Variedades

ESPAÇO AAPAH – Cerrado guarulhense, nosso patrimônio natural

Você já ouviu falar na Savana Africana? Quando ouvimos falar em Savana logo nos remete uma imagem de uma paisagem com árvores espaçadas com arbustos e plantas herbáceas, em um lugar com zebras, antílopes e leões.
 
E a Savana Brasileira você já ouviu falar? Por incrível que pareça, apesar de ser a Savana com a maior biodiversidade do mundo contanto com, nada mais nada menos, que 14 000 espécies de plantas, sendo que 4 400 exclusivas, possuindo um mosaico de fitofisionomias de floresta, savana e campo, chamado Cerrado, é pouco conhecido pelo público em geral!
 
Sendo considerado um bioma prioritário para preservação mundial, pela sua riqueza de espécies, e devido ao elevado grau de devastação, acima de 75% da sua cobertura original alterada, foi classificado como um Hotspot. Mesmo assim muitos ainda consideram outros biomas, como a Floresta Amazônica com mais urgência para conservação, apesar de os especialistas afirmarem que a o Cerrado precisa de maior atenção, para não presenciaremos uma extinção em massa sem precedentes.
 
No entanto no estado de São Paulo (SP) este quadro de destruição é ainda mais assustador, com a redução de 1.594.974 hectares desse Bioma, correspondendo a 86,9% da cobertura original, entre os anos de 1962 a 1992. Sendo que, atualmente, as áreas de Cerrado no estado contam com apenas 7% da sua porção original. Devido principalmente à agropecuária e ao desenvolvimento urbano.
 
 As ocorrências de Cerrado no Estado de São Paulo, são decorrentes das flutuações climáticas no Quaternário, que tiveram seu ápice em torno de 10.000 anos AP, em um período no qual o clima era mais frio e seco com predomínio do Cerrado aberto. No ano de 7.560 anos AP houve uma maior umidade, notada pelo avanço das florestas de galerias nos vales. Com retorno do período seco entre 7560 e 6000 anos AP, favorecendo a expansão do Cerrado. Contudo de 6000 a 2180 anos AP, os vales voltam a ser novamente cobertos por florestas semideciduais, restando as regiões mais altas como “áreas relíquias” de Cerrado aberto. Esse quadro se alterou entre 2180 e 600 anos AP, com o aumento da umidade, o Cerrado aberto nas áreas mais elevadas se tornaram mais fechados. Sendo que após os 600 anos AP a floresta semidecídua veio paulatinamente se sobrepondo nessa região.
 
Entretanto, análises de isótopos de carbono, registros de pólen e estudos de isótopos de oxigênio em espeleotemas de cavernas, indicaram que no período do último máximo glacial o Brasil esteve sob influência de um clima de monção e que a região sudeste brasileira enfrentou períodos úmidos desde ~22.000 AP, e úmido e quente de ∼15,600 até o presente. 
 
Especula-se que durante as fases glaciais no Sudeste do Brasil predominavam florestas úmidas e que as ilhas de Cerrado encontradas hoje são espécies altamente resilientes e tolerantes às mudanças climáticas, representativas de um Cerrado muito antigo que existiu antes das fases glaciais.
 
Poucos trabalhos foram realizados buscando identificar novas áreas de Cerrado no Estado de São Paulo, inclusive na Região metropolitana. No entanto o pesquisador João Batista Baitello, em 2013 publicou seu trabalho sobre a Ocorrência de Cerrado no município de Franco da Rocha, primeiro trabalho comprovando a ocorrência de enclave de Cerrado na região Metropolitana de São Paulo, no Domínio da Mata Atlântica. 
 
Esse trabalho influenciou uma série de pesquisas que começaram em 2014 e que em 2017 conseguiram comprovar a ocorrência de Cerrado na Cidade de Guarulhos.
 
Através de imagens de satélite e utilização de mapas do meio físico e dados de ocorrência de plantas do Cerrado espalhadas pela Região Metropolitana de São Paulo, foi criado mapas por um Software de computador, com autoaprendizagem, chamado MaxENT, que apontou 4 possíveis áreas de ocorrência de Cerrado no Município de Guarulhos. O Pico Pelado, próximo à Proguaru; o terreno próximo a Chácara do Mackenzie; a área do Parque Várzea do Tietê e a Base aérea de Guarulhos.
 
Foram identificadas consecutivamente, através d uma séries de visitas de campo, espécies indicadoras do Cerrado como a Caviúna e Dedaleira ( Pico Pelado e Machenzie); Algodão do Cerrado e Mutamba (Parque Várzea do Tietê) e Ipê amarelo (Base aérea de Guarulhos) comprovando o que foi apontado pelo mapas de predição revelando o nosso Patrimônio Natural que pertence a Guarulhos a mais de 10 000 anos, sendo todas áreas com um grande potencial para implementação de unidades de conservação podendo preservar nossa identidade natural para futura gerações de Guarulhenses que vão poder conhecer a beleza do Cerrado de nossa Cidade.
   
 
 
 
Marcus é mestre em biologia, especial para o Espaço AAPAH.
 

Posso ajudar?