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ESPAÇO AAPAH – Resquícios da mineração na região de Bonsucesso

A Associação Amigos do Patrimônio e Arquivo Histórico – AAPAH, em mais uma atividade do Ponto de Cultura realizou uma aula de campo pelas áreas auríferas de Guarulhos, incluindo as regiões do Lavras, São João e Bonsucesso. O público-alvo, professores, alunos universitários, especialistas e demais interessados discutiram com os pesquisadores e professores Cris Ribeiro, Ellen Santana e Lionel Fontanesi sobre os projetos de mapeamento arqueológico, geológico, histórico e geográfico, como o Geoparque Ciclo do Ouro Guarulhos, que busca reconhecimento da Unesco, o PIPAG – Pesquisa Arqueológica de Guarulhos, trabalhos que interdisciplinarmente pode ressignificar a história de São Paulo.
 
Guarulhos sofre com vários problemas que impactam na visão do cidadão sobre o espaço que habita, o professor Lionel levantou a questão da ausência curricular de História e Geografia local e da rasa formação de professores, bem como dos materiais didáticos, a educação contribui na compreensão da identidade do sujeito com o local onde vive, transformando-o no protagonista político de sua região, outro grande conflito que o professor apontou é a falta de retorno dos investimentos empresariais para a população, como exemplo o trecho do Rodoanel, sem falar nos impactos sociais e ambientais que a obra trará. Na minha fala apontei as lacunas de pesquisas sobre muitos períodos históricos da cidade, sendo uma das finalidades do passeio o estímulo a pesquisa da história local por jovens universitários, há muita distorção dentro da história chamada “oficial” da cidade. O professor Cris também refutou a ideia da cidade ser pensada sempre a partir de “ciclos”, como se Guarulhos estivesse unicamente voltada para extração de riquezas, no primeiro momento o ouro e dois séculos depois, areia para fabricação de tijolos, essa ideia é muito limitada para o entendimento da complexidade do que é a cidade.
 
Porém, é sim muito significativo entender que as regiões visitadas até hoje são ricas em recursos hídricos e no passado, um século antes da descobertas de ouro nas Minas Gerais, Afonso Sardinha e Geraldo Correa Sardinha, considerados os primeiros donos de minas de extração de ouro do Brasil. Guarulhos, durante o século XVI e XVII, foi o principal polo aurífero do país segundo trabalhos recentes de arqueologia e a região de São Paulo, antiga capitania de São Vicente, pioneira nesse extrativismo mineral. A hipótese mais aceita é que o final da mineração em Guarulhos se esgota com a descoberta bandeirante de ouro em Minas Gerais, sendo essa área, economicamente revisitada e explorada durante o final do século XIX, com a formação das primeiras olarias, impulsionadas pela mudança de padrão arquitetônico da taipa de pilão para a alvenaria. Visitamos uma das últimas olarias em atividade, da família Valadar, palco cheio para discutir formação dos loteamentos e especulação imobiliária, tendo visto que os resquícios da fábrica fica abaixo da elevação do Rodoanel.
 
Ellen é historiadora, diretora financeira da AAPAH, coautora do livro “Signos e Significados em Guarulhos: identidade, urbanização e exclusão”.
 

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