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ESPAÇO AAPAH – Monumento a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos

O resiliente monumento rememorativo a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
 
Desconhecimento é a palavra que define a relação que temos com o patrimônio cultural. Mas, por quê? Vivemos numa sociedade movida pela rapidez cotidiana, de indivíduos que centralizam suas forças em si e acabam por tornar o seu arredor efêmero. Não precisamos ir longe para que essa realidade, na prática, sirva de lição. 
 
Rua Dom Pedro II, centro da cidade que já teve o 8º maior PIB do país, a rua mais movimentada, envolvida por frenéticos passos, escaldante em dias de sol, empoçada em dias de chuva, memória viva de tantos acontecimentos mas carente do seu próprio povo.
 
*Bem ali, próxima ao Shopping Poli, há 87 anos, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, já centenária, construída com o esforço de escravos, foi demolida sob o discurso de que esta seria um entrave para a locomoção, pois ficava no meio da Dom Pedro II. Vale ressaltar que nos anos de 1930 estava em voga a política do branqueamento e que a Dom Pedro era palco de algumas festas de origem africana, como a congada e o moçambique. 
 
Em 2007, com Lei Nº 128/07,  foi aprovado o monumento rememorativo que assinalou o local do antigo cemitério de escravos e da igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, o qual hoje infelizmente foi depredado com a demarcação para barracas. Lamentável atitude. 
Mas isso é o reflexo de uma mentalidade rasa e da não-apropriação da cidade, dando vazão aos tomadores de decisões. A partir do momento em que há a apropriação da cidade pela sociedade, há o reconhecimento de uma história local, criando assim novos laços. Se apropriar da cidade é ter a consciência de que a rua é um bem de todos e que é o dever de todo cidadão zelar pelo bem público. Mas cabe também aos órgãos públicos desenvolverem ações que apresentem o Patrimônio Cultural, despertando a consciência do valor de tal. Este, material ou imaterial, permite o entendimento do processo histórico do espaço, possibilitando fazer novas relações para com a realidade do lugar. 
 
A demarcação da igreja é um Patrimônio Cultural brasileiro, pois, segundo o Artigo 216 da Constituição de 1988, entende-se por Patrimônio Cultural brasileiro qualquer bem de natureza material ou imaterial, individuais ou não, portadores de referência à  identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.
 
Guarulhos, beirando os seus 460 anos, ainda possui grandes lacunas em sua história, mas isso pode ser a motivação para que novos pesquisadores adentrem, resgatem e enriqueçam ainda mais a história da cidade.
 
*Baseado no livro “Irmandades da Igreja Nossa Senhora dos Homens Pretos em Guarulhos – Identidade, Cultura e Religiosidade”, do autor Elmi Omar.
 
Larissa é cidadã guarulhense e estudante de Arquitetura pela UNG e História da Arte pela UNIFESP.
 
 

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