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ESPAÇO AAPAH – Guarulhos: desenvolvimento desigual e crescimento combinado

A formação urbana de Guarulhos e sua história econômica está intrinsecamente ligada a sua localização Geográfica. A localização de Guarulhos começa a pesar mais intensamente a partir de 1589, com a descoberta de minas auríferas, bem como seu processo de extração, constituindo, possivelmente, a primeira atividade econômica destinada a esta região.
 
Num momento depois e por consequência, o surgimento das questões agrícolas, sobretudo cafeeiras, o fim da escravidão (1888) e o advento em 1850 da Lei de Terras (como ficou conhecida a lei nº 601 de 18 de setembro de 1850, foi a primeira iniciativa no sentido de organizar a propriedade privada no Brasil) contribuíram, para o estabelecimento da terra como capital, transferindo a imagem de riqueza, que antes se concentrava na figura do escravo, para a terra. As terras e, portanto, não mais os escravos, passariam a servir como garantia de crédito e de certa maneira estabelecendo a propriedade fundiária como riqueza e ou reproduzindo oligarquias que outrora iam no escravo um bem de capital.
 
Ainda ao final do século XIX, entra em discussão a implantação da estrada de ferro. Em 1915 inaugura-se a Ramal Guapyra – Guarulhos, o trem da Cantareira (Estrada de Ferro Sorocabana), com cinco estações ferroviárias em território guarulhense (Bairros de Vila Galvão, Torres Tibagy, Gopoúva, Vila Augusta e Guarulhos–Centro). E em 1945, um ramal foi prolongado até a Base Aérea de Cumbica.
 
Mais tarde com o desenvolvimento da industrialização, se vê a necessidade de uma ligação viária mais segura e eficaz no sentido da fluidez de matéria prima e produção entre as duas maiores cidades brasileiras (São Paulo e Rio de Janeiro) , o que leva  à construção da Rodovia Presidente Dutra, em 1951, pelo então Presidente Eurico Gaspar Dutra, em uma tentativa de consolidar um corredor estrategicamente concebido ao plano desenvolvimentista da política brasileira, integrando urbanização e industrialização com a instalação de grandes empresas em sua extensão e entorno.  
 
Nesse movimento de algumas rupturas e permanências, as políticas  voltadas à industrialização na década de 1960 “forçava” o processo de criação de uma infraestrutura aeroportuária que ao mesmo tempo consolidava o parque logístico ligado à industrialização, e fomentava o surgimento de novas indústrias ligadas a esse processo.
 
O Plano Diretor do Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos foi elaborado pela IESA (Internacional de Engenharia S/A) entre agosto de 1980 e janeiro de 1981 e foi aprovado em 1983. O projeto foi idealizado para que o aeroporto pudesse receber a demanda de voos domésticos da Grande São Paulo, com exceção da Ponte Aérea Rio-São Paulo; voos internacionais procedentes da América do Sul; e servir de alternativa ao Aeroporto de Viracopos em Campinas.
 
Em complemento às necessidades de implantação do terminal aeroportuário, neste mesmo Período, a antiga Rodovia dos Trabalhadores, e então Rodovia Ayrton Senna conheceu seus primeiros anos de funcionamento. Pensada para atender uma necessidade histórica, além de aliviar o tráfego na Rodovia Presidente Dutra no trecho São Paulo-Guarulhos, de conectar a capital paulista e o Vale do Paraíba, permitiria o acesso para o Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos.
 
RODOANEL 
O Rodoanel Mário Covas foi especialmente projetado para tornar o trânsito da cidade de São Paulo mais ágil, eliminar o tráfego pesado de cargas de passagem. O trajeto total é de 176,5 quilômetros no entorno da Região Metropolitana de São Paulo, servindo como interligação com as rodovias estaduais e federais e desviando grande parte do trânsito das Marginais Tietê e Pinheiros, sendo seu trecho norte em grande parte na cidade de Guarulhos.
 
FERROANEL
O Ferroanel Norte será um ramal ferroviário de 53 quilômetros de extensão que interligará as estações de Perus, em São Paulo, e de Manoel Feio, em Itaquaquecetuba, em área contígua ao traçado do Rodoanel, passando pela cidade de Guarulhos.
 
O novo ramal permitirá a movimentação de cargas do interior do Estado para o Porto de Santos, bem como a passagem de comboios entre o interior e o Vale do Paraíba. Diante de tudo isso somado a sua História, a Cidade de Guarulhos, sob a ótica industrial, é de fato um dos lugares mais bem localizados, senão for o melhor do país, sendo até hoje uma parte essencial para os fluxos do capital industrial brasileiro.
 
A importância de nossa cidade é tamanha e nela circula tanta riqueza ao ponto em que Guarulhos entre os 5.570 municípios, além do Distrito Federa é o 13º maior PIB do País, ou seja, está entre as 15 mais ricas do Brasil, contudo o que explica esse bom índice andar ao lado de um IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), segundo o IPEA que coloca a cidade em 320ª quando falamos de desenvolvimento.
 
Ficando claro a diferença entre crescimento e desenvolvimento, e o desequilíbrio desses dois pontos tão comuns à realidade Brasileira. Nesse sentido a cidade deve-se perguntar e refletir entre muitas coisas: E as compensações urbanas, ambientais e sociais das grandes obras? Quanto  de nossa localização influencia no agregar de valor nesses produtos que circulam em nossa cidade? Se apropriar da localização privilégio dessa localização apenas por alguns setores não seriam também vender a cidade?
 
Portanto  o fomento  do orgulho em pertencer e morar em Guarulhos, entender pela a sua história, as suas contradições, não é apenas um fetiche ou vaidade. É sim a resistência contra a inferiorização estigmatizada da cidade dormitório, e contrária a perpetuação da lógica de ser eterno entreposto, onde circula-se riquezas e os habitantes apenas colhem uma mínima parte desse estratosférico montante de valor que circula em nossas ruas, avenidas e estradas. Nossa cidade não é mercadoria, tampouco deve ser meio para isso. 
 
Lionel é professor de Geografia da rede publica e privada, membro do Núcleo de Estudos Urbanos da AAPAH. Pesquisador de Geografia local com formação em políticas publicas urbanas pelo instituto Capacidades. Membro do Grupo :  Sociedade civil por um plano diretor democrático para Guarulhos.
 

 

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