Em 1970, a Vila Galvão foi cenário para algumas cenas do filme “Se Meu Dólar Falasse”. A trama conta a história da Bisisica (Dercy Gonçalves), dona de um salão de beleza, que é encarregada de comprar uma estatueta de 15 mil dólares, porém a peça era oca com cocaína dentro. O dinheiro era da madame Veruska (Zélia Hoffman). Os dólares, por descuido, foram parar no lixão.
O depósito onde o caminhão despejou os detritos e o dinheiro ficava na Vila Galvão, ao lado do Rio Cabuçu, o lixão existia mesmo nesta região, embora na ficção o nome do bairro não é citado.
É possível ver o viaduto da Fernão Dias em muitas cenas, a rodovia ainda não tinha sido duplicada. Também vemos apenas uma pista saindo da Praça Santos Dumont sentido São Paulo, embora tenha duas vias em volta da praça.
Os catadores de lixo representados por Zilda Cardoso (Catifunda), Grande Otelo (Tisiu) e Borges de Barro (Comendador) acham o dinheiro e vão trocar aos poucos no Bar no Português (ficção), o estabelecimento ficava entre onde atualmente fica o Habibs e Posto de Gasolina.
Onde hoje é o Comercial Esperança ficava o Banco Brasileiro de Descontos, na frente do estabelecimento uma placa mostra que o dólar valia naquela época 4500 cruzeiros.
O Comendador, um dos catadores de lixo, compra o automóvel do Português do bar. Quando ele sai com o carro para testar o motor, a tomada da câmera mostra a Santos Dumont com árvores ainda baixas (o trem foi desativado em 1965, a linha passava onde está a praça). Em outra tomada com imagem panorâmica, vemos a Igreja São Pedro ao fundo, hoje encoberta pelos prédios.
O bairro da Vila Galvão hoje tomado pelo trânsito quase em todas as horas do dia. Em 1970, nas cenas de “Se Meu Dólar Falasse” parece um local do interior, cheio de casinhas coloridas, algumas ainda estão lá, mas encobertas pelas fachadas dos comércios. Outra imagem que chama atenção é o céu azul que atualmente é encoberto pela poluição.
Alguns moradores relatam a presença dos astros Grande Otelo e Dercy Gonçalves como um acontecimento marcante para a época. O convite para assistir a comédia tem como atrativo ver um pedaço de Guarulhos como era no começo da década de 1970.
[1] Jornalista, responsável pela assessoria de comunicação da AAPAH, coautor dos livros “Guia Histórico Cultural de Logradouros – Lugares e Memórias de Guarulhos” e “Signos e Significados em Guarulhos: Identidade – Urbanização – Exclusão”.