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ESPAÇO AAPAH – Bonsucesso e a tradição do sincretismo religioso

Sala dos Milagres, local onde os fiéis depositam sua gratidão pelas graças alcançadas. Ano 2015. Acervo: AAPAH/Bruno Leite de Carvalho.
 
A AAPAH – Associação de Amigos do Patrimônio e Arquivo Histórico realizou, no dia 15 de agosto, mais uma caminhada turística e histórica pelo Santuário do Bonsucesso, incluindo: Igreja Nossa Senhora de Bonsucesso, Sala dos Milagres, Capela de São Benedito e o casario, complexo que ainda conserva traços do legado colonial, como paredes de Taipa de Pilão e o clima bucólico e interiorano de uma vila rural. 
 
A região de Bonsucesso é um dos marcos fundadores de Guarulhos e, podemos correlacionar sua exploração precoce com a descoberta de ouro nas margens do Rio Baquirivu, de modo que, a recente historiografia do Brasil Colonial vem sugerindo que São Paulo tem uma importância muito maior no passado aurífero do que se presumia, antecedendo Minas Gerais por quase um século. 
 
O ouro e a localização estratégica de Guarulhos, como local de pouso e passagem por São Paulo, Santos, Rio de Janeiro e Minas Gerais, possibilitou que, pela futura cidade, transitassem bandeirantes e outras personalidades, como a família Bragança, a constituição de aldeamentos jesuítas, a exemplo, o de São Miguel aos arredores de Bonsucesso, bem como a vila rural edificada no local onde se encontra o Santuário. 
 
O local abriga ainda hoje uma das festas mais antigas e tradicionais da cultura popular do país, a Festa de Nossa Senhora de Bonsucesso e a Festa da Carpição, que é uma mistura plural do sincretismo religioso e um retrato do Brasil mestiço. As culturas cabocla, nordestina, católica e africana convivem dentro da Sala dos Milagres localizada num espaço separado por uma parede de Taipa de Pilão dentro da Igreja de Nossa Senhora de Bonsucesso, lá é possível observar os mais variados estilos de fé, petições, santos e imagens das variadas crenças que representam o país. 
 
É interessante observar que de todas as tensões que, os ritos de folias de reis, congadas, moçambiques, catiras, a própria carpição, poderiam ter causado contra a moral católico-cristã ortodoxa, é um tanto óbvio concluir que, em quase três séculos de história, prevaleceu as práticas do sincretismo no imaginário popular da região. Caso contrário, essas festas já teriam se esvaziado e o espaço do Santuário de Bonsucesso perdido o seu significado através do tempo. 
 
Todavia, a caminhada, que proporcionou ao grupo uma experiência de monitoria com membros paroquiais da igreja, deixou transparecer como os elementos mais variados do sincretismo foram incorporados, ao longo do tempo, como ritos tradicionais de fé e devoção, bem como é notório o vínculo e o sentimento de identidade com o patrimônio material e imaterial de Bonsucesso.
 
 
[1] Historiadora, associada da AAPAH, coautora do livro “Signos e Significados em Guarulhos: identidade, exclusão e urbanização”.

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