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ESPAÇO AAPAH – A peleja do turismo de Guarulhos

Como espectador privilegiado e ator da economia do turismo na cidade, resolvi escrever este artigo para compartilhar o que realmente acontece em Guarulhos e porque a atividade turísitca não se desenvolve na cidade do maior Aeroporto da América do Sul. Para isso vou dissertar sobre duas questões: como é o turismo de Guarulhos e quais as travas do seu desenvolvimento. Para começar respondo de uma vez por todas se há ou não turismo em Guarulhos. 
 
Pelos conceitos universais da atividade turística definidos pela OMT (Organização Mundial do Turismo) o turismo acontece quando um viajante permanece em uma localidade, diferente do lugar onde vive, num período superior a 24 horas e inferior a um ano com fins de lazer, negócios, ou outros. Se está a menos de 24 horas, por definição chama-se excursionismo; se está mais de um ano já é considerado residência.
 
Guarulhos tem Turistas. Sim, estima-se que em 2014 mais de 1,27 milhão  de pessoas se hospedaram nos hotéis da cidade, quase 72% vindos a negócios. Além disso, eventos anuais trazem um grande fluxo de pessoas à cidade (só a Festa de Bonsucesso são mais de 40.000 visitantes em agosto), e mesmo por excursionismo Guarulhos é um grande pólo para ocomércio da região com destaque para o Calçadão da Dom Pedro e Shopping Internacional, só no primeiro mais de 1 milhão de pessoas/mês circulam no centro entre visitantes e moradores da cidade.
 
Guarulhos faz parte de dois circuitos turísticos aprovados em lei estadual e federal: Circuito das Águas e Nascentes (municípios da região das nascentes do Rio Tietê) e Circuito Entre Serras e Águas (cidades cortadas pela Serra da Cantareira). Ademais há um histórico de políticas públicas e entidades que atestam a vocação turística da cidade. O Conselho Municipal de Turismo de Guarulhos que orienta as políticas públicas existe a mais de 12 anos.
 
Pois bem, sabendo que ele existe de fato é preciso identificar onde estão as suas deficiências e quais os entraves para o desenvolvimento. Para isso recorro, da forma mais simples de explicar, a mais uma teoria do turismo, definido pelo professor Mario Beni que é o Sistema de Turismo: SISTUR.
 
Uma pessoa que viaja passa ser atendida por diversas empresas: cias aéreas, taxis, hotéis, restaurantes, agências de viagem… Ao longo de sua estadia são várias as empresas e pessoas que ajudarão a compor a experiência da viagem ou o que chamamos de produto turístico.
 
O produto turístico (viagem) pode variar em cada destino, mas em linhas gerais para se consolidar é preciso estar como todas essas empresas e elementos da cidade funcionando em harmonia. É este conjunto que define o que acontece na cidade turística e como ela se prepara para receber visitantes. São quatro elementos principais: acesso e transporte, meios de hospedagem, alimentação, atração e operação.
 
Se formos avaliar os quatro elementos do que é necessário para acontecer o Turismo em Guarulhos podemos concluir que os elementos atração e operação são os mais deficientes na cidade. Apesar de possuir um ótimo acesso (principais rodovias, aeroporto internacional, rede de taxi e ônibus), ampla oferta gastronômica (considerando só locais turísticos Guarulhos tem mais de 100 estabelecimentos preparados para serem ofertados), rede hoteleira (mais de 18 empreendimentos com 80% das acomodações pertencentes a grandes redes nacionais e internacionais) é na atração e operação os maiores gargalhos.
 
Portanto o principal fato para entendermos essa relação não é que o turismo não exista em Guarulhos, mas é que ele é pouco desenvolvido em detrimento do seu potencial.
 
Indico aqui algumas sugestões do que precisa ser feito imediatamente e quais os gargalhos a enfrentar:
 
1) Construir um Centro de Convenções;
 
2) Criar o Plano de Marketing da cidade;
 
3) Implantar a política pública de Turismo – PDTIS , que já possui os projetos e verbas para dar conta de todas as demandas não
desenvolvidas;
 
4) Fortalecer a gestão pública, com orçamento e equipe qualificada, uma vez que esta é a principal articuladora do desenvolvimento municipal;
 
5) Fortalecer as entidades e instâncias de governança de apoio ao turismo;
 
6) Investimento do setor privado em projetos estruturais;
 
Os maiores gargalhos são:
 
1) O turismo está fora da pauta do desenvolvimento econômico da cidade. Aliás, o desenvolvimento econômico está fora da pauta do governo municipal. Este é um recado direto para a alta administração executiva e legislativa. Uma não faz, a outra não fiscaliza, em cadeia desestimula todos os demais setores.
 
2) Falta de investimento privado em projetos coletivos. Afora poucas iniciativas é muito tímida a participação e interesse dos agentes privados da cidade, das empresas às entidades de classe.
 
3) Falta de foco e entendimento da situação global. Muitos atores desarticulados de uma estratégia explícita para o destino.
Posto isto espero contribuir e ampliar as discussões deste debate tão importante para a vida na cidade. Turismo é um conjunto de atores e empresas e não se faz por uma nota só. É preciso articulação, entendimento e um olhar honesto sobre a realidade. De peleja a case de sucesso temos um longo caminho.
 
Danilo Duarte Ramalho é turismólogo e Diretor Executivo do GRU Convention&Visitors Bureau. Foi presidente do Conselho Municipal de Turismo de 2012-2013.
 

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