Há quase 30 anos, as crianças ganhavam uma série que se tornaria clássica. Em 1994, o <i>Castelo Rá-Tim-Bum</i> entrava no ar na TV Cultura e, em pouco tempo, conquistaria toda uma geração de pequenos telespectadores e também suas famílias. Foi um momento de pura magia com um seriado que ficou cravado na memória de quem o acompanhou. Pensando nesse público que ainda sonha em rever as histórias e os personagens, a emissora preparou o <i>Especial Castelo Rá-Tim-Bum</i>, que será exibido neste sábado, 25, a partir das 22h.
Será um momento de saudosismo, no qual estarão em cena peças fundamentais, como Cao Hamburger, cocriador e diretor da série, e os atores Rosi Campos (Morgana), Cinthya Rachel (Biba), Cassio Scapin (Nino), Fredy Állan (Zequinha), Fernando Gomes (Gato/ Relógio), Alvaro Petersen (Celeste/ Godofredo), Enrico Verta (Mau), Angela Dippe (Penélope), Eduardo Silva (Bongo), Patricia Gaspar (Caipora), Pascoal da Conceição (Dr. Abobrinha), além das Passarinhas Dilma Souza e Ciça Meirelles e as Fadinhas Fafi Prado e Teresa Athayde. Entre as ausências, uma das mais sentidas é a de Luciano Amaral, o Pedro, por questões contratuais.
Um dos criadores do Castelo ao lado de Flavio de Souza, o cineasta Cao Hamburger sabe bem que não há como adivinhar o alcance que um produto terá. "A gente nunca sabe se um trabalho vai ser sucesso, muito menos se vai ser considerado um clássico", reflete o autor, que diz que um sucesso desse tamanho logo no início de carreira poderia se tornar um peso. "No meu caso, não se tornou. Tive sorte de continuar a fazer trabalhos legais."
<b>CASTELO</b>
Para quem não se lembra bem – já faz tempo que o <i>Castelo Rá-Tim-Bum</i> não é reprisado -, o seriado reúne personagens, brincadeiras e histórias destinados ao público infantojuvenil. Nesse castelo de linhas tortuosas, mas muito charmoso, mora Nino, um menino de 300 anos, junto com seus tios Victor (Sérgio Mamberti) e Morgana. Certo dia, o bruxinho que tanto queria ter amigos realizará seu desejo. Usando um pouco de seus poderes, Nino faz com que Pedro, Biba e Zequinha entrem no castelo. Será um dia marcante e, a partir daí, muitas aventuras serão vividas por todos eles. Principalmente quando desponta o Dr. Abobrinha, que planeja diversas formas de tentar conquistar o castelo.
Trabalhar com esse elenco, em especial o infantil, foi um ensinamento para Cao. "As crianças eram mais experientes em televisão do que a maioria dos adultos", comenta. "Luciano Amaral e Cinthya Rachel conheciam muito de TV. Fred Állan, menos, mas ele é fora de série. Cassio Scapin, Angela Deep, Pascoal da Conceição, por exemplo, não sabiam nem que havia três câmeras no estúdio. Eu mesmo nunca havia trabalhado com esse número de câmeras", revela.
Ao todo, o Castelo teve 90 episódios, exibidos entre 1994 e 1997. Cao Hamburger busca na memória momentos marcantes dessa jornada. Segundo ele, a criação do programa "foi bem louca, com muitas mudanças de rumo, mas muito divertida". E destaca a conexão que houve entre ele e Flavio de Souza. "De certa forma, nós nos complementávamos", diz. "Flavio sempre teve uma relação com os contos de fadas e eu, com a cultura pop do cinema e televisão e com a cultura brasileira", avalia.
Mas, para chegar ao formato conhecido hoje, diversas ideias circularam entre eles. "As sessões de criação eram tão produtivas que exageramos e por pouco o projeto não foi cancelado", diverte-se Cao. "Foi por causa dos limites orçamentários que tivemos de concentrar tudo no Castelo. Só então o big bang aconteceu. A partir dessa experiência, aprendi a valorizar e respeitar os limites, sejam quais forem."
<b>SUCESSO</b>
Castelo Rá-Tim-Bum foi um dos marcos da TV Cultura. Chegou a cravar 14 pontos de audiência, algo surpreendente para uma emissora pública. O que propiciou tal feito? Na avaliação de Cao, é complicado apontar um fator. "Na minha experiência, sempre é fruto de uma conjunção de fatores. Um alinhamento de muitos planetas."
O diretor lembra que a TV Cultura, na época, produzia programas infantis de qualidade havia um bom tempo. "O know-how adquirido era sentido nos corredores da emissora. Todos sabiam fazer programas infantis de qualidade", lembra Cao. "Dos câmeras às produtoras, dos roteiristas aos cenógrafos, das secretárias aos diretores de cena e aos executivos. Todos comandados por Roberto Muylaert, diretor-presidente na época, que conseguiu uma excelente parceria financeira com a Fiesp."
"Outro fator são os profissionais envolvidos", continua Cao. "Entre eles, destaco a Anna Muylaert, que coordenou a produção do texto. Fez muito e me ajudou a estruturar os roteiros de forma inovadora e inédita no mundo: uma história convencional, com começo, meio e fim, sendo interrompida frequentemente por quadros dos mais diversos formatos, sem perder o fio narrativo e mantendo a emoção." Outros nomes relevantes foram o figurinista Carlos Alberto Gardin, Silvio Galvão e seus adereços e Jésus Sêda na criação dos bonecos, e suas equipes.
Cao encerra a entrevista ao <b>Estadão</b> lembrando que o <i>Castelo Rá-Tim-Bum</i> lhe deu a "oportunidade de testar o que estava fazendo no trabalho com meus filhos em casa. Antonio e Carolina tinham a idade do público-alvo. Foi um privilégio receber a colaboração involuntária deles e da minha esposa Ana Maria, que é educadora".
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>