Acompanhando o apetite por risco no exterior, na véspera da divulgação da inflação ao consumidor em agosto nos Estados Unidos – da qual se espera nova leitura em moderação -, o Ibovespa subiu nesta segunda-feira 0,98%, aos 113.406,55 pontos, com o terceiro ganho consecutivo colocando o índice no melhor nível de fechamento desde 25 de agosto (113.531,72). Nesta segunda-feira, oscilou entre mínima de 112.304,57 (quase igual à abertura, a 112.307,24) e máxima de 114.159,53 (maior nível intradia desde 18 de agosto), com giro financeiro a R$ 26,4 bilhões na sessão. Em setembro, o Ibovespa avança 3,55%, estendendo o ganho do ano a 8,19%.
O dia foi de avanço distribuído, com ganhos desde o setor de commodities (Vale ON +0,86%) – em sessão marcada por enfraquecimento global para o dólar – a bancos (BB ON +1,26%, Bradesco ON +1,31%, Itaú PN +1,20%) e ações do varejo, com destaque para Magazine Luiza (+9,13%), na ponta do Ibovespa no encerramento, à frente de Ecorodovias (+7,03%) e de Positivo (+4,95%).
No lado oposto, Assaí (-1,86%), Iguatemi (-1,80%) e PetroRio (-1,68%). Apesar do ganho de pouco mais de 1% para o petróleo, Petrobras mudou de sinal no fim da tarde e caiu 0,59%, na mínima do dia no fechamento da ON, e 0,66% (PN), limitando o avanço do Ibovespa.
"Projeções melhores para inflação e PIB em 2022, que têm vindo no boletim Focus, ajudaram hoje o setor de varejo e também bancos, com exposição à economia doméstica. Lá fora, a expectativa favorável para o CPI (índice de preços ao consumidor) nos Estados Unidos, amanhã, traz de volta a estimativa de um aumento menor, de 50 e não de 75 pontos-base, para a taxa de juros americana na decisão do Federal Reserve do próximo dia 21", diz Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos.
Ele acrescenta que fatores de risco ainda pendentes sobre o cenário, como a crise energética na Europa, a possibilidade de uma recessão global em 2023 e a indefinição sobre a política econômica doméstica no pós-eleição, especialmente pelo lado fiscal, recomendam cautela aos investidores. "Há margem para correção", observa.
"O Ibovespa acompanhou hoje o movimento dos mercados internacionais, que têm encontrado espaço para recuperação depois de um período de depreciação com a expectativa de uma forte elevação de juros principalmente nos Estados Unidos. Na ausência de novidades que estressem o cenário, e na véspera do CPI, os investidores estão na expectativa por desaceleração na leitura sobre o ritmo de alta dos preços ao consumidor, de 8,5% para 8%, em agosto", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, referindo-se à expectativa de deflação mensal, ao redor de 0,1%, que resultaria em desaceleração da inflação em 12 meses.
"Há recuperação das commodities, que contribui para a devolução da Bolsa a patamar não visto desde (meados de) agosto, retomada favorecida também por enfraquecimento global do dólar e avanço das moedas de emergentes", acrescenta a economista.
Ela destaca também o corte de preço no gás de cozinha, que favorece o movimento do mercado de correção, para baixo, nas expectativas de inflação para 2022, "já visto no Focus de hoje e que deve se intensificar". "Espera-se também novo corte de preço da gasolina", observa Camila, ressaltando o efeito de inflação mais comportada para ações de setores como os de consumo e construção.
Para Letícia Sanches, especialista em renda variável da Blue3, a queda nas projeções do IPCA e o aumento nas estimativas para o PIB, visíveis no Boletim Focus desta segunda-feira, foram essenciais para que o Ibovespa encontrasse fôlego e desse sequência, nesta segunda, ao rali do fim da semana passada, beneficiando em especial os segmentos de varejo e construção.
"As bolsas de Nova York interromperam, na sexta-feira, uma sequência de três semanas negativas, com crescimento da demanda por ações que ficaram descontadas nessas quedas recentes", diz Letícia, destacando também a expectativa do mercado para a leitura de terça-feira sobre o CPI e o efeito positivo, visto nesta segunda nos mercados da Europa, da queda de preço do gás natural – em dia de fraca leitura sobre a produção industrial no velho continente, em retração acima do esperado.
"Com mais um dia de euro para cima e dólar para baixo, tivemos na Europa as maiores altas do dia, à frente de nosso índice Bovespa", diz Álvaro Feris, especialista da Rico Investimentos. "A expectativa é de que a inflação tenha arrefecido (nos Estados Unidos), mas se esse dado não vier conforme o esperado, os ânimos podem reverter esse apetite a risco que vemos no mercado", acrescenta.