O filme "Onde Mora a Esperança" conta a história de um rapaz que queima a mão, mas não sente a dor após perder a sensibilidade nesta parte do corpo. Assim, ele procura ajuda médica e acaba se diagnosticando o mal de hansen. O médico indica uma colônia para tratar a doença.
Essa obra de 1948 traz imagens do antigo Sanatório Padre Bento e o discurso que o Estado utilizava para internar os leprosos de maneira compulsória.
A introdução da obra menciona os idos de 1928, quando homens com membros atrofiados e aspectos físicos medonhos saíam pelas ruas de São Paulo pedindo esmolas. Como isso era uma situação vexatória para um Estado que buscava modernidade, o "humanitário" Emílio Ribas, entre outros especialistas apoiados politicamente decidiram formar colônias de tratamento mais convincentes para uma futura metrópole.
Como se faz jus para qualquer propaganda oficial, o filme não conta a versão da outra parte. Não há relatos da dura perseguição organizada pela Inspetoria de Profilaxia da Lepra. Não se conta as experiências das pessoas que tinham manchas suspeitas do mal de hansen, e mesmo antes de confirmar os exames, eram isoladas da sociedade.
Depois de confirmada a hanseníase, os doentes eram enviados para as colônias, muitas vezes distantes em milhares de quilômetros de sua casa, por esse motivo laços familiares foram perdidos para sempre.
"Onde Mora a Esperança" não retrata a dor dos hansenianos e nem conta o verdadeiro motivo da isolação dos enfermos, quando se instaurou a internação compulsória não havia tratamento eficaz. O Estado queria esconder e isolar a doença, apenas isso.
O único motivo para assistir á obra é por causa das imagens da portaria do sanatório, da piscina, das casas ainda sem muros da rua Leopoldo Cunha, para ver o campo de futebol em perfeito estado. Por mais, não perdemos nada em conhecer o discurso falso de modernidade e a falsa preocupação com os cidadãos enfermos narradas nos treze minutos de filme.
Para quem tiver interesse, o filme é encontrado no Youtube ou na página da AAPAH no Facebook (facebook.com/aapahguarulhos).
[1] Jornalista, responsável pela assessoria de comunicação da AAPAH, coautor dos livros “Guia Histórico Cultural de Logradouros – Lugares e Memórias de Guarulhos” e “Signos e Significados em Guarulhos: Identidade – Urbanização – Exclusão”.