Pen, a AfD e a Liga têm boas relações com a Rússia, uma posição com a qual o PiS polonês não concorda, tanto por discordâncias em relação aos projetos russos para a Polônia quanto pela tradicional desconfiança polonesa com relação ao Kremlin.
O partido polonês defende valores católicos tradicionais e é contra aquilo que considera ser o expansionismo russo na Ucrânia e em outros lugares. A sigla conquistou 26 dos 51 assentos atribuídos à Polônia no Parlamento Europeu e deve se unir ao grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus.
Disputas. Salvini apostava que a ambição comum dos partidos eurocéticos de moldar o futuro do bloco, devolvendo mais poderes aos Estados-membros e impondo novas restrições à imigração, superasse qualquer preocupação com a influência da Rússia. No geral, os partidos de extrema direita tiveram um desempenho menor do que o esperado nas eleições da União Europeia, particularmente na Alemanha e na Holanda.
Na semana passada, o primeiro-ministro nacionalista húngaro, Viktor Orbán, também distanciou seu partido, o Fidesz, do grupo eurocético de Salvini, enquanto tentava restaurar laços com os principais partidos de centro-direita da Europa.
O chefe de gabinete de Orbán, Gergely Gulyas, disse ontem que não vê “muita chance de cooperação em nível partidário ou em um grupo parlamentar conjunto” na UE.
Em um aparente gesto para apaziguar os principais aliados da UE, Orbán, que está suspenso do Partido do Povo Europeu (EPP), grupo de partidos de centro-direita, interrompeu inesperadamente reformas judiciais que, segundo os críticos, reduziam a independência do Judiciário na Hungria
O grupo da Europa das Nações e da Liberdade (ENL) no Parlamento tem 34 deputados, depois de várias saídas de partidos e até de cisões. Após as eleições, poderá crescer para 58 deputados, o que não chega perto das expectativas de Salvini, de um grupo com mais de 100 deputados de 10 países.
“Era uma cisão esperada, por que as direitas nacionalistas na Europa têm expectativas diferentes e desejos completamente diferentes”, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo o pesquisador britânico Jamie Bartlett, do Instituto Demos, especialista em populismo na Europa. “Essas discordâncias podem ser colocadas de lado em algum momento, mas algumas delas são difíceis de superar e exigirão negociações.” (Rodrigo Turrer, com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.