Tiago Cavalcante Guerra é mestre em HistóriaSocial, responsável pelo Núcleo de Patrimônio Cultural da AAPAH – Associação Amigos do Patrimônio e Arquivo Histórico, coautor dos livros “Cecap Guarulhos – Histórias, Identidades e Memórias”, “Guia Histórico Cultural de Logradouros – Lugares e Memórias de Guarulhos” e “Signos e Significados em Guarulhos – Identidade – Urbanização – Exclusão”.
O historiador analisa os diversos acontecimentos envolvendo a temática do patrimônio cultural, fala sobre a atuação das entidades da sociedade civil que defendem a cultura e também reflete sobre a atuação do governo.
Acompanhe a entrevista abaixo que fala sobre projetos, acontecimentos e posicionamentos culturais.
Tiago Guerra sendo entrevistado para o Programa Lugares e Memórias de Guarulhos. Ano: 2015; Acervo: AAPAH/Diogo Leite de Carvalho.
Espaço AAPAH – Como se discutir a conservação do patrimônio cultural de uma cidade como Guarulhos que não têm muitos prédios históricos preservados e a economia não é focada no turismo?
Tiago Guerra – É necessário estabelecer políticas públicas de preservação de ordens mais específicas. Estabelecer tipologias do que deve ser preservado e atentar principalmente ao que é urgente. Numa cidade como Guarulhos você deve associar a política de preservação do patrimônio cultural a um projeto de cidade para todos.
Espaço AAPAH – Em qual linha teórica trabalha a AAPAH para definir o discurso pela defesa do patrimônio cultural?
Tiago Guerra – A AAPAH nesse sentido pensa as políticas e ações de preservação do Patrimônio Histórico associadas a uma política de desenvolvimento local, que permita a viabilidade e efetividade das ações. Superando a visão contemplativa e idílica. É necessário que o patrimônio preservado readquira uma função na urbe, integralmente ou parcialmente, para assim garantir a sua identidade no espaço urbano.
Espaço AAPAH – O cidadão comum se reconhece como parte responsável nas escolhas do que é um bem cultural? Quais ações podem ser inclusivas para a sociedade agir em prol da preservação?
Tiago Guerra – O cidadão de maneira geral cobra muito, mas desconhece como funciona ou como se estabelece uma política pública. No caso da preservação do Patrimônio Cultural é ainda mais complicado, pois estamos falando de direitos que são difusos e coletivos, transcendentes, pois falamos daquilo que deixaremos de legado para outra geração. Nesse sentido é fundamental a educação patrimonial desde cedo, começando talvez pelo bairro e comunidades locais, mas concomitante a experiência da cidade.
Espaço AAPAH – Alguns fatos com relevância nacional e local colocaram em pauta a preservação dos prédios históricos, como os incêndios no Museu da Língua Portuguesa e na Cinemateca Brasileira, a morte dentro do Casarão José Maurício e a demolição de duas casas no perímetro histórico de Bonsucesso. Qual leitura você faz destes casos? O que eles dizem sobre a nossa sociedade?
Tiago Guerra – São situações diferentes e cujas responsabilidades também são diferentes. Mas revelam sim o descaso de todos os entes públicoscom o patrimônio cultural. No caso do Museu da Língua Portuguesa mesmo denotada a falta do AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros), podemos ainda atribuir responsabilidade ao acaso ou ao descuido do funcionário que fez o reparo elétrico. Louvável que como um museu virtual e interativo havia um backup sobre todo o material. Devemos ainda ver quanto tempo levará para a restauração do prédio, este sim um pecado. No caso de Bonsucesso pode-se apurar como mais tranquilidade a irresponsabilidade do poder público que autorizou a demolição das duas casas. Revela aqui a falta de diálogo entre as secretarias e a falta de conhecimento da legislação que protege o patrimônio de Guarulhos.
Espaço AAPAH – Como a AAPAH atua na questão educação patrimonial?
Tiago Guerra – A AAPAH desenvolve projetos no âmbito do Ponto de Cultura, procurando envolver a comunidade local e acadêmica. Temos uma atenção especial às crianças e adolescentes, por isso temos iniciativas que visam a promoção do patrimônio histórico para esta faixa etária.
Espaço AAPAH – Quais são as perspectivas para patrimônio histórico guarulhense?
Tiago Guerra – É sempre difícil falar em perspectivas. Quando temos um pouco de otimismo, acontecimentos como o de Bonsucesso vem à baila para derrubar nosso ânimo. Mas somos realistas, entendemos as dificuldades e estudamos saídas. Atualmente, há uma perspectiva boa que é a recuperação do Casarão José Maurício de Oliveira.Estamos confiantes na prefeitura e há uma pressão muito forte da sociedade civil. Isto nos deixa animado. De outro lado, é sempre necessário estar atento às ameaças que surgem de lugares que àsvezes não imaginamos.
Espaço AAPAH – Como fazer que o patrimônio cultural deixe de ser apenas uma discussão de intelectuais?
Tiago Guerra – Investimento na Educação Patrimonial. Tornar acessível às pessoas em geral a necessidade e o porquê de se preservar. Os intelectuais são importantes, pois eles formulam, projetam e ajudam na execução das políticas públicas. Mas é a comunidade que vai dar sustentação e legitimidade a preservação de umpatrimônio.
Espaço AAPAH – Qual deve ser o papel da sociedade, do governo e de entidades como a AAPAH para se efetivar uma cultura de preservação dos bens culturais?
Tiago Guerra –