Quando através da AAPAH buscamos contar a história de Guarulhos objetivamos com que cada cidadão possa ter uma perspectiva do seu tempo neste mundo. Descobrir através da sua trajetória pessoal porque estamos neste momento aqui em Guarulhos, e não no Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas ou mesmo Londres é um exercício salutar.
O primeiro exercício é descobrir sua árvore genealógica, quem são seus ancestrais. A partir dela busque saber quem chegou a Guarulhos e por qual motivo. É interessante saber que não foi aleatória essa escolha, alguma coisa estava acontecendo aqui para que virasse um fator de atração. Conhecer este ponto na sua trajetória pessoal e entender o processo de desenvolvimento da cidade até os dias de hoje nos dá uma grande perspectiva de vida.
É possível aprender muito com a história e através dela se inspirar a um sentido existencial. É profundo mesmo.
Quando de discute a preservação do patrimônio histórico não está se pedindo a conservação de um prédio velho, estamos buscando preservar a nossa memória e com isso a busca da nossa própria referência.
Quando conhecemos nosso lugar ele passa ter sentido, por consequência passamos a valorizá-lo e ao entende-lo, amá-lo. Um princípio básico da cidadania.
Quando produzia o livro “100 Lugares para conhecer em Guarulhos” indaguei aos historiadores da AAPAH: já pensou escrever sobre os 100 maiores Guarulhenses da história? Quem seriam os cidadãos mais ilustres? Quem provocou as maiores mudanças na cidade? Quem são nossos heróis? E anti-heróis? Enfim, será que podemos aprender com estas histórias de vida e o seu tempo?
Com a graça de encontrar um artigo da USP escrito por Manoel M. de Figueiredo Ferraz, trago neste texto um ilustre guarulhense, talvez o maior da nossa história. O nome dele é João Crispiniano Soares, conhecido por nós como Conselheiro Crispiniano.
João nasceu em Guarulhos quando aqui ainda era uma vila. De família humilde aos 11 anos mudou-se com sua mãe para São Paulo a fim de estudar e ter um futuro. Sua mãe trabalhara arduamente, ainda criança trabalhava de dia e estudava de noite. Era um aluno dedicado, “cronistas da época contam que chegava a aproveitar a parca luz de um lampião existente na R. do Carmo para poder estudar suas lições”. Com grandes sacrifícios estudava para os cursos preparatórios da Faculdade de Direito de São Paulo.
Sua origem humilde é creditada ao seu grande caráter. Foi um dos alunos mais brilhantes do de sua época e com muita dedicação se formou-se e ali e inda tornou-se doutor em Direito.
Enquanto jovem não era dedicado a festas até porque estas só se realizavam em casas de jovens da aristocracia. Mas com todo seu esforço conseguiu a ocupar a primeira cátedra de Direito Romano passando ser um dos principais estudiosos do Largo São Francisco.
Tinha grande eloquência e quando se empolgava nas teses sua voz era ouvida fora da Academia. Militou na política através do Partido Liberal que estava se formando e por sua capacidade ocupou importantes cargos políticos no país. Foi vereador e vice-presidente da Câmara dos Biênios de São Paulo. Liderou um movimento jurídico contra as arbitrariedades das leis do Império. Ajudou a reformar o Código de Processo Criminal e defendeu revolucionários de São Paulo que brigaram contra a imposição do imperador em nomear juízes e desembargadores.
Foi presidente das províncias do país Mato Grosso, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
Aqui em São Paulo durante seu governo conseguiu apaziguar os ânimos em anos em dificuldade. Foi o responsável por conclamar os jovens voluntários paulistas a lutarem na Guerra do Paraguai. Seu discurso foi encorajador e a vitória estabeleceu um grande orgulho dos paulistas pela província. Devido as suas conquistas o Imperador o nomeou como Conselheiros de Estado ao lado de figuras tão importantes quanto José Bonifácio. Também fora agraciado com a Comenda da Rosa. Ainda no final de sua vida foi o advogado do Barão de Mauá e o defendeu nas mais importantes questões jurídicas do seu tempo.
Não morreu rico, mas se tornou um dos grandes mestres do Direito Nacional.
Inspiradora esta história? E pra você, quem foi o maior guarulhense da história?
Danilo Ramalho é professor e um dos fundadores da AAPAH. Acesse o artigo completo sobre Conselheiro Crispiniano em: http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/viewFile/67886/70494