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ESPAÇO AAPAH – Salas de Milagres: símbolos da fé popular

Como dito no livro “Identidade urbana e globalização: a formação dos múltiplos territórios em Guarulhos”, os bairros do Cabuçu e Bonsucesso impuseram uma importante identidade para os guarulhenses, a história desses locais é marcada pela peregrinação da fé popular baseada no boca a boca dos milagres alcançados que passam da ancestralidade ao novos devotos.
 
As salas de milagres da Catedral Nossa Senhora de Bonsucesso e da Capela Bom Jesus da Cabeça destacam as identidades preservadas da herança indígena, negra e portuguesa, entre a fé oficial e a mistura das crenças populares.
 
Para o pesquisador, José Cláudio Alves de Oliveira, as salas de milagres são os principais ambientes populares de profusão e fruição da ex-votiva. O representante da Universidade da Bahia continua: “da pulsação vital à reação, fluem com suas imagens e escritas, mensagens e informações e, a partir dos ex-votos, atraem observadores numa velocidade que ultrapassa as exposições museográficas.” 
 
Os símbolos presentes na sala de milagre de Bonsucesso são abrangentes em datas e documentação do tempo, há fotos deixadas pelos peregrinos, algumas com datadas da primeira metade do século XX, há imagens de crianças, velhos e animais como símbolos e prova da graças alcançadas. Há também uma infinidade de objetos como instrumentos musicais, estandartes de grupos de cultura popular, velas em formato de partes do corpo, imagens de santos populares.
 
Já no Cabuçu, há imagens de santos da igreja católica. Porém, o que sobressai são as velas com formato da cabeça. Já que umas das versões sobre o nome da capela seria motivada pela cura de uma dor de cabeça, assim até hoje as pessoas vão até o local buscando o milagre para esta parte do corpo. 
 
As duas salas de milagres refletem uma tradição viva nesta Guarulhos que boa parte da cidade desconhece, mas há fiéis que vem de fora para conhecer esses pontos de peregrinação. Em sua dissertação de mestrado sobre Bonsucesso, Maurício Pinheiro cita um levantamento feito pelas placas de automóveis de caravanas e junto aos romeiros que vinham de Bertioga, Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, Mairiporã, Itaquera, Nova Cachoeirinha, São Miguel Paulista, Taboão da Serra, Vila Maria, Vila Mariana, Alto da Lapa, Bairro do Limão, Casa Verde, Olinda (PE), Aparecida do Norte, Bom Jesus dos Perdões, Nazaré Paulista, Mogi das Cruzes, Arujá, Igaratá, Santa Isabel, Guararema, São José dos Campos, Salesópolis, Jacareí, municípios do Sul de Minas Gerais, Mogi das Cruzes, Ribeirão Pires, Biritiba Mirim, São Roque, São Mateus, Suzano e alguns bairros guarulhenses.
 
Os locais estão abertos para visitação e também para receber os fiéis em busca de milagres e curas. Em Bonsucesso, a cura está ligada à terra considerada sagrada pelos fiéis. No Cabuçu, a crença está nas curas da cabeça alcançadas por muitos devotos. Enquanto a cidade cresce verticalmente, a cultura caipira e cabocla continua irradiante.
 
Bruno Leite de Carvalho é jornalista, responsável pela assessoria de comunicação da AAPAH, coautor dos livros “Guia Histórico Cultural de Logradouros – Lugares e Memórias de Guarulhos” e “Signos e Significados em Guarulhos: Identidade – Urbanização – Exclusão”.
 
 

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