A instabilidade deu o tom aos negócios no mercado doméstico de câmbio na sessão desta quarta-feira, 23, em meio à expectativa pelo texto final da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição. As atenções se voltam, sobretudo, para os debates em torno do valor e do prazo dos recursos que vão permanecer fora da regra teto de gastos, o chamado waiver fiscal.
Com muitas trocas de sinal e oscilação de cerca de sete centavos entre mínima (R$ 5,3462) e máxima (R$ 5,4123), o dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,3744, em baixa de 0,10%. A liquidez foi reduzida, com o contrato de dólar futuro para dezembro, principal termômetro do apetite por negócios, movimentado pouco mais de US$ 11 bilhões. O giro amanhã tende a ser ainda menor, em razão do feriado do Dia de Ação de Graças nos EUA e da estreia da estreia do Brasil na Copa do Mundo do Qatar.
No exterior, a moeda americana trabalhou em baixa firme ao longo de todo o dia, tendência que não foi alterada pela divulgação da ata do mais recente encontro do Federal Reserve, às 16h. Termômetro do desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY caiu mais de 1% e chegou a flertar com o rompimento do patamar de 106,000 pontos. Como esperado, o Banco Central americano acenou com redução de ritmo de alta da taxa de juros a partir de dezembro.
Por aqui, lideranças partidárias chegaram a falar na possibilidade de que a PEC da Transição fosse protocolada ainda hoje. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, veio a campo para dizer que o governo eleito ainda tem o prazo de mais 24 ou 48 horas para discutir e apresentar o texto. Apesar de Gleisi afirmar que as negociações giram em torno do prazo do "waiver", há informação de que integrantes do PT negociam reduzir os valor que vai ficar fora do teto. Com o mercado de câmbio já fechado, o <i>Broadcast</i> apurou com fontes que a nova previsão do PT é protocolar a PEC amanhã.
O diretor de investimentos da Nomad, Celso Pereira, observa que a formação da taxa de câmbio é muito influenciada pelas incertezas do cenário local, como a configuração final da PEC e as apostas para os nomes que vão compor a equipe econômica. "Não parece que o desfecho vai ser bom. Está entre o pior e o menos pior. Não existe qualquer possibilidade de termos superávit primário no ano que vem", afirma Pereira, em relação à PEC.
Por ora, Pereira trabalha com cenário-base em que o dólar permanece rodando entre R$ 5,20 e R$ 5,30, em um ambiente de muita volatilidade. Embora o Brasil tenha uma taxa de juros real muito elevada e seja atraente para operações de carry trade, o diretor da Nomad nota que há risco de uma depreciação mais forte da moeda brasileira se as decisões do governo eleito não trouxerem credibilidade à política fiscal. "Haveria até espaço para um rali dos ativos locais se o quadro fiscal fosse mais consistente, com controle de gastos, mas isso hoje é pouco provável".
Em evento hoje, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a dizer que o rumo da política monetária está conectado ao desenho da política fiscal e seu impacto na trajetória da dívida pública. Nos últimos dias, as taxas de juros futuras deixaram de embutir redução da Selic neste ano e passaram a refletir até apostas em retomada do ciclo de alta.
O Banco Central informou hoje que, na semana passada (de 14 a 18 de novembro), o fluxo cambial foi positivo em US$ 1,951 bilhão, com entrada líquida de US$ 1,044 bilhão pelo canal financeiro. Com isso, o fluxo acumulado em novembro (até o dia 18) passa a ser positivo em US$ 3,841 bilhões, fruto de entrada de US$ 2,169 bilhões pelo canal financeiro e de US$ 1,671 bilhão via comércio exterior.