Há cerca de doze anos atrás o projeto de transformar uma antiga casa sede da Fazenda Bananal, inicialmente símbolo de um poder voraz escravocrata, em um Centro de História e Memória das Culturas Negras, entusiasmava os movimentos sociais, intelectuais, militantes, enfim, todos aqueles que lutavam pela igualdade em Guarulhos.
Esse projeto me entusiasmou a escrever um livro sobre essa história que havia pesquisado com afinco. Como todo historiador, que faz história, cabe a pergunta: Onde chegamos? O que deu certo? O que deu errado?
Antes, porém, vou recuperar uma ilustração usada no meu livro para explicar o tema deste artigo.
“Já ficou encantado ao ver a beleza e leveza de uma borboleta em pleno voo? Observamos, porém, que ao apreciarmos essa obra-prima alada, raramente paramos para pensar na grande transformação pela qual passou esse inseto, talvez a mais espetacular metamorfose ocorrida na natureza. De uma pequena lagarta faminta, que nesse período engorda numa proporção exponencial até chegar ao estágio pupal, entrando em um estado de crisálida, ou seja, latente, nesse período de aparente imobilidade, florescerá um lindo inseto alado que, além de embelezar o meio ambiente, servirá a inúmeros propósitos práticos, incluindo a sustentação da vida na natureza.
Com essa figura de linguagem queremos enfatizar a completa mudança de forma, natureza e estrutura pela qual está passando a antiga casa sede da Fazenda Bananal. Inicialmente símbolo de um poder voraz escravocrata, hoje se encontra num período embrionário que produzirá um Centro de História e Memória das Culturas Negras, que esperamos alce graciosos voos ao encontro da igualdade humana.”
O objetivo era dinamizar a pesquisa sobre a história das pessoas que ocuparam esse lugar, contemplar os agentes sociais que colaboraram para a ruptura de representações escravistas e seus resquícios e acima de tudo estimular o aprofundamento de estudos e ações igualitárias.
Pelo estado de abandono em que se encontra a casa, está claro que não houve essa mudança completa, metamorfose, pelo contrário, há o risco iminente da construção ruir. O único progresso foi uma parceria técnica com a UnG para realizar um inventário singelo, utilizando estagiários.
Perguntamos: Onde foi parar o dinheiro reservado para a restauração desse patrimônio importante, que promoveria igualdade? Foi criado um grupo de estudo excludente, chapa branca, que só serviu para adiar a restauração, confundir. Criaram um parque natural que nunca existiu conforme podemos notar na foto abaixo.
Para piorar a situação, o acesso é negado constantemente (veja a reportagem em: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,patrimonio-esta-aos-pedacos-em-guarulhos-imp-,881575). Jornalistas, estudantes, professores, não conseguem visitar ou inspecionar o estado de conservação da casa. O abandono desse patrimônio revela a “seriedade” dos gestores com as políticas de promoção da igualdade, bem como as relacionadas com patrimônios ligados aos historicamente desfavorecidos. Com a palavra nossos representantes, se é que existem palavras que expliquem esses fatos …
* Pós-graduado em história, Cofundador da AAPAH, membro da Academia Guarulhense de Letras, presidente do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico de Guarulhos, autor de vários livros sobre a História de Guarulhos.