Após um início de pregão em alta, quando atingiu R$ 5,14 em meio à disputa técnica pela formação da última taxa Ptax de janeiro, o dólar à vista se firmou em baixa no fim da manhã desta terça, 31, em sintonia com perda de fôlego da moeda americana no exterior e passou a tarde oscilando ao redor de R$ 5,08. Com renovação sucessiva de mínimas nos últimos minutos do pregão, quando desceu até R$ 5,0712 (-0,86%) na esteira de máximas do Ibovespa, o dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 31, cotado a R$ 5,0767, em queda de 0,75%.
Com o tombo de hoje, a moeda acumulou baixa de 3,85% em janeiro, mês marcado por valorização expressiva das divisas emergentes, impulsionadas pela reabertura da economia chinesa e apostas em altas menores de juros nos Estados Unidos. Como nas sessões mais recentes, operadores voltaram a relatar entrada de fluxo estrangeiro para ativos domésticos, em especial para ações.
Dados da economia americana divulgados hoje reforçaram a aposta de que o Federal Reserve vai reduzir o ritmo de aperto e anunciar amanhã uma alta de 25 pontos-base na taxa básica de juros, para a faixa entre 4,50% e 4,75%. E já há quem veja possibilidade de o BC americano encerrar o ciclo de alta dos juros em março, dado o arrefecimento da inflação e da atividade nos EUA.
"O índice de custo do emprego nos EUA no quarto trimestre subiu 1% ante o terceiro, ligeiramente abaixo do esperado. É mais um dado que corrobora a ideia de que o Fed pode optar por elevar os juros em 25 pontos amanhã", diz a economista-chefe da Coface para América Latina, Patrícia Krause.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – chegou a operar em alta pela manhã, mas perdeu força à medida que investidores digeriam indicadores dos EUA e, quando o mercado local fechou, era negociado aos 102,105 pontos, em baixa de 0,17%.
"Os indicadores de hoje são um bom balizador para a reunião do Fed, que, depois de uma alta de 25 pontos amanhã, pode até parar de subir em março e sinalizar que não vai mexer mais nos juros em 2023", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.
Segundo analistas, o provável desenlace da chamada "super quarta", com decisão de política monetária aqui e nos EUA, sustenta uma visão positiva para o real. À desaceleração da alta de juros pelo Fed deve se somar não apenas a manutenção da taxa Selic em 13,75% como um tom ainda duro do colegiado no comunicado, dada a deterioração das expectativas de inflação reveladas pelo Boletim Focus e a indefinição na área fiscal.
Declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que participou hoje de encontro na Federação Brasileira de Bancos (Febraban), sobre reforma tributária e contas públicas foram bem recebidas. O ministro pregou necessidade de reduzir o déficit primário neste ano, com eventual recomposição de receita via reoneração de combustíveis, e voltou a prometer divulgação de nova regra fiscal para abril.
Em contraposição ao desejo de Haddad, na primeira semana do ano, o governo publicou uma medida provisória prorrogando a isenção de impostos sobre álcool e a gasolina até dia 28 de fevereiro. O ministro disse que desde 1º de janeiro não discute o tema da reoneração de combustíveis. "Não ouvi de Lula novidades para a Fazenda", disse.
Para o operador de câmbio Hideaki Iha, da Fair Corretora, os estrangeiros parecem menos preocupados que os investidores locais com a incerteza no campo fiscal e a possibilidade de mudança da meta de inflação, sob ataque do presidente Lula. "Temos muitos problemas para serem resolvidos, mas não podemos esquecer que Selic a 13,75% estimula arbitragem de juros", diz Iha, para quem o dólar pode até operar pontualmente abaixo de R$ 5,00, caso haja continuidade de fluxo estrangeiro e o Fed "fale o que o mercado está querendo ouvir" amanhã.