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ESPECIAL – Aumento de casos de suicídio em Guarulhos põe famílias e especialistas em alerta

Cada vez mais, casos de suicídio têm chamado a atenção de guarulhenses que se deparam com informações divulgadas, principalmente, pelas redes sociais. O assunto é delicado e, via de regra, não divulgado pela mídia, já que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a não divulgação de detalhes sobre os casos por se tratar de um problema de saúde pública complexo, com sérias consequências emocionais, sociais e econômicas, além de incentivar novos casos.
 
Segundo dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), de janeiro a outubro de 2018, as delegacias de Guarulhos registraram 65 casos de suicídio e 33 tentativas. Este número é 38% superior ao de 2017 quando foram registrados 47 casos. No Brasil, a taxa de suicídio aumentou 33%, sendo 20 vezes mais cometido por homens com idade entre 15 e 24 anos, no período de 1980 a 2000.
 
Mas o que explicaria esse aumento?
Para o psicólogo Rafael Trevizoli Neves, diretor científico do Departamento de Psicologia da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de SP), o crescimento pode estar ligado justamente à recomendação da OMS de não se divulgar os casos específicos na imprensa.
 
“Como as causas do suicídio são multifatoriais é difícil apontar um único fenômeno que explique esse aumento. Mas o que permanece unânime entre os especialistas é que o silêncio é o pior inimigo. O receio de que abordar o tema incentiva o ato, ou de que apenas quem tem problemas psiquiátricos recorre ao suicídio, ou ainda de que quem tenta se matar só quer chamar atenção são os principais mitos que nos impedem de ouvir os pedidos de ajudar por trás desse fenômeno”, opinou.
 
Segundo estudos do Centro de Valorização da Vida (CVV, associação civil sem fins lucrativos fundada em 1962), o crescimento da taxa de suicídios tem relação com questões demográficas e problemas sociais que prejudicam o bem-estar de cada um e que estimulam a autodestruição.
 
“Nossa sociedade vive diversas situações de agressão, competição e instabilidade. Campo fértil para que transtornos emocionais se desenvolvam. O principal antídoto para combater essa situação é o sentimento humanitário”, diz trecho do material ‘Falando abertamente sobre o suicídio’, do CVV.
 
Para Neves, evitar o tema com receio de que isso incentive mais casos é um dos principais mitos a ser superado. “Falar abertamente sobre suicídio, disponibilizando os canais de ajuda, é uma oportunidade de ajudar alguém que passa por um momento de sofrimento intenso e que não vê oportunidade de saída que não seja a morte”.
 
O GuarulhosWeb, apesar de receber informações sobre casos de suicídios em Guarulhos, via de regra não faz as divulgações em respeito às famílias e o caráter pessoal e de foro íntimo das vítimas. No entanto, em situações que envolvem interesse público ou comoção social, os casos são reavaliados e até podem vir a ser divulgados, porém com o cuidado de não expor a situação pessoal das vítimas.
 
O que leva ao ato?
Para Rafael Trevizoli Neves, não é possível estabelecer um perfil para o suicida. As causas podem ser variadas e acompanham a pessoa por muito tempo antes da consumação do ato, que é apenas uma última ação dentro de um problema maior.
 
Apesar disso, o especialista cita alguns fatores de risco para o suicídio. São eles: transtornos psiquiátricos (depressão, dependência química, transtorno de personalidade, esquizofrenia), fatores psicossociais (mudanças drásticas na vida como desemprego, aposentadoria, migração, isolamento social, perdas recentes, datas comemorativas, dinâmica familiar conturbada) e doenças e outras condições clínicas incapacitantes (HIV/Aids, câncer, lesões desfigurantes).
 
Por se tratar de um problema multifatorial, os estudos não apontam um motivo específico para o suicídio, porém algumas situações como divórcio/separações, perda de entes queridos, problemas familiares, alterações no status ocupacional ou financeiro, vergonha ou culpa, podem contribuir para o ato.
 
Neves aponta que aspectos socioculturais influem como autorizadores ou favorecedores, como experiências de violência (bullying, agressões na família, violência sexual) e jogos/movimentos coletivos (jogo da Baleia Azul, séries ou filmes).
 
Como detectar o problema?
Rafael Neves diz que não há uma “receita” para identificar quando uma pessoa está pensando em suicídio ou tem tendências suicidas. Entretanto, um indivíduo em sofrimento pode dar certos sinais, que devem chamar a atenção de seus familiares e amigos próximos, sobretudo se muitos deles se manifestam ao mesmo tempo. Sabia quais são esses sinais:
 
– Aparecimento ou agravamento de comportamentos destrutivos, autolesivos ou de manifestações verbais da intenção de morrer
Essas manifestações não devem ser interpretadas como ameaças nem como chantagens emocionais, mas sim como avisos de alerta para um risco real.
 
– Preocupação com a própria morte e suas repercussões ou falta de esperança
As pessoas sob risco de suicídio costumam falar sobre morte e suicídio mais do que o comum. Confessam se sentir sem esperanças, culpadas, com falta de autoestima e têm visão negativa de sua vida e futuro.
 
Como prevenir?
Segundo a OMS, 90% dos casos de suicídio podem ser prevenidos, desde que existam condições para a oferta de ajuda voluntária ou profissional. 
 
