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ESPECIAL – A cada cinco dias, um jovem negro é assassinado em Guarulhos

Os jovens negros são as maiores vítimas de homicídio no município. De 2010 a 2017, dos 1.865 casos de assassinato registrados na cidade, 957 eram de jovens com idades entre 15 e 29 anos idade. Destes, 533 eram negros, ou seja, cerca de 62% dos homicídios. O que significa dizer que um jovem negro é assassinado, em média, a cada cinco dias. 
 
Desse universo de 533 jovens, 507 eram homens. Os dados foram obtidos com exclusividade pelo GuarulhosWeb,  em levantamento realizado pelo Observatório da Igualdade Racial, da Subsecretaria de Igualdade Racial da Prefeitura. 
 
A realidade de Guarulhos reflete a do Brasil. Segundo a Anistia Internacional (AI), só em 2012 56 mil pessoas foram assassinadas no país. Destas, 30 mil tinham entre 15 e 29 anos e 77% eram negras. “A maioria dos homicídios é praticada por armas de fogo e menos de 8% dos casos chegam a ser julgados”, aponta documento da AI.
 
Anderson da Silva Guimarães, subsecretário da Igualdade Racial, acredita que o número é alarmante e está longe de ser superado, já que a violência contra o jovem negro se manifesta muito antes do assassinato e de formas veladas diariamente. 
 
“O racismo hoje não é mais como aquele racismo de 15, 20 anos atrás, em que a injúria racial era o principal mote. A agressão ao indivíduo era o principal fator. Hoje nós temos outro elemento, que é esse racismo estrutural. Esse racismo que é construído dentro das relações sociais”, lamenta o subsecretário.
 
Se nada mudar, até 2021 43 mil adolescentes serão assassinados no Brasil
 
Outra pesquisa, feita em 300 municípios brasileiros pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), revelou que o índice de homicídios entre pessoas com idades entre 12 e 19 anos é de 3,65. Isso significa que, para cada mil adolescentes que completam 12 anos, 3,65 morrem vítimas de homicídio antes de chegar aos 19.
 
“Este valor é elevado, considerando que uma sociedade não violenta deveria apresentar valores não muito distantes do zero e, certamente, inferiores a um. Por outro lado, ele é mais preocupante ainda se observarmos que houve um aumento em relação a 2013 e, ainda mais grave, que o valor de 2014 é o maior da série desde que começou a ser monitorado em 2005”, avaliam os pesquisadores do Unicef.
 
Para a entidade internacional, essa alta incidência de homicídios significa que, se as circunstâncias que prevaleciam em 2014 não mudarem, aproximadamente 43 mil adolescentes serão vítimas de homicídio no Brasil entre 2015 e 2021, e isso apenas nos municípios com mais de 100 mil habitantes. 
 
O estudo apresentado pelo Unicef analisou o impacto dessas mortes em diferentes dimensões como sexo, raça/cor, idade e meio utilizado sobre o risco de morte por homicídio para os adolescentes e concluiu-se que os homens possuem um risco 13,5 maior de serem vítimas de homicídio do que as mulheres, que os negros sofrem taxas 2,9 vezes mais elevadas e que os homicídios por arma de fogo são 6,11 mais prováveis do que por todos os outros meios.
 

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