No caso de jovens, a relação entre família e educadores é muito importante. “As escolas esperam algumas condutas dos pais e os pais, por sua vez, delegam à escola algumas responsabilidades. Com relação ao suicídio, é imprescindível uma aliança entre essas duas instituições (família e escola), buscando identificar os sinais de alerta”, alerta Neves.
 
Onde buscar ajuda?
Como todo assunto delicado, o suicídio precisa ser abordado de maneira que a pessoa possa se sentir acolhida. “Você não precisa resolver todos os problemas da pessoa, porém deve questionar se ela está pensando em se matar, há quanto tempo e se já sabe como e quando vai fazer isso”, explicou Trevizoli.
 
Segundo o especialista, o questionamento sobre o suicídio, para muitas pessoas, pode colocar essa ideia na cabeça da pessoa. “Mas se você desconfia que alguém quer se matar é porque a pessoa já estava pensando nisso há algum tempo”, pondera.
 
A abordagem do tema deve acontecer de maneira transparente, por meio de conversas francas que objetivam não julgar ou criticar, mas acolher e oferecer ajuda, salientando que não enxergar perspectivas de fim de sofrimento a não ser a morte não é normal.
 
Guarulhos tem 69 Unidades Básicas de Saúde. É possível também ligar gratuitamente para o SAMU (192) ou o CVV (188). Anote os endereços de outros locais onde é possível buscar socorro:
 
CAPS (Centro de Atenção Psicossocial)
CAPS Osorio Cesar
Rua Carutapera, 167 – Gopoúva. Fone: 2472-5496 e 2472-5497
Horário de Funcionamento: Segunda a Sexta-feira das 7h às 19h
 
CAPS Arco Íris
Rua Nova Canaã, 539 – São João/Bonsucesso. Fone: 2085-6596 / 2303-7505
Horário de Funcionamento: Segunda a Sexta-feira das 7h às 19h
 
CAPS AD
Rua Joaquim Miranda, 298 – Vila Augusta. Fone: 2422-0123 e 2414-0240
Horário de Funcionamento: 24 horas
 
CAPS Alvorecer
Av. Santa Helena, 76 – Pimentas/Cumbica. Fone: 2486-0839 e 2486-1623
Horário de Funcionamento: 24 horas 
 
CAPS Bom Clima
Rua Rafael Colacioppo, 80 – Bom Clima. Fone: 2443-1127 e 2408-5415
Horário de Funcionamento: Segunda a Sexta-feira das 7h às 19h
 
CAPS Recriar
Rua Michael Andréas Kratz, 111 – Macedo. Fone: 2440-0336 e 2229-8746
Horário de Funcionamento: Segunda a Sexta-feira das 8h às 18h
 
CAPS Tear
Rua Silvestre Vasconcelos Calmon, 92 – Vila Pedro Moreira. Fone: 2475-1758 / 2409-2200
Horário de Funcionamento: Segunda a Sexta-feira das 7h às 17h
 
CEMEG (Centro de Especialidades Médicas de Guarulhos)
Rua Dona Antonia, 987 – Vila Augusta. Fone: 2472-5499
Horário de Funcionamento: Segunda a Sexta-feira das 7h às 19h
 
CEMEG/Cantareira
Avenida Brigadeiro Faria Lima nº 215 – Cocaia. Fone: 2229-8396
Horário de Funcionamento: Segunda a Sexta-feira das 7h às 19h
 
CEMEG/São João
Rua Taipu, 116 – Jardim São João. Fone: 2279-2724
Horário de Funcionamento: Segunda a Sexta-feira das 7h às 19h
 
CEMEG/Pimentas Cumbica
Avenida Atalaia do Norte, 576 – Jardim Cumbica. Fone: 2461-3281
Horário de Funcionamento: Segunda a Sexta-feira das 7h às 19h
 
Hospitais
HMU – Hospital Municipal de Urgência
Av. Tiradentes, 3.391 – Bom Clima. Fone: 2475-7422
 
HMCA – Hospital Municipal da Criança e do Adolescente
Rua José Maurício, 191 – Centro. Fone: 2475-9688
 
HMPB – Hospital Municipal Pimentas – Bonsucesso
Rua São José do Paraíso, 100 – Bairro Imperial. Fone: 2489-6610
 
Associação Beneficente Jesus, José e Maria
Av. Dr. Renato de Andrade Maia, 1.337 – Pq. Renato Maia. Fone: 2475-7777
 
Hospital Stella Maris
R. Maria Cândida Pereira, 568 – Itapegica. Fone: 2423-8500
 
Complexo Hospitalar Padre Bento de Guarulhos
Av. Emílio Ribas, 1.573 – Jardim Tranquilidade. Fone: 2440-4233 / Pabx: 2468-0966
 
Hospital Geral de Guarulhos
Alameda dos Lírios, 300 – Pq. Cecap. Fone: 3466-1350
 
Hospital Bom Clima
Av. Mariana Ubaldina do Espírito Santo, 140 – Bom Clima. Fone: 2472-4200
 
Hospital Carlos Chagas
R. Barão de Mauá, 100 – Centro. Fone: 2463-5000
 
Hospital Saúde Guarulhos
Rua Dona Antônia, 685- Vila Augusta. Fone: 2475-8800
 

